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Joana Marques em tribunal: «Humor que não ofenda não existe»
O Palácio da Justiça, em Lisboa, recebe esta sexta quarta sessão do processo que opõe os Anjos a Joana Marques, com o testemunho da acusada e as alegações finais. Recorde-se que os irmãos Nélson e Sérgio Rosado se dizem lesados por um vídeo em que a humorista satiriza a sua interpretação do hino nacional no MotoGP em 2022. Os cantores pedem uma indemnização de mais de um milhão de euros por danos.
Um dos participantes involuntários no vídeo é o cantor Tatanka, que foi jurado no Ídolos- parte do vídeo inclui comentário seu, que na montagem parece dirigir-se aos dois cantores.
Pedro Taborda, nome de Tatanka, foi chamado como testemunha pela «Gostou de ver? Achou piada?», perguntou-lhe uma das advogadas dos cantores, momento citado pelo jornal Observador, que tem dado todas as sessões em direto.
«Se teve alguma piada, já a perdeu. Na altura teve, agora já não tem piada nenhuma, todas as partes preferiam não estar aqui», afirmou Tatanka sobre o vídeo, respondendo a uma questão cuja relevância foi questionada pela juíza.
Joana Marques começou por responder à juíza. «Se o meu vídeo era para rir? Era para rir, sim. A minha intenção é ali igual à intenção em tudo o que faço, fazer rir», justificou, e recusou que o que faz no seu programa de rádio seja bullying. «Quem sofre bullying, de bullying a sério, se lhes perguntássemos se prefeririam ser perseguidos ou alvo de uma piada, certamente preferiram uma piada.»
A humorista foi questionada, já pela advogada de defesa dos Anjos, sobre se teve noção que a sua publicação poderia desencadear uma reação negativa dos seus seguidores. «Não conheço todos os seguidores (...) mas penso que vão à minha página à procura de conteúdos de humor», respondeu, sublinhando que não notou comentários de ódio de extrema-direita, uma vez que o vídeo brincava com uma interpretação do Hino Nacional: «Não vejo [o tema] com essa gravidade ou seriedade.»
Joana Marques defendeu que «não há humor que não ofenda alguém. «Humor que não ofenda não existe. Ofendem uma pessoas, não ofendem outra. Se a condição para existir humor é não ofender ninguém, no final não havia nenhum humor.»
A humorista lembrou que ela própria recebe mensagens de ódio, algo que os Anjos alegam ter começado a receber depois de o vídeo de Joana Marques ter começado a circular. «Sim, muitas vezes recebo mensagens com insultos talvez até mais do que os Anjos. Não envio mensagens de ódio a ninguém, estou mais posição de quem recebe», explicou.
Joana Marques também não achou que o vídeo em causa se tenha assim tão viral: «150 mil visualizações até é um número um pouco abaixo do que costumo ter no Instagram (...) Nunca pensei que esta obra de um minuto do Instagram fosse tão escrutinada. Era um vídeo que já estava viral quando chegou a mim, era um dos assuntos do dia. As pessoas mandam-me muito estas coisas.»
Questionada sobre se foi contactada no sentido de apagar o vídeo, Joana Marques admitiu que sim, e que a mesma carta exigia um pedido de desculpas. «Não me revi nessa exigência e respondi à carta com o direito à liberdade de expressão», contou, mantendo que não tem de apagar o vídeo.
A advogada dos Rosado perguntou pelos limites do humor. «Os que estão na lei. Da liberdade de expressão», respondeu Joana.