Rony Lopes: «Gostaria de voltar ao Benfica»
Na antecâmara do primeiro duelo oficial entre Benfica e Nice, Rony Lopes reflete sobre o passado ao serviço das duas equipas. Nove épocas depois de ter saído da formação dos encarnados com apenas 15 anos, Rony representou os gauleses em 2020/21. O extremo, contratualmente ligado aos turcos do Alanyaspor, antecipa um duelo equilibrado entre águias portuguesas e francesas na 3.ª pré-eliminatória da UEFA Champions League.
Em entrevista a A BOLA, o extremo luso revela o carinho que ainda nutre pelas águias, admite estar a viver uma nova fase na carreira e elogia o antigo treinador Bruno Lage.
-Sai do Benfica para o Manchester City em 2011 com apenas 15 anos. Porque é que decidiu sair tão novo?
Na altura não era como hoje em dia, era mais difícil entrar na primeira equipa. Os jovens não tinham tanta oportunidade. E nesse caso, aos 15 anos chega uma proposta do Manchester City, que estava em crescimento, um ótimo projeto. Era muito interessante para mim ter uma experiência nova. Na altura vi com muito bons olhos um novo desafio na minha carreira e decidi aceitar. E sinceramente foi muito bom para mim.
-De que forma?
-Conheci um tipo de futebol diferente. No Benfica estávamos habituados a ganhar todos os jogos, praticamente. Éramos a melhor equipa da nossa idade. No Manchester City, era um futebol mais físico, todos os fins de semana era puxado. E a verdade é que aprendi bastante. Fora de campo, aprendi outro idioma, não sabia nada de inglês e aprendi lá
-Na segunda época pelo clube marca na estreia pela equipa principal [contra o Watford a 5 de janeiro de 2013]. Recorda-se desse momento?
-Quando voltei de férias da primeira época ligaram-me para ir fazer a pré-época com a primeira equipa. Tinha 16 anos. E logo aí eu já fiquei surpreendido, mas muito contente. No decorrer dessa época, em janeiro, poucos dias depois de fazer os 17 anos, que fui convocado para o jogo da Taça de Inglaterra. Nos últimos 5 minutos, o Mancini mete na cabeça que tenho de jogar e tive a sorte de fazer esse golo que até hoje está na história do clube.
-Alguma vez esteve em negociações para regressar ao Benfica?
-Infelizmente não houve nenhuma conversa até agora.
- Mas sonhava voltar?
- Gostaria muito. Ajudaram-me bastante na minha formação, passei cinco anos lá, é um clube pelo qual tenho bastante carinho e gostaria sem dúvida de voltar algum dia.
-Partilhou balneário com bandeiras da formação do Benfica como Bernardo Silva e João Cancelo. Que memórias guarda desses tempos?
-Não sou da geração deles, sou um ano mais novo, só que jogava muitas veze um escalão acima. Tive bastante tempo com estes jogadores, sempre tive uma boa relação. O Cancelo era uma personagem, uma pessoa muito engraçada, era daqueles chorões, que se não passas a bola começam a reclamar. Mas é uma pessoa top, dou-me muito bem com ele até hoje. Não somos de falar todos os dias. O Bernardo Silva, na altura, era um jogador que, por ser pequeno não contavam muito com ele, mas já se via que tinha muita qualidade. Tanto que jogámos o europeu sub-19 juntos. Depois de tantos anos, guardamos uma boa amizade, é o que valorizo mais.
-No último ano antes de sair para o Manchester City [2010/2011] foi treinado por Bruno Lage. Achava que iria chegar onde chegou?
Ele tinha potencial de chegar onde chegou. Lembro-me sempre que ele dizia quando éramos miúdos para ouvir o som da bola, gostava do passe tenso. Era um treinador em quem via potencial desde o início. Sempre foi muito elogiado por todos, aprendemos bastante com ele. Já imaginava que poderia acontecer e, sinceramente, acho que merece e fico muito feliz por ele.
-O Benfica vai defrontar o Nice na qualificação para a fase de liga da UEFA Champions League. Considera que alguma equipa tem vantagem à partida?
-Não, acho que vai ser equilibrado. O Benfica é das melhores equipas em Portugal, tem um nome muito grande em todo o mundo. Sabemos perfeitamente disso. Os adeptos, as condições, tudo o que envolve o Benfica é muito grande. Mas em termos de equipa, é futebol, O Nice tem um plantel jovem, muito bom. O futebol francês é mais físico, mais agressivo. Estamos a falar de duas grandes equipas. Vai ser um jogo bem disputado, partem os dois em pé de igualdade. Acho que vai ser bonito de se ver.
-Representou o Nice em 2020/21. Que recordações é que tem dessa época?
A nível pessoal, foi a época mais difícil da minha carreira. Pude reencontrar o Patrick Vieira, que foi meu treinador no Manchester City e que me ajudou bastante num momento complicado. O clube deu-me tudo o que eu necessitava. Acho que poderia ter sido ainda melhor do que foi. Mas gostei muito da minha passagem pelo Nice.
-Qual é o estatuto atual atual do clube?
-É um clube que está a crescer bastante a cada ano. Estão sempre a lutar pelas competições europeias. É um clube que tem muito boas condições. A cidade desportiva é muito boa e o estádio também. Ter uma boa cidade também ajuda. É um clube que nestes últimos anos tem crescido bastante. E demonstra estar sempre na luta pelas competições europeias, com muito bons jogadores, de muita qualidade. E é grande clube em França e está a crescer cada vez mais.
-Partilhou balneário com o Dante que aos 41 anos ainda joga. É uma referência no Nice?
-É incrível. Infelizmente não tive tanta sorte, porque no ano que eu estive lá o Dante logo nos primeiros jogos teve uma rotura de ligamentos e acabou por ficar quase a época toda de fora. Mas partilhávamos muito, damos-nos muito bem até hoje também. É uma pessoa espetacular e é um exemplo como capitão e como profissional. Aos 42 anos continua a jogar em alto nível e sequinho, todo fibrado. E é uma pessoa que eu tenho muito carinho e ajudou-me bastante. Para mim é um exemplo. Desde que saí houve uma grande mudança. A maioria do pessoal que estava na minha altura, já saiu.
-Já sabe onde vai jogar na próxima época?
-Estou de volta à Turquia agora. Estamos aqui a fazer um estágio em Kayseri. no Alanyaspor. Vamos ver o que é que vai acontecer, ainda tenho aqui mais um ano de contrato. Só quero jogar futebol. Ir para o Farense na última metade da época passada foi muito bom para mim porque não jogava. O Farense ajudou-me a recuperar o amor por jogar futebol.
-Gostava de voltar?
-Portugal é sempre Portugal, mas não sei. Gostei bastante de ter voltado. Mas sabemos como é o futebol.
-Como é que foi regressar nos últimos dois anos pela porta do SC Braga [2023/24] e Farense [2024/25] ?
-Foi muito bom. Tive sempre o desejo de voltar a Portugal, porque fui muito cedo para fora. Acabei por ter a sorte de conseguir fazer isso. Não há nada como viver e jogar no próprio país.
-Ao serviço do Farense acaba por descer…
-Sinceramente, para mim, a nível pessoal, foi bastante positivo, porque eu já levava algum tempo sem jogar regularmente e no Farense encontrei um grupo muito bom, uma equipa técnica muito boa também, que me deu essa oportunidade, estava a sentir falta disso. Claro que não terminou como gostaríamos, infelizmente foi difícil de aceitar, porque nós tínhamos uma boa equipa e o Farense merece estar na primeira divisão.