FPF e VT Markets: a parceria que ninguém consegue explicar
Esta semana ficámos a saber que a FPF fez uma parceria com a plataforma de trading VT Markets com um slogan ambicioso: 'Invista na excelência'. A FPF utilizou ainda uma comparação entre a «forma credível e de alto desempenho» como opera a plataforma VT Markets e a capacidade de Portugal em produzir futebolistas de classe mundial. A forma como foi apresentada, faz com que esta parceria pareça ser perfeita. Contudo há um pormenor que não se pode ignorar: a VT Markets não tem licença para operar em Portugal nem na União Europeia!!
Ignorar os alertas
E sta parceria, anunciada com pompa e circunstância, causa uma enorme estupefação a quem lida diariamente com corretoras e com os mercados financeiros. Quem trabalha neste setor sabe que os reguladores têm uma enorme preocupação em salvaguardar e proteger os consumidores e investidores, garantir a estabilidade e a eficiência do mercado e prevenir riscos. Como tal, estabelecem um conjunto de pressupostos que têm de ser alcançados pelas entidades que querem ter uma licença ativa num país da União Europeia. Ora é aqui que surge o primeiro entrave. A FPF assinou a parceria no dia 15 de outubro de 2025. Nesta data já eram públicos os alertas dos reguladores do Reino Unido, Dinamarca, Bélgica e Itália. Todos eles alertaram os investidores para não investirem através da plataforma VT Markets, sendo que o regulador do Reino Unido alertou, inclusivamente, para o risco de fraude. Aqui surgem as primeiras questões: A FPF sabia destes alertas? Se sim, preferiu ignorá-los? Ou será que entendeu que as licenças na Austrália ou na África do Sul são suficientes para legitimar uma operação totalmente irregular na Europa?
FPF: Resposta inconclusiva
A FPF teve a necessidade de emitir um comunicado para responder às dúvidas colocadas pela comunicação social. Nesse comunicado, refere que esta parceria «cumpre escrupulosamente os requisitos legais e de compliance». Aqui a questão que não se percebe é que requisitos serão estes, que contrariam o entendimento dos supervisores europeus, que têm como principal função proteger os cidadãos de riscos financeiros. Será que o departamento de compliance da FPF tem mais experiência, dimensão, capacidade e conhecimento que os compliances dos supervisores europeus do Reino Unido, Dinamarca, Bélgica ou Itália?
FPF: Marca global
Esta questão ganhou novos contornos quando se verificou que existe uma página da VT Markets em português, com imagens de Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Félix e Cancelo. Com poucos cliques qualquer utilizador pode abrir uma conta de trading rapidamente. Será que os jogadores em causa autorizaram a exploração da sua imagem para este fim? Os jogadores sabem que esta plataforma não está licenciada na Europa? Reconhecendo a dimensão da sua marca, será que FPF tem a noção que esta parceria não se limita ao Médio Oriente ou ao Norte de África (conforme mencionado no comunicado), mas a todos os consumidores portugueses e europeus?
FPF: Os grandes riscos
A FPF tem estatuto de utilidade pública desportiva e rege-se pelas leis portuguesas. Tem um peso mediático e uma responsabilidade social que extravasam as suas funções no futebol em Portugal. Ao concretizar esta parceria está a carimbar a VT Markets (que não está autorizada a operar na UE) com o seu selo de credibilidade. Em simultâneo, poderá estar a expor os fãs e seguidores da FPF a uma plataforma que contem riscos indesejados aos olhos dos reguladores europeus. Aqui, mais uma vez, ficam perguntas sem resposta: Se os consumidores aderirem a esta plataforma por confiar na FPF, qual é a entidade a quem estes devem recorrer para defender os seus direitos e interesses? E a quem devem recorrer para os informar, esclarecer dúvidas ou para intervir em casos de práticas abusivas? Qual o mecanismo de proteção dos investidores em caso de insolvência? É o da Austrália? Da África do Sul? O mecanismo português não será de certeza porque, conforme foi referido anteriormente, esta plataforma não tem licença para operar em Portugal. Por fim, existe outro risco importante e que a FPF possivelmente deve ter tido em conta, que é o risco reputacional. Neste caso, a VT Markets traz consigo todo um conjunto de riscos e receios que estão na origem dos alertas de vários reguladores europeus.
FPF tem de ser exemplar
A FPF é uma instituição que tem um enorme peso social. Por esse motivo, tem de tentar ser um exemplo em tudo o que faz. Nesta parceria a FPF não foi exemplar. Ficam muitas questões por responder, embora não me pareça que exista muito interesse em esclarecer a opinião pública. Este caso serve apenas para começar a concordar com a afirmação de Pedro Proença na sua tomada de posse quando referiu que «vamos fazer o que ainda não foi feito». De facto, o que FPF fez neste caso, nunca tinha sido feito…