Afonso Jesus visitou A BOLA e falou da satisfação por ter alcançado o título nacional de futsal. Foto: André Carvalho

Afonso Jesus: «Sentíamos no balneário que este ano era do Benfica»

O capitão das águias visitou A BOLA e trouxe o troféu de campeão nacional de futsal. Em entrevista, fala da alegria dos últimos anos e dos sonhos de futuro

Ainda no rescaldo de alguns dias de celebração pela conquista do título nacional de futsal ao fim de cinco épocas de jejum pelo Benfica, Afonso Jesus visitou A BOLA… e trouxe consigo o troféu de campeão, que o acompanhou numa entrevista na qual abordou a temporada, a convicção de que «este seria o ano» para os encarnados e elogiou o trabalho realizado por plantel, equipa técnica e clube para um título difícil conquistado frente ao grande rival Sporting, mas que considerou inteiramente merecido.

-Foi o autor do golo que permitiu arrecadar o título nacional. Marcar um golo com tamanha importância foi o ponto alto da temporada?


Acho que acaba, sinceramente, por ser um ponto alto para toda a equipa. Já disse e volto a frisar, porque acho que é mesmo muito importante: aquele golo não foi o golo do Afonso, foi o golo da equipa. Foi o golo das pessoas que nos acompanharam nestes últimos anos, dos nossos familiares, dos nossos amigos, que viram efetivamente o nosso sofrimento, o que passámos nestes últimos anos por não conseguir alcançar os nossos objetivos, as nossas frustrações, porque os 40 minutos que aparecem na televisão mostram um bocadinho do nosso talento, da nossa capacidade, mas o que acontece depois do jogo, depois de uma derrota, quem vê são os nossos familiares e amigos, as pessoas que estão mais próximas.

Este golo é a representação máxima do que foi algum do sofrimento de quem nos acompanha e fico muito feliz por tê-lo marcado, mas tenho a certeza absoluta de que é o sentimento de toda a gente.

-Vencer o Jogo 1 da final no Pavilhão João Rocha, onde o Benfica há muito não conseguia ganhar e onde as condições são sempre adversas, foi um desbloqueio mental para a própria equipa?

Sem dúvida nenhuma! Eu, logicamente, não posso falar por toda a gente, não seria justo, mas a verdade é que o sentimento que tínhamos este ano era efetivamente comum e quando assim é dá-nos muita força e na hora dos momentos mais difíceis certamente ajudará. Esse primeiro jogo foi um boost de energia e de confiança muito grande por isso mesmo que disse, pela dificuldade que tivemos nestes últimos anos em vencer o Sporting em sua casa.

Vencer daquela maneira, nos penáltis mais uma vez num jogo fantástico de futsal, muito equilibrado, deu-nos uma confiança muito grande para o final. Como pudemos ver, até perdemos os dois jogos a seguir, ganhar um jogo não significa que se vá ganhar o jogo a seguir, nem de perto nem de longe, principalmente quando se joga a este nível, mas deu-nos a confiança de que éramos capazes. Isso é muito importante.

-Conquistar o título com uma reviravolta no final, em Jogo 5 do play-off em casa do adversário mostra que o Benfica abordou esse jogo com maior espírito de final?

É uma pergunta difícil. Nós sentíamos no balneário que este ano era de Benfica. Há coisas que no desporto não se explicam muitas vezes, mas a verdade é que o nosso discurso era positivo, era constantemente relembrado que tínhamos um objetivo muito grande para alcançar e só iríamos parar quando esse objetivo fosse alcançado, mesmo ao intervalo do último jogo, a perder por 2-1, além das correções que o mister fez que, logicamente, duraram três ou quatro minutos. No resto do intervalo a palavra de ordem foi nós vamos ganhar, vamos ganhar e vamos alcançar o nosso objetivo.

-As eliminatórias anteriores do play-off, frente ao Eléctrico e ao SC Braga, fizeram a equipa crescer em confiança, perceber que este poderia mesmo ser o seu ano?

Sim sim, e fez-nos acreditar ainda mais naquele que era o processo que nos tinha sido dado desde o início, a chegada de uma nova equipa técnica com ideias muito diferentes das que se trabalham em Portugal, com uma humildade e postura muito corretas para com os jogadores e todos os elementos que trabalharam na nossa equipa, ou seja, uma questão comportamental que fez mudar um pouco o que se vivia e a maneira como se trabalhava no futsal do Benfica

Isso foi, sem dúvida nenhuma, um dos pontos que fez com que esta equipa acreditasse tanto no trabalho, o que depois se foi, logicamente, refletindo em resultados muito positivos e nos foi aumentando a confiança para o tão desejado título.

-A identidade que pode ser criada a partir daqui torna este título essencial para o projeto?

Certamente e há uma coisa muito importante que, sendo eu desportista de alta competição, gostava de frisar, que é: o Benfica podia não ter vencido este ano, podia não ter vencido o campeonato e acabar o ano sem nenhum título, mas o trabalho tinha sido muito bem feito. As pessoas se calhar não iriam reconhecer da maneira que o estão a fazer neste momento, mas depois da tristeza que íamos sentir, iniciaríamos a próxima época com a certeza de que tínhamos de manter aquele trabalho, logicamente continuar a melhorar, mas naquela base que nos foi imposta e ensinada durante esta época.

A vitória traz-nos uma confiança, um alento para o que aí vem e para abraçar novos objetivos, ainda melhor, não é? Porque trabalhar sobre vitórias é diferente, a confiança aumenta, a capacidade de reagir também aumenta porque a cabeça está mais limpa, nas acho que é muito importante frisar, principalmente que não vencer um título ou um campeonato, não vencer jogos, nem sempre significa que as coisas não estão a ser bem feitas e acho que este ano no Benfica isso seria um excelente exemplo.

-Qual foi a grande diferença entre as passagens dos três anteriores treinadores e os plantéis das últimas cinco épocas que permitiu que este ano o Benfica ganhasse? Foi apenas a bola que entrou ou houve algum fator diferencial?

Em primeiro lugar é importante perceber que este projeto que o Benfica tem no futsal tem cerca de três anos - este modelo de ter uma equipa muito jovem com dois, três jogadores mais velhos com experiência, que passariam também essa identidade para os mais jovens.
Certamente não se poderia estar à espera que desse frutos no primeiro ou se calhar no segundo, acabou por dar ao fim de três anos porque era uma equipa que precisava de estar nestes momentos, nas finais, efetivamente até de mudar um bocadinho a sua mentalidade.
Acho que é aí que entra o ponto-chave: acho que o Cassiano abraça um projeto de uma equipa que nem sequer montou, a verdade é essa, um trabalho ainda mais difícil para o mister pois provavelmente só nos conhecia do que via, foi ouvindo e falando com outras pessoas e a grande diferença do trabalho do mister está aí, das ideias em que acredita, a questão comportamental, como nos fez ver que há certo tipo de comportamentos que não se pode ter porque senão não se vai ganhar e há um certo tipo de comportamentos que tem de se ter para se poder estar mais perto de ganhar.