Decorre esta tarde a 9.ª sessão do julgamento do processo Operação Pretoriano
A 9.ª sessão do processo Operação Pretoriano começou esta tarde, com um sócio ouvido na qualidade de testemunha do Ministério Público a acusar Fernando Madureira, antigo líder da claque Super Dragões, de ser o principal responsável pelo clima de terror e intimidação que os associados viveram na Assembleia Geral de novembro de 2023. «Vocês, amigos do Villas-Boas, são uns filhos da p…, estão a dividir o clube', disse Fernando Madureira, na nossa direção, depois de não termos batido palmas ao discurso de Pinto da Costa. Depois, passados uns segundos, começou uma pancadaria com uma família e tivemos de fugir. Depois vi a confusão com o senhor Henrique [Ramos], vi-o a ser agredido. Vi o senhor [Vítor] Catão a insultar e a mandar calar o senhor Henrique [Ramos]. Também vi o senhor Fernando Madureira a mandar calar o senhor Henrique», acrescentou José Miguel.
Oitava sessão do julgamento arrancou com a audiência de vários agentes da PSP que realizaram buscas a casa de arguidos, com dois a detalharem terem apreendido uma arma, de calibre 6.35 mm, com duas munições, ao arguido Hugo Loureiro, 'Fanfas', que estava na mala do carro, por indicação do próprio aos agentes
Depois, questionado depois pela juíza sobre se tinha visto igualmente Sandra Madureira a opor-se igualmente a gravações vídeo: «Estava uma pessoa a filmar e a senhora Sandra Madureira disse ‘guarde o telemóvel que não são permitidas filmagens’ e a pessoa guardou o telemóvel. Ouvia-se de vez em quando outras pessoas a dizer que não se podia filmar, mas não consigo identificar essas pessoas. Quem estava do lado de Pinto da Costa podia dizer o que quisesse, mas quem estava do lado de Villas-Boas não podia dizer quase nada, era logo alvo de insultos. Claro que se sentia algum medo e intimidação», disse o associado, sendo depois novamente questionado pela procuradora. «Quem criava este clima de medo?». «Era o senhor Fernando Madureira. Ele andava sempre de um lado com um grupo de elementos e eram depois esses elementos que causavam a desordem. Existiam insultos para as pessoas, intimidavam», referiu o associado.
Julgamento prossegue esta segunda-feira no Tribunal São João Novo, no Porto
E prosseguiu o seu raciocínio: «Fui com amigos, sabia que pontos iriam ser discutidos. Foi a primeira vez que fui a uma Assembleia Geral, por causa dos assuntos que iriam ser tratados. Não entrei no auditório, fui diretamente para o Dragão Arena. Quando entrei, fui diretamente à casa de banho e, quando me estava a dirigir para a bancada sul, os meus amigos disseram-me para ir para a bancada norte, porque os meus amigos tinham sido insultados de ‘filhos da p...’. Alguns dos meus amigos eram amigos do atual presidente. Algumas pessoas lá começaram a dizer que não fazia sentido a AG começar, porque estava muita gente do lado de fora. Por causa disso, outras pessoas começaram a mandar calar as pessoas. Na altura não identifiquei ninguém, porque não conheci ninguém que estava a mandar calar. Mais à frente, na Assembleia Geral, vi o senhor Fernando Madureira a mandar calar as pessoas, a gesticular, com alguns insultos.»
Relatos de testemunhas continuam esta terça-feira, na sexta sessão do julgamento
Já antes, havia sido ouvida uma hospedeira, que estava a prestar serviços para o FC Porto no dia da Assembleia Geral e era responsável por ver os cartões de sócio e fazer o check-in. «Começou a aparecer muita gente à nossa volta. Existiam sócios que mostravam o cartão de sócio. Estava tudo correto. Outros apareciam com cartões de sócio que eram de terceiros. Quando não tinham cartão de cidadão, pedíamos data de nascimento, nome completo e a morada ou então o número de telemóvel. Em alguns casos, os dados que deram não batiam certo e nós mandávamos essas pessoas para trás, diz. «Relativamente às pulseiras, meteram-me uma caixa ao lado e pediram para guardar porque já tinham desaparecido pulseiras», explicou a jovem.
Esta terça-feira são ouvidas várias testemunhas do Ministério Público, entre os quais associados do FC Porto que estiveram presentes na Assembleia Geral polémica de novembro de 2023
Também Liliana Costa, funcionária que estava a trabalhar na credenciação para a Assembleia Geral, revelou em tribunal que assistiu a ilegalidades com cartões de sócio. «Fiquei surpreendida com o número de pessoas que apareceram na Assembleia Geral, apesar de ter sido a primeira vez que fui. Não correu muito bem, porque estavam a tentar entrar sócios com cartões que não lhes pertenciam. Não os deixávamos entrar, pedíamos para saírem e deixarem-nos atender outras pessoas», disse, admitindo ter visto Fernando Madureira, Sandra Madureira e Vítor Aleixo junto ao início da fila.
Houve ainda o o depoimento de Catarina Gonçalves, que também trabalha para o FC Porto. «Tivemos adeptos que tentaram entrar com cartões de outros sócios e, para termos a certeza, pedíamos cartão de cidadão. Quando não tinham, fazíamos algumas perguntas para tentar comprovar a identidade», explica, revelando que no local viu Fernando e Sandra Madureira e também Vítor Manuel 'Aleixo' e o filho. «Uma hospedeira disse-me que tinham roubado pulseiras, não especificou quem tinha sido. Eu nesse momento liguei à minha responsável a contar isso mesmo e ela disse-me que ia reportar à segurança», lembrou.
Durante o testemunho prestado no Tribunal de São João Novo, Afonso Simões fez revelações bombásticas sobre o comportamento de Vítor Catão. De acordo com a testemunha, o arguido terá dito, à entrada da assembleia geral do FC Porto, que ia matar Villas-Boas e os apoiantes. «Ouvi, à porta do Dragão Arena, Vítor Catão dizer que ia matar Villas-Boas e quem o apoiasse», confidenciou Afonso Simões, que visou também o comportamento de Fernando Madureira já dentro do pavilhão. «Recordo-me de ver o Madureira a sair da central e passar para a banca norte, a dizer que éramos uns ingratos, uns traidores, e aí apercebi-me das agressões do Aleixo filho a um senhor de 50 e tal anos. Lembro-me de ver o Madureira a falar em tom agressivo com as pessoas», disse a testemunha.
Relativamente aos acessos à assembleia geral, Afonso Simões diz também ter visto Madureira e Catão passarem à frente na fila. «Vi pessoas a passar à frente da fila da credenciação, Aleixo pai, Aleixo filho e Fernando Madureira, não exclusivamente eles, mas são os que me recordo», lembrou, acrescentando: «Quando eu estava na fila vi o Vítor Catão, que estava fora da fila, a ameaçar as pessoas. Primeiro dirigiu-se à Comunicação Social que estava à porta, não me recordo das ameaças, depois a tentar coagir quem votasse contra e chamava de traidores quem apoiava o André Villas-Boas», começou por dizer.
No entanto, após a insistência da juíza, Afonso Simões voltou atrás. «Viu o senhor Catão a dirigir-se à comunicação social? A fazer o quê?», questionou. «Não me recordo. Não posso responder com certezas», respondeu.
Foram décadas disto e foi preciso mudar de presidente para os portistas abrirem os olhos.