Análise: o dérbi dos erros não forçados
O dérbi eterno desta sexta-feira entre Benfica e Sporting terminou com um empate a um golo. Os dois remates certeiros foram semelhantes na origem (erros não forçados), mas distintos no contexto.
O golo do Sporting (Pedro Gonçalves, 12')
— Quando aos 11' 35'' Dedic endossou a bola para Trubin, Pedro Gonçalves identificou o passe à retaguarda como gatilho de pressão e direccionou-se para o guarda-redes ucraniano do Benfica;
— Ao fazê-lo, teve como preocupação inicial fechar a linha de passe para António Silva que, entretanto, havia baixado sobre a meia direita para ser linha de passe segura fora do corredor central;
— Simultaneamente, Barrenechea baixou para ser opção vertical de ligação à entrada da área, sem se aperceber que, uns metros mais atrás, Hjulmand estava à espera de ler o corpo do argentino para perceber se valia a pena ou não saltar na pressão sobre ele;
— Trincão, que começou a derivar da meia direita para dentro a partir do momento em que Dedic atrasou a bola para Trubin, dividiu espaço entre Barrenechea e Otamendi, ainda que mais atento a Enzo do que a Nico;
— Essa aproximação mais centralizada, fruto do centro do jogo estar momentaneamente sobre o corredor central, foi o suficiente para criar dúvidas em Barrenechea quando solicitado pelo seu guarda-redes;
— Tanto que a receção, em vez de orientada para dentro, foi (des)orientada para fora, numa tentativa ingénua de enganar o adversário que pudesse estar no seu encalço e a contar com o domínio de bola para o lado do pé dominante;
— Porém Hjullmand, inteligente e astuto, esperou pelo momento certo para atacar Enzo, roubá-la e assistir Pedro Gonçalves para o golo inaugural;
— Apesar da má recepção de Barrenechea, a meu ver, o maior responsável pelo golo leonino foi Trubin;
— O guardião encarnado não percebeu que o homem livre mais capaz de dar sequência ao momento de organização ofensiva era Otamendi sobre a meia esquerda, sem qualquer tipo de pressão.
O golo do Benfica (Sudakov, 27')
— Se o golo do Sporting teve origem num erro não forçado do Benfica aquando da sua organização ofensiva, o golo encarnado nasceu de um erro não forçado dos leões em organização defensiva;
— Após recuperação de bola em zona adiantada, Otamendi abre o jogo e solicita Aursnes sobre o flanco direito;
— Quando o norueguês domina a bola e passa a ver o jogo de frente, Maxi Araújo prepara-se para saltar sobre ele, tendo Dedic entre si e Morita;
— É possível ver Pedro Gonçalves a dar indicações ao nipónico para ter atenção ao lateral do Benfica quando Aursnes ainda está na posse do esférico;
— Ao ser pressionado pelo lateral leonino, o n.º 8 encarnado passa o esférico a Richard Ríos, o qual, tendo em conta a distância para a linha média defensiva do Sporting, fica com bola descoberta;
— É precisamente com bola descoberta que Morita toma a pior decisão possível e procura condicionar o colombiano, abrindo espaço para o passe de ruptura vertical que encontrou Dedic na cratera aberta pela decisão e pelo comportamento do n.º 5 do Sporting;
— A partir do momento em que decide abandonar a cobertura defensiva que estava a ser feita com Pedro Gonçalves e a Maxi Araújo, Morita desprotegeu a última linha da sua equipa, que estava preocupada com Leandro Barreiro e Pavlidis (3 vs 2 sobre o corredor central);
— Maxi Araújo, atento à bola e incapaz de acompanhar o movimento de Dedic, foi batido facilmente e não arriscou cometer falta dentro da grande área;
— Perante o cruzamento do lateral bósnio, a linha defensiva leonina não teve o melhor comportamento colectivo. Houve demasiada preocupação com o primeiro poste, o que acabou por libertar espaço para a entrada de Sudakov ao segundo poste.
Em suma, dois erros não forçados resultaram nos dois golos de um dérbi pouco interessante e que deixa o FC Porto perto de uma liderança ainda mais isolada e confortável.