Simão Sabrosa recorda noite de 2006 e pede: «Acreditem que hoje poderá ser uma noite bonita»

Entrevista Simão Sabrosa recorda noite de 2006 e pede: «Acreditem que hoje poderá ser uma noite bonita»

NACIONAL05.04.202209:40

Simão Sabrosa, antigo avançado do Benfica, agora diretor das relações internacionais do clube, recorda o duelo com o Liverpool, nos oitavos de final da Champions em 2006, no qual foi protagonista em noite épica das águias em Anfield contra o então campeão europeu. A memória está fresquinha. E Simão encontra semelhanças com a atualidade.

- Passaram quase 16 anos desde que marcou um golo histórico em Anfield, que contribuiu para eliminar o Liverpool nos oitavos de final da Liga dos Campeões [2-0 em Inglaterra, depois de 1-0 na Luz, na primeira mão]. Quantas vezes, na sua cabeça, marcou aquele golo ao Liverpool?
- Comecei a marcar esse golo antes do jogo. Já sonhava com uma noite assim. De vez em quando visualizava jogadas e até golos que queria marcar. E já tinha imaginado um golo assim, não tão épico, como foi, mas imaginei marcar em Liverpool. Depois fui marcando ao vê-lo várias vezes, em casa, e assim que saiu o Liverpool ao Benfica no sorteio começaram a chover, novamente, imensos vídeos. Não é que me tenha esquecido. Foi o meu melhor golo como profissional, não digo o mais bonito, mas foi importante, teve aquela beleza toda, foi na Champions, com o campeão europeu em título. Foi, de facto, uma noite histórica.


- Ainda sente em que parte do pé rematou a bola?
- Sinto, sinto, sinto. Era um movimento que fazia com frequência, daí jogar do lado esquerdo. Por vezes um ou outro treinador questionavam porque jogava na esquerda. Dava-me essa possibilidade de fletir para dentro e depois colocar a bola com a parte interior do pé, numa zona específica que, agora, não posso mostrar [risos], não vai aparecer na imagem. Mas era algo que sabia que fazia muito bem, precisava de ter aquele controlo e espaço para rematar. O relvado, naquela noite, não estava como hoje em dia, recordo-me que na noite anterior, quando lá treinámos, estava meio empapado, meio gelado. A bola chegou a saltar, sabia que teria de dominá-la na perfeição para poder utilizar a parte interior do pé. E foi tudo muito rápido. Foi questão de segundos. Aproveitei um bom movimento do Nuno Gomes. Estivemos 20 minutos a aguentar o Liverpool. Sabíamos que iria acontecer e, depois, numa saída rápida, com os quatro jogadores da frente, conseguimos colocar a bola no chão, a bola chegou até mim através do Nuno Gomes, que continuou o movimento a passar nas costas, permitiu que os defesas duvidassem sobre acompanhá-lo ou ficar por dentro, fleti para dentro e... são daqueles momentos quase automáticos. Como já usava muito este movimento, saiu na perfeição.
- O Nuno Gomes disse-lhe alguma vez que o Simão não marcaria aquele golo se ele não tivesse feito aquele movimento?
- [risos] Não. Ele teve muito mérito, porque o Nuno sempre foi um jogador muito inteligente. Jogava e fazia jogar. Sendo um avançado que percebia muito bem o jogo, sabia que esses movimentos eram importantes para criar desequilíbrios e dúvidas. Para lá de ser muito bom a tabelar e finalizar. Esse movimento foi importante porque, se ele não o fizesse, talvez não tivesse espaço para fletir para dentro. O lateral que estava comigo duvidou, estava de frente para o jogo, viu o Nuno a passar nas minhas costas, aguentou e deu-me espaço suficiente para poder fletir, porque os centrais estavam mais recuados, e, então, aí, já foi dois/três toques, bola na frente dois metros, perto do pé, e remate.

- Porque é que este foi o melhor golo da carreira? Não teve outros mais bonitos?
- Este golo teve a importância de ser na Champions, contra o Liverpool, uma eliminatória importante, representa tudo o que fui no futebol, um jogador com habilidade, também não vou ser humilde de mais, que aproveitava ao máximo as oportunidades. Representa o que fui, tenho vários golos daqueles, mas aquele foi mesmo muito bonito.


- Fazendo a ponte para a atualidade, encontra semelhanças neste duelo com a eliminatória em que participou? Liverpool claramente favorito e, talvez, poucas pessoas a acreditar que o Benfica pode qualificar-se.
- Sim, em 2006 também era assim. Tivemos o Manchester United na fase de grupos [passaram Villarreal e Benfica], eliminámos o Liverpool nos oitavos de final e apanhámos o Barcelona nos quartos de final. Agora o Benfica deixou o Barcelona na fase de grupos, eliminou o Ajax e apanhou o Liverpool nos quartos de final. É claro que, naquela altura, o Liverpool era favorito. A única certeza que há é que o jogo começa 0-0 e são 11 contra 11. E tudo pode acontecer, como aconteceu contra o Ajax ou o Barcelona aqui. Na Luz vamos ter 65 mil pessoas a puxar, como em 2006, os jogadores vão transfigurar-se, é uma competição diferente, e acredito que na Luz podemos fazer um bom resultado.


- Portanto, os benfiquistas têm motivos para acreditar?
- Claro. Enquanto profissional de futebol acreditei sempre. Primeiro é preciso acreditar, enquanto adepto também acredito porque estas noites têm de ser vividas. Com o potencial dos jogadores e a força dos adeptos poderá ser uma noite bonita.    
- Quem é que no atual plantel pode marcar um golo como o aquele que marcou em Liverpool?
- O Darwin, já o vi fazer um assim, contra o Famalicão.

Leia a entrevista na íntegra na edição impressa ou digital de A BOLA.