Sporting: reações divergentes sobre o chumbo do voto eletrónico à distância
Assembleia Geral no Pavilhão João Rocha, em Alvalade

Sporting: reações divergentes sobre o chumbo do voto eletrónico à distância

NACIONAL09.10.202316:44

Saiba a opinião de Dias Ferreira, Menezes Rodrigues e Jaime Marta Soares sobre proposta de Frederico Varandas que, para já, não avança

O último domingo foi movimentado em Alvalade, mas, se no campo os leões venceram o Arouca (2-1-9 e mantiveram a liderança do campeonato, no pavilhão houve chumbo do ponto quatro da ordem de trabalhos da Assembleia Geral: a introdução da possibilidade de voto eletrónico à distância nas assembleias gerais comuns e eleitorais. 

Apesar dos 71,71% de votos a favor (contra: 29,54%) a proposta não foi aprovada porque a deliberação deste ponto exigia a maioria qualificada de, pelo menos, três quartos (75%) dos sócios presentes e, cumulativamente, três quartos (75%) dos votos dos sócios presentes.  

O presidente Frederico Varandas disse respeitar a vontade dos sócios, mas, perante a percentagem de votos favoráveis, disse que revisitará o assunto. 

A BOLA ouviu alguns notáveis sobre este resultado, cujas opiniões são divergentes. 

Há que realçar que nesta situação a Direção não é beneficiada com isso, é um assunto inteiramente do interesse dos associados

«As grandes organizações têm de evoluir na modernidade», diz Menezes Rodrigues

Menezes Rodrigues, antigo dirigente do Sporting, mostra-se incrédulo com o resultado. «Tenho grande dificuldade em perceber porque é que os sócios não votaram a favor. As grandes organizações têm de evoluir na modernidade, não podem andar para trás. As pessoas devem ter sido mal informadas por quem gosta de ter momentos de destaque, que gosta de debitar coisas que não fazem sentido. Por exemplo, uma grande organização como é o Montepio Geral já evoluiu para o voto eletrónico, com certeza, com cautelas e adaptações para não haver ilicitudes. Espero que de modo tranquilo o Sporting venha a ter a disponível a opção de voto eletrónico, é a garantia de que a maioria dos sócios votam. Ontem [domingo] foram votar 13 mil sócios e no jogo estiveram cerca de 36 mil adeptos, talvez 25 mil sócios, porque é que não aproveitaram para ir à AG votar?», realçou.

Questionado sobre o porquê de tal ter acontecido, Menezes Rodrigues não tem dúvidas: «Setenta e um por cento votaram a favor, mas como era preciso maioria qualificada… Há que realçar que nesta situação a Direção não é beneficiada com isso, é um assunto inteiramente do interesse dos associados.» 

E apresenta uma sugestão: «As alterações dos estatutos devem ser mais densas do que isto. Que haja alterações em coisas que considero mais fulcrais. Tem de se encontrar solução para debates. Numa AG com 140 mil associados é permitida intervenção de treze minutos a cada um, ficávamos três meses só nas intervenções! É necessária uma mudança. Volto ao exemplo do Montepio Geral, em que o Governo o código mutualista e o sistema de governance. Tendo um número de sócios denso deve-se alterar o sistema de governance

Dizendo que é um passo para a modernização trata-se de uma tentativa de muita gente se perpetuar no poder de qualquer maneira

Jaime Marta Soares: «Sobre o chumbo digo que prevaleceu o bom-senso»

Opinião distinta é a de Jaime Marta Soares, antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, que acusa Frederico Varandas que querer perpetuar-se no poder. «Sobre o chumbo de domingo digo que prevaleceu o bom-senso ao não serem atingidos os setenta e cinco por cento a favor. Não sou contra o voto eletrónico, aliás fui eu que o implementei, mas defendo o voto eletrónico acompanhado pelo respetivo recibo a ser depositado numa urna. Se houvesse um erro informático os votos estavam sempre salvaguardados pelos respetivos recibos. Já tinha estado em negociações com a Universidade do Minho, entidade bastante credível, de modo a haver a possibilidade de voto eletrónico nas cinco regiões do País: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve», começou por dizer. 

Marta Soares levanta ainda uma questão que diz ser pertinente: «O voto ser através de telemóvel ou computador quem nos garante que não há adulteração por parte de hackers? A pirataria está ao alcance de pessoas mal intencionadas. Acredito que no Sporting seja tudo boa gente, mas, aqui ou ali pode não ser assim. Ninguém pode garantir essa veracidade. Não há garantia absoluta de que seja um ato credível, transparente e honesto.»

O antigo dirigente leonino vai mais longe e fala na necessidade de alteração de estatutos para limitar o número de mandatos: «Não entendo esta pressa. No meu tempo as assembleias gerais eram todas acima de dez, treze ou vinte e três mil sócios e havia espaço para debate. Não se vota uma proposta sem que haja debate, de modo que todos fiquem esclarecidos. Dizendo que é um passo para a modernização trata-se de uma tentativa de muita gente se perpetuar no poder de qualquer maneira.» 

Jaime Marta Soares reforça ainda a sua opinião: «Saúdo o chumbo da proposta, torna mais saudável a vida democrática do Sporting. Espero que os associados continuem a ver que algumas pessoas queiram-se perpetuar no poder para que o chumbo continue ainda a ser maior. Há coisas muito mais importantes a tratar, como por exemplo, limitar o número de mandatos é algo que o Sporting tem de fazer. Dar um passo maior do que a perna nunca dá bom resultado.» 

O assunto veio contribuir para uma certa fraturação num momento que não é útil. O resultado apenas espelha certa teimosia em se decidir momentos com resultados positivos

«A alteração de estatutos deve ser feita a seu tempo e merece reflexão», realça Dias Ferreira

A BOLA também falou com Dias Ferreira, outro antigo dirigente do Sporting, que não está de acordo com a implementação do voto eletrónico universal: «A minha posição é diferente de quem está contra ou a favor. Não sou contra a introdução desse sistema nas assembleias gerais eleitorais ou de outra natureza, sou é contra que uma AG comum haja votação à distância. Há muitos anos que defendo as discussões em assembleia.»

«Desde 2018 que deixei de ir às assembleias e, agora, quando me apercebi que o voto eletrónico também dizia respeito às AG comuns não fui mesmo. Tenho pena que o assunto tenha sido posto desta maneira, não foi debatido e veio contribuir para uma certa fraturação num momento que não é útil. O resultado apenas espelha certa teimosia em se decidir momentos com resultados positivos. O que interessa é que se tenha votado com bom-senso. A alteração de estatutos deve ser feita a seu tempo e merece reflexão, concluiu Dias Ferreira.