Sofiane Sehili andou quatro horas na floresta antes de se entregar às autoridades russas. Foto Instagram Sofiane Sehili
Sofiane Sehili andou quatro horas na floresta antes de se entregar às autoridades russas. Foto Instagram Sofiane Sehili

Ciclista que partiu de Lisboa atrás de recorde lembra prisão na Rússia: «Só vi o céu uma vez em 51 dias!»

O francês Sofiane Sehili esteve detido durante 51 dias na Rússia por atravessar ilegalmente a fronteira com a China e ainda pagou uma multa de 542 euros. Partiu de Lisboa atrás de um recorde do Mundo e acabou com uma história assustadora

O ciclista francês Sofiane Sehili, que esteve detido durante 51 dias na Rússia por atravessar ilegalmente a fronteira com a China, quando tentava bater o recorde mundial da travessia euroasiática, já está em casa e contou aos media a sua aventura que chegou a ser assustadora.

A empreitada de Sehili, de 44 anos, começou no início de julho em Lisboa, com o objetivo de bater um recorde de ultra ciclismo e a jornada levou-o até Vladivostok, no extremo leste da Rússia, onde chegou no início de setembro. Impedido de atravessar a fronteira legalmente, o que já tinha tentado por duas vezes, decidiu arriscar num percurso pela floresta.

Ao fim de quatro horas, porém, e quando a noite caiu, o ciclista achou melhor regressar e entregar-se às autoridades, alegando que se tinha perdido. Só que a justificação não foi aceite e acabou detido.

«A noite estava prestes a cair e eu disse a mim mesmo que tudo isto já tinha durado tempo suficiente, que não era muito inteligente tentar fazer isso de qualquer maneira», admitiu o francês, que já chegou a França.

«Fui um pouco ingénuo ao acreditar que as autoridades russas me enviariam relativamente rápido para a China», admitiu.

Com a guerra com a Ucrânia e a tensão permanente, outra coisa não seria esperado. «Apreenderam o meu GPS, o meu telemóvel, as minhas câmaras, analisaram tudo, e eu não consegui mentir e dizer que tinha sido sem querer», contou já em solo francês, onde aterrou há três dias.

Foi libertado no dia 23 de outubro, condenado ao pagamento de uma multa de cerca de 540 euros, 50 mil rublos, depois de quase dois meses numa cela com mais seis reclusos. «Passei uma semana em estado de choque, extremamente ansioso, a tentar habituar-me à detenção e ao confinamento», confessou o ciclista à rádio RTL. Apesar de considerar que foi tratado de forma correta, as condições eram duras, sendo a falta de sono, devido à partilha do espaço, o maior desafio.

Sehili admitiu a dificuldade em lidar com o impacto psicológico do encarceramento. «É muito difícil, porque o que me move no dia a dia é estar ao ar livre, sentir o vento. É por isso que ando de bicicleta, para estar na natureza. Durante 51 dias, só vi o céu uma vez», recordou.

Esse momento aconteceu a caminho de um encontro com a cônsul honorária de França em Vladivostok. «Para lá chegar, tínhamos de atravessar um pequeno pátio. Nesse dia, estava bom tempo. Aproveitei para pedir se podia esperar dois ou três minutos lá fora, ao sol, a olhar para o céu antes de voltar para a cela. O guarda permitiu», disse.

Durante a detenção, o único contacto com a família era feito através de cartas semanais. Recebido no aeroporto pelos seus familiares no domingo, Sehili descreveu a libertação como o fim de um pesadelo. «A partir do momento em que saí livre do tribunal, disse a mim mesmo que era o fim do capítulo mais sombrio da minha vida», concluiu o atleta, que arriscou uma pena de dois anos de prisão.

A aventura do francês começou a 1 de julho e passou por 17 países e pretendia fazer emlhor do que o alemão Jonas Deichmann que completou o percurso euroasiático em 64 dias, 2 horas e 26 minutos. Não conseguiu, mas ficou com uma história com final feliz para contar aos netos.