Mauro Airez chegou ao Benfica a meio da época 1995/1996, oriundo do Belenenses
Mauro Airez chegou ao Benfica a meio da época 1995/1996, oriundo do Belenenses (A BOLA)

Mauro Airez recorda tragédia do 'very light': «Não andei muito bem durante algum tempo»

NACIONAL24.04.202512:47

Engenho pirotécnico que atingiu mortalmente o adepto do Sporting, Rui Mendes, foi lançado após golo do argentino, na final da Taça de Portugal, há 29 anos

A reedição da final da Taça de Portugal de 1995/1996 — será a primeira vez desde essa tarde que Benfica e Sporting se encontram na decisão — aviva por estes dias as memórias sobre a tragédia que se viveu no Jamor, que culminou na morte de Rui Mendes, adepto do Sporting que foi atingido por um very light lançado por Hugo Inácio, que estava sentado na bancada afeta ao Benfica e que, em 1998, acabaria por ser condenado a quatro anos de prisão, de onde fugiu em 2000 e só voltou a ser capturado em 2011.

O incidente aconteceu após o primeiro golo do Benfica, aos 9 minutos, apontado por Mauro Airez. Em declarações à agência Lusa, o argentino, agora com 56 anos, recordou o que se passou a 18 de maio de 1996, num jogo em que as águias ergueram o troféu após vitória, por 3-1, frente os leões.

«Não andei muito bem durante algum tempo, porque pensava que se não tivesse feito o festejo... Celebrei uns metros para o lado esquerdo da baliza do Sporting, perto da zona onde o adepto morreu. Era como se fosse um sentimento de culpa inevitável»

«Durante bastante tempo, o que aconteceu ofuscou um bocado a importância que podiam ter dado nos títulos dos jornais à superioridade do Benfica. Falou-se imenso do incidente, que não ficou por ali, visto que teve seguimento [nos tribunais]. Não digo que a vitória do Benfica tenha passado ao esquecimento, porque uma pessoa até vai ao museu e vê lá o troféu, mas, inevitavelmente, falariam mais dessa situação», começou por dizer.

O antigo jogador desfiou o novelo das memórias e continuou: «Estávamos muito concentrados e não nos apercebemos de nada nessa altura. Sentimos é que passou uma coisa similar de bancada a bancada no aquecimento, mas que bateu nas árvores. Ouvia-se como se fosse um foguete a passar, uma coisa muito leve.»

«Quando corro para o túnel [ao intervalo] encontrei uma ambulância que ia a sair do estádio que quase me atropelou. Ao regressar para a segunda parte, viu-se que havia um clarão enorme na bancada e manchas de sangue»

E desabafou: «Não andei muito bem durante algum tempo, porque pensava que se não tivesse feito o festejo... Celebrei uns metros para o lado esquerdo da baliza do Sporting, perto da zona onde o adepto morreu. Era como se fosse um sentimento de culpa inevitável.

Após reunião de emergência entre o então Presidente da República, Jorge Sampaio, e o primeiro-ministro António Guterres, a final da 56.ª edição da Taça de Portugal não foi interrompida. «Continuámos muito focados até ao intervalo. Acho que fui o primeiro da nossa equipa a aperceber-se de que tinha acontecido algo grave. Quando saio e começo a correr no túnel, pois era um dia de muito calor e estava cheio de sede, encontrei uma ambulância que ia a sair do estádio que quase me atropelou. Ao regressar para a segunda parte, viu-se que havia um clarão enorme na bancada e manchas de sangue», recordou.

Passados 29 anos, com o episódio negro do very light reavivado, numa altura em que Sporting e Benfica também estão envolvidos na luta pelo título nacional, Mauro Airez não aponta um favorito: «Essa memória virá ao de cima, porque se vai falar no assunto e é inevitável. Se as duas equipas chegarem no seu pleno, sem muitas lesões e focadas, haverá um grande jogo. Ambas estão muito equiparadas. Até a própria arbitragem terá muito peso e um jogo de grande pressão por tudo o que tem acontecido desde o início do campeonato.»

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