Pedro Monteiro: um português (perdido) a jogar na Geórgia

Geórgia Pedro Monteiro: um português (perdido) a jogar na Geórgia

INTERNACIONAL24.06.202321:14

Encontrar um português em Tbilissi, capital da Geórgia, à margem do futebol, foi tarefa impossível... até ao momento.

Encontrar um português a jogar futebol na Geórgia é tarefa rara, mas possível, conforme constatámos quando conversámos com Pedro Monteiro. Aos 29 anos, cumpre a segunda época ao serviço do Torpedo Kutaisi, clube de uma cidade a cerca de 250 quilómetros de Tbilissi, onde está a Seleção Nacional de sub-21 que participa no Europeu da categoria.


«A distância não é grande, mas as estradas são tão más que demoro quase quatro horas a chegar a Tbilissi. Agora, estão a construir uma autoestrada e então sim Kutaisi e Tbilissi já ficarão bastante mais próximas», afirma, a A BOLA, Pedro Monteiro, durante a chamada telefónica que permitiu a realização deste trabalho.


Pois bem, com a distância a impedir que estivesse, no sábado, no Estádio Mikheil Meskhi a apoiar Portugal frente aos Países Baixos (1-1), na segunda jornada da fase de grupos, resta ao defesa-central de 29 anos concentrar-se nos compromissos no clube.


«Estamos já a treinar [não jogam desde o passado dia 5, pausa no campeonato e restantes provas], pois vamos disputar a Supertaça [na próxima quinta-feira, ante o Dínamo Batumi]. Ganhámos a Taça da Geórgia na temporada passada e por isso conseguimos ir à Liga Conferência [defrontam o Sarajevo na primeira pré-eliminatória]. Está a correr tudo bem aqui. Sou o segundo português a jogar na Geórgia, o primeiro a jogar no campeonato principal, agora já vieram para cá mais jogadores que estiveram na liga portuguesa. Há um mês veio um treinador adjunto português para o clube, o Nilton Terroso. Estou a abrir portas aos meus compatriotas», assume, orgulhoso e sorridente: «O novo treinador da minha equipa é escocês, mas fala português. É o Steve Kean, que jogou na Académica e na Naval. Está a ver quem é? Agora é mais fácil comunicar. Quando cheguei, em junho do ano passado, não conhecia aqui ninguém, mas tem sido uma boa experiência.»


Pedro Monteiro deixou marca no clube na fase final da época passada (o campeonato decorre no ano civil) e conhece cada vez mais a realidade do país que se estreia em fases finais de Europeus de sub-21 e logo como organizador: «Pelo que conheço dos jogadores georgianos não me surpreendeu a atitude deles no jogo com Portugal e a determinação que apresentaram em campo. Surpreendeu-me, sim, o que nós não conseguimos jogar. Não tivemos a entrega da Geórgia. Antes do jogo disse aos meus colegas de equipa que Portugal ia ganhar 2-0 ou 3-0. Agora, que perdemos 0-2, gozam todos comigo. Temos de perceber que todas as seleções querem ganhar a Portugal, pois somos muito fortes e respeitados pelos adversários.»
 

Kvaratskhelia, pois claro!
O respeito de que Pedro Monteiro fala é reflexo da consideração que sente diariamente na Geórgia.


«Aqui respeitam muito o jogador português. Se é português tem qualidade. Notei isso comigo. Sei que é assim que olham para os nossos jogadores. Obviamente para Cristiano Ronaldo, mas não só. Os georgianos veem muito a liga inglesa e os portugueses que lá jogam. A liga italiana merece igualmente muita atenção», destaca, socorrendo-se de exemplos: «Por exemplo, o Rafael Leão, nosso craque do Milan, é  muito falado aqui. A Geórgia é um país cada vez mais aberto para o mundo e para o futebol. O facto do Khvicha Kvaratskhelia ter sido a sensação do Nápoles, campeão de Itália, mudou a imagem do jogador georgiano. Falta o mundo olhar com outros olhos para o país.»


Palavras de quem vive o dia a dia em terras georgianas e sabe que o desejo das suas gentes é entrar na União Europeia e libertar o país de uma imagem demasiado associada à Rússia.