«Um piloto de aviões não pode brincar aos drones...»

E. Amadora «Um piloto de aviões não pode brincar aos drones...»

NACIONAL20.08.202300:48

Sérgio Vieira não esteve no banco no jogo deste sábado à noite da Luz depois de ter sido expulso na primeira jornada, mas foi à sala de imprensa após a derrota (2-3) do Estrela para analisar o jogo frente ao Benfica, elogiando a sua equipa, que, considerou, mesmo fragilizada em termos físicos na segunda parte conseguiu bater o pé ao campeão nacional.

«Tirámos muitas coisas positivas, sobretudo até ao momento em que fomos fragilizados», atirou o técnico. «Estrategicamente estivemos um pouco aquém do que queríamos, não era fácil o desafio de igualar o Benfica na sua casa, mas houve momentos que nos deixaram orgulhosos destes jogadores, do processo que estamos a desenvolver, mesmo com menos um [inferioridade física de Mansur] houve momentos em que controlámos o Benfica com bola no seu próprio estádio, e limitados e condicionados irmos à procura do resultado e ter bola em alguns momentos deixa-me orgulhoso, coletivamente e individualmente.

Sérgio Vieira abordou depois a arbitragem do jogo quando questionado sobre o penálti que foi revertido por bola no braço de Florentino na área encarnada e foi esse o ponto de partida para fazer crítica mais generalista a uma sociedade hipócrita e às desigualdades entre as equipas portuguesas, a nível de condições financeiras e de trabalho.

«A questão da arbitragem... sou daqueles que fala mesmo da arbitragem. Vivemos numa sociedade hipócrita, são desiguais as condições de trabalho, de contratação, o nível financeiro [entre equipas da Liga], é [competição] desleal, entre outros factores, por isso o lance do penálti vale o que vale e foram outros lances, que têm de ser ajuizados por quem de direito», disparou, deixando apelo:

«Já o fiz [criticar a arbitragem] noutros jogos, tenho de melhorar na emoção da avaliação desses lances, os árbitros são seres humanos e erram, mas a sociedade desportiva é que tem de criar condições para que os árbitros sejam mais e melhores, cada vez mais. Acho que lance é… foi como foi...»

As dificuldades físicas do Estrela na segunda parte também foram explicadas pelo técnico, que criticou as condições de treino da equipa da Reboleira, que disse contribuírem para essa fadiga.

«A fadiga tem a ver com muitos outros factores. Se tivéssemos as condições que o Benfica tem... o ano passado conquistamos coisa difícil, estivemos a treinar em sintéticos, a fazer quilómetros na região de Lisboa, superámos obstáculos, e este ano estamos a dar continuidade a essas dificuldades, infelizmente. É diferente treinar no tipo de relvados em que jogamos e a minha equipa não treina praticamente, é um trabalho de quem está a estruturar o clube, as condições de treino são extremamente precárias e leva às tomadas de decisão que tivemos na primeira parte [...] Equipas [da Liga] deviam preparar-se da mesma forma, como noutros países desenvolvidos... e se estivesse do outro lado gostaria de ganhar de outra forma, mais convincente, sem deixar respirar o adversário, e não foi o que aconteceu… Mas foi o possível em função de alguns aspetos da precariedade da nossa preparação», explicou, acrescentando:

«As circunstâncias em que nos preparamos são inegáveis. Um piloto de aviões não pode treinar em avionetas ou brincar aos drones. Isto é algo que acontece e é real. Se queremos melhorar a qualidade das equipas mais pequenas e médias, para que o espetáculo seja melhor, as próprias instituições que regulam o futebol em Portugal têm de olhar para isso também. Se queremos que não sejam só os três ou quatro grandes a ter desempenhos na Europa, temos de olhar para as restantes equipas e tentar entender. Tem de haver uma preparação maior.»