Entre o relvado e as filmagens: tudo se vê, nem tudo é crime

'Direito ao golo' é o espaço de opinião quinzenal de João Caiado Guerreiro, jurista

Na UEFA Europa League o Estugarda defrontou os Go Ahead Eagles. Um jogo em modo morno que apimentou quando, durante uma confusão entre os jogadores das duas equipas, Edvardsen gozou com o nariz de Angelo Stiller. Alguns dos caros leitores leram sobre o caso, outros procurarão na internet o episódio e o dito nariz, igual a tantos outros, e diferente de outros tantos.

Depois do jogo Wesley Sneijder, antigo internacional neerlandês, deixou duras críticas ao jogador do Estugarda, acusando-o mesmo de bullying. Mas será?

Nos relvados de futebol passam-se muitas coisas que não são visíveis ou audíveis. É uma competição e vale muita coisa, dentro das regras, para desconcentrar ou desmoralizar o adversário. Gozar com o nariz de um jogador, insultar ou mesmo intimidar fisicamente acontece. Não é bonito, mas é a realidade.

Agora, caro leitor, tem a lei desportiva portuguesa, e a penal, resposta para o suposto bullying? Não. Pensemos: com os telemóveis a filmarem tudo, há cada vez mais comportamentos dentro do jogo que são conhecidos. E analisados à lupa. É uma VAR não oficial do comportamento dos jogadores, que permite juízos de valor, críticas e julgamentos populares!

O que não podemos descurar é que julgar a sério custa caro e não faz sentido as autoridades, mesmo as desportivas, intervirem num caso como este. As ações ficam com quem as pratica. E sim, gozar com características físicas dos outros é feio, muito feio. Mas é só isso, feio.

Em Portugal, bullying não é crime por si. E não precisa de ser. Para isso já existem crimes como injúrias ou ofensas corporais. Repito as vezes que forem precisas: os tribunais não podem ser usados para bagatelas. Edvardsen devia pedir desculpa. Ele próprio disse que o faria se encontrasse Angelo Stiller. Mas a má criação não é crime, apesar de poder ser infração disciplinar. Mesmo assim, neste caso, não creio que se justifique a intervenção das autoridades desportivas.

As dores nas costas mais caras da Turquia

Rafa, antigo jogador do Benfica, tem dores nas costas e não pode jogar e treinar com os colegas do Besiktas. O jogador quer, aparentemente, sair do clube turco, mas o clube comunica que após vários exames não foi revelada qualquer patologia que explique essas dores.

O antigo internacional português reafirma que as dores são reais, ou seja, um imbróglio. Em Portugal — desconheço as leis desportivas na Turquia — o jogador tem o dever de «prestar a atividade desportiva para que foi contratado (…)», com «aplicação e diligência».

Agora, analisemos de novo: com dores? Como já vimos com o dito caso Gyokeres, os jogadores podem alegar tudo o que quiserem para não comparecer ao trabalho para o qual são muito bem pagos. Em Portugal, como em todo o mundo, os clubes acabam normalmente por tentar encontrar uma solução. Vamos ver o que acontece desta vez porque, como diz o povo, quem tem as dores é que as sente.

O Direito ao Golo desta semana — escrevo antes do dérbi —, vai para o Vitória de Guimarães. Fez justiça  ao cognome conquistadores, vencendo um dragão, que tem estado em grande forma, por 3-1, na casa deste. E para Abel Ferreira, no Brasil. Este ano não ganhou, mas em cinco anos venceu 10 grandes títulos.