Diogo e André: muito mais do que futebol
Diogo e André. Pensamos neles desde que a trágica notícia nos chegou. Tivemos de reagir a ela com tudo o que nos ensinam nas escolas de jornalismo: confirmar, informar, tomar decisões que vão impactar as pessoas que nos leem. Mas as emoções estiveram sempre cá: também ficámos em choque, tristes, a pensar na sorte da vida e na certeza da morte. Damos abraços mais apertados nestes dias, sabendo que as notícias não vão parar e que os grandes jogos, as grandes conquistas e figuras do Desporto vão continuar.
Mas esta história não é sobre nós.
A dor da família Silva é nesta altura indescritível, inimaginável e incomparável. O Diogo e o André eram deles, mesmo que a profissão de ambos e o sucesso a grande escala do primogénito os tenham tornado conhecidos por todos. Se há algum (pequeno) conforto que possam ter nas reações à escala mundial, com palavras tão especiais sobre os seus meninos, não sabemos, mas esperamos que sim. O vazio chegará daqui a uns dias, semanas, meses, anos. O mínimo que a família do futebol deverá fazer é não os esquecer.
Mas esta história não é sobre futebol.
Vimos uma fotografia de dois adeptos em Anfield, que mostra outra dimensão: um com a camisola do Liverpool, outro com a do Everton, a caminhar juntos para as homenagens que espontaneamente por lá se fizeram desde logo. São rivais, Diogo Jota até marcou o golo da vitória no último dérbi (o último da sua carreira, da sua vida, como é possível?). O que interessa isso agora? Nada. Nunca caminhem sozinhos.
An Everton and Liverpool fan walking together to lay down flowers this morning at Anfield.
— ESPN FC (@ESPNFC) July 3, 2025
It's bigger than football. pic.twitter.com/WwwQLXHzXp
Vimos um cartaz no Espanha-Portugal do Euro feminino, na Suíça, com a frase: «Muito mais que futebol». No fundo é só isso. É por causa do futebol que as mortes do Diogo e do André tiveram todo este impacto para o mundo, mas ninguém pensou muito em futebol nas últimas horas. «Foi um dia terrível para jogar à bola», escreveu Jéssica Silva, depois dessa partida. «Nunca pensei que existisse algo que me fizesse ter medo de voltar ao Liverpool», disse Salah, quando se aproxima a pré-época para a qual Diogo Jota se dirigia. À hora a que escrevo, não sei se Pedro Neto irá jogar durante a madrugada no Mundial de Clubes, mas já sei que o seu treinador, Enzo Maresca, está do lado certo: «É uma decisão completamente dele, cabe-lhe a ele decidir e vamos apoiá-lo. Qualquer decisão que ele tome é a correta.»
Porque esta história é sobre o Diogo, o André e todos os que vão sentir a sua falta.
Que os abraços sejam apertados, que o conforto lhes vá chegando e que tenham todo o apoio possível.