José Maria Gallego, presidente da SAD do Amora, aborda em entrevista a A BOLA, o contrato de Geny Catamo
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Pelos caminhos do futebol Com alma andaluza e ambição à portuguesa: José Maria quer o Amora de volta

NACIONAL23.04.202510:45

Pelos Caminhos do Futebol é a rubrica de A BOLA que, semanalmente, o leva até ao País profundo. Esta quarta-feira, fomos conhecer a fundo o projeto da SAD do Amora. O negócio de Geny Catamo, o regresso à Liga 3 e um novo estádio

José María Gallego Moyano, 49 anos, é um empresário espanhol nascido em Sevilha, conselheiro do Betis e, desde 2021, presidente da SAD do Amora, clube fundado em 1921 e com passagens pela I Divisão em 1980/1981, 1981/1982 e 1982/1983. A chegada de José María à liderança da SAD do clube da margem sul do Tejo aconteceu de forma natural, a partir do desejo de investir num clube português.

«A minha ideia era investir num clube em Portugal e rapidamente apareceu o Amora», começa por explicar a A BOLA, nas bancadas do Estádio da Medideira. A decisão foi tomada após conhecer melhor o clube, a cidade e o seu ambiente. «Vimos um pouco da mística do estádio, a história do clube e da cidade e percebemos que era o sítio adequado para desenvolver um projeto e, com calma, levar o Amora aos campeonatos profissionais».

Quando assumiu o cargo, o Estádio da Medideira estava longe das condições ideais. «Não se podia jogar futebol aqui», recorda. Durante a primeira temporada na Liga 3, o Amora teve de jogar toda a época como visitante. «Na altura, a Câmara estava a investir no Estádio Carla Sacramento. Foi um ano muito complicado», admite.

José Maria Gallego, presidente da SAD do Amora, lança em entrevista a A BOLA o futuro do clube para os próximos cinco anos
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Questionado sobre se considera o estádio a sua grande obra, responde com cautela: «Ainda não, porque a Medideira é um estádio que precisa de muita reforma.» Explica que há um projeto diferente em mente e que a renovação não deverá passar por fundos públicos.

Bancadas do Estádio da Medideira (Foto: Amora SAD)

«Sabemos das dificuldades para uma Câmara que também tem que investir noutras áreas importantes para a cidade. Entendemos que a Medideira deve ser renovada com um novo estádio, construído por entidade privada e não pública», esclarece. Segundo o dirigente, há já conversas com fundos de investimento: «Estamos a trabalhar nesse sentido. Já tivemos conversas com alguns fundos, no sentido de construir um novo estádio, com uma área comercial.»

José Maria Gallego, presidente da SAD do Amora, aborda em entrevista a A BOLA o futuro do recinto
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Contudo, o momento não é ainda o ideal para avançar com a obra. «Tivemos algumas conversas, mas agora estamos focados na fase de subida, que é realmente importante. Queremos devolver o Amora à Liga 3, de onde nunca devia ter saído», afirma.

Ainda assim, garante que o plano será retomado em breve: «Assim que a temporada terminar, tentaremos agilizar. Não será um projeto imediato, porque há muitas questões administrativas.»

Mesmo as intervenções já feitas no estádio tiveram em conta a ambição de regressar aos campeonatos profissionais. «Essa era a ideia», admite. O clube chegou a utilizar o Estádio Municipal, partilhado com outros emblemas, com o apoio da Câmara. «Mas percebemos que os adeptos querem ver o Amora jogar na Medideira, por isso temos vindo a reabilitá-la», diz. José María Gallego reconhece que, apesar de o Carla Sacramento ser um estádio moderno, está «longe do centro da cidade». E reforça: «A nossa ideia é sempre recuperar a mística da Medideira.»

Quanto ao principal objetivo da época, é direto: «Sim, claro, é subir de divisão já este ano. Entendemos que o Amora é um clube de Liga 3 e esse é o nosso grande objetivo. Vai ser uma guerra dura, porque todos os clubes têm boas equipas e também merecem.»

José Maria Gallego, presidente da SAD do Amora, aborda em entrevista a A BOLA o sonho mais imediato do clube
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Com uma visão estratégica de médio e longo prazo, José María Gallego acredita na força de um projeto bem estruturado. «O objetivo sempre foi desenvolver um projeto com calma, com um processo bem definido e uma metodologia», adianta. Sublinha, ainda, que no futebol, «quando se trabalha a longo prazo, é mais fácil». E completa: «Todos queremos ganhar ao domingo, mas quando tens um processo claro, os resultados acabam por chegar.»

Desde o início, ficou claro para o dirigente espanhol que a aposta na formação era pilar. «A ideia foi criar um projeto sustentável a longo prazo», explica. «É fundamental desenvolver talentos jovens e tornar o clube financeiramente sustentável. E a única forma de o fazer é apostar na formação, gerando valor e garantindo uma ou outra venda por ano, que acho que temos conseguido», afiança, destacando ainda o potencial da região: «A Margem Sul tem muito talento e temos que aproveitá-lo.»

Questionado sobre a desconfiança que muitos adeptos ainda mantêm em relação às SAD's, José María Gallego reconhece o sentimento: «Sim. Para nós, no início, também foi um choque — para o clube e para a SAD — perceber quais eram os objetivos comuns.»

No entanto, acredita que o tempo e a consistência de ideias ajudam a conquistar a confiança.

«Como costumo dizer, com processo e paciência conseguimos unir as pessoas. A ideia é permanecer aqui, mas no futebol nunca se sabe onde se estará amanhã.»

Fora do Amora, José María Gallego é também conselheiro do Betis e segue de perto o momento do clube. «O Betis está num bom momento, sobretudo a partir do mercado de janeiro, com a chegada de alguns jogadores. A equipa deu um salto», diz com um sorriso.

O clube continua em várias frentes e José María Gallego acredita no seu potencial: «Estamos a lutar por objetivos importantes — ainda vivos na Conference League e na liga a lutar por um lugar na Champions

Quanto à possibilidade de conquistar a Conference League, mostra ambição: «É uma competição bonita, mas dura. Temos o Chelsea, a Fiorentina, que vamos encontrar nas meias-finais. São ambas muito competitivas, mas, com o momento que a equipa vive, vamos tentar lutar por tudo. E por que não ganhar um título europeu?»

José Maria Gallego, presidente da SAD do Amora, aborda em entrevista a A BOLA e conselheiro do Betis, a transferência do guarda-redes para o Sporting
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«Rui Silva merecia jogar num grande em Portugal»

Também comentou a saída de Rui Silva do Betis para o Sporting. «Além de ser um grande guarda-redes, é um excelente profissional e uma grande pessoa. Merecia jogar num grande clube em Portugal — e nunca o tinha feito. É um prémio para ele», garante. Apesar da perda, compreendeu a decisão: «Era o nosso titular, mas percebemos que a sua vontade era representar um grande clube português.»

Sobre a eleição de Pedro Proença como novo presidente da Federação Portuguesa de Futebol, considera tratar-se de uma mudança positiva. «É importante para o futebol português. Era troca necessária na Federação, sobretudo para clubes como o Amora», vinca.

Mostra-se, de resto, otimista quanto ao futuro da Liga 3: «Com a chegada de Pedro Proença, a competição vai crescer muito. A Liga 3 vai ter mais visibilidade e o Amora tem que estar lá.»

«Geny? Estamos condenados a entender-nos»

Geny Catamo deu o salto do Amora para o Sporting (Foto Imago)

Geny Catamo deu os primeiros passos em Portugal pela porta do Amora, vindo do Black Bulls de Moçambique. Em 2018, Zuneid Sidat era o administrador da SAD do Amora. O empresário moçambicano contratou vários jogadores do seu país de origem, entre eles Geny Catamo.

Depois de empréstimos a V. Guimarães e Marítimo, o ex-Amora conseguiu impor-se de verde e branco no Estádio José Alvalade. Sobre o passe de Catamo, que envolve negociações com o Sporting, José María Gallego opta pela diplomacia: «A relação com o Sporting é muito cordial, principalmente desde a chegada do Bernardo [Palmeiro, atual diretor geral do futebol do Sporting, substituto de Hugo Viana], sempre com respeito, mas não posso avançar nada.»

José Maria Gallego, presidente da SAD do Amora, aborda em entrevista a A BOLA, o contrato de Geny Catamo
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Admite que os interesses dos dois clubes são diferentes, mas que a solução acabará por chegar. «Estamos condenados a entender-nos, mas ainda não é o momento. Estamos focados na fase de subida e o Sporting está concentrado na Liga. Em algum momento, encontraremos uma solução», assegura.