Visto de longe
1 - Saí de Lisboa para Macau na manhã seguinte ao empate caseiro do Benfica com o Belenenses, o que me proporcionou uma primeira, das longas horas de voo pela frente, de agradável leitura dos jornais desportivos. Pelo que li, julgo que Bruno Lage terá feito uma apreciação correcta do que se passou: o Benfica fez o suficiente para ganhar, mas dois erros comprometeram o resultado. Acontece e, felizmente para nós, FC Porto, desta vez, foi com o Benfica. Entretanto, é de saudar, uma vez mais, a atitude tranquila e pedagógica do jovem treinador benfiquista numa hora que, não sendo de derrota, foi de resultado negativo. Ficou-lhe bem não penalizar os jogadores que cometeram os erros, tentando transformar erros defensivos em ofensivos, contra a evidência daquilo que todos tinham visto, e não dando qualquer sinal de alarme com a perda da margem de folga logo após a vitória no Dragão.
2 - Do outro lado do mundo (no meu caso, do lado de cá do mundo), tive de ligar o despertador para as 5 e para as 6 da manhã para saber o resultado ao intervalo e no final do jogo do FC Porto com o Marítimo. Ganhámos, como seria de esperar, o primeiro jogo em muito tempo, largas semanas, em que a equipa dispôs de um intervalo de mais do que três dias entre um jogo e outro para recuperar forças. Visto em breves e pouco nítidas imagens de computador, o resumo do jogo não me permitiu tirar conclusão alguma sobre os casos do jogo, que presumo que inevitavelmente tenham alimentado as línguas benfiquistas, pelo menos. Só vi lances de ataque do Porto, concluindo que foi jogo de sentido único, e pareceu-me que Danilo estava mesmo em off-side nos dois golos anulados, o que deve fazer dele o jogador mais azarado na Liga: um golo válido e quatro anulados por off-side. Quanto à expulsão do jogador do Marítimo e ao penálti a favor do FC Porto, as imagens não me permitiram qualquer juízo de valor. Mas registo que o FC Porto terá, com este penálti, abandonado a última posição no que se refere a penáltis assinalados a seu favor: tinha 2 a favor e 3 contra, o que não deixa de ser absolutamente bizarro, tratando-se do segundo ataque e da melhor defesa do campeonato e tendo em conta que o Benfica já dispunha de 6 a favor e o Sporting de 12 (é alias e desde há vários anos, cronicamente a equipa com mais penáltis a favor…).
Fácil vencedor também em Moreira de Cónegos - onde voltou a entrar em jogo essa figura esquiva do golo anulado ou anulável por visão tapada ao guarda-redes (além de defesas decepados, os atacantes terão também de passar a jogar de retrovisores?), o Benfica manteve a liderança e, colado ao FC Porto, preparam-se ambos para gozar finalmente uns dias de folga, desgastados internamente como nenhuns outros, sobretudo o Braga, pela manutenção na frente europeia.
3 - Para os quartos de final da Champions não havia, obviamente, adversários fáceis à disposição do FC Porto, e, inversamente era de prever que todos eles desejassem o FC Porto no sorteio. Mesmo assim e no meio do batalhão inglês, talvez os menos maus fossem o Tottenham (cuja versão sub-19 acabámos de afastar nos quartos de final da Youth League) ou o Manchester United, classificado à custa de um PSG desfalcado e de um inacreditável e inaceitável penálti-VAR no último minuto do jogo de Paris. Mas, não, calhou-nos outra vez o Liverpool. O Liverpool daquele infernal trio atacante Salah/Firmino/Mané. Pelo menos, já os conhecemos e eles acham que já nos conhecem. Temos a vantagem de saber que eles são tremendos e de sabermos que eles nos acham francamente acessíveis. E às vezes é assim que acontecem as surpresas.
4 - Por falar nesse jogo do FC Porto contra o Tottenham na Youth League e no justificado entusiasmo de Pinto da Costa com a qualificação do FC Porto para os quartos de final da competição, vendo nisso a garantia do futuro próximo do futebol portista, há uma reflexão a fazer. De facto, é notável como regularmente são as equipas dos escalões jovens do FC Porto que mais se destacam nas competições internacionais de clubes, mas quem mais fornece jogadores à respectiva equipa principal são os escalões jovens do Benfica e do Sporting e raramente os do FC Porto. E, depois de rodarem um, dois, três anos na equipa principal, são os clubes de Lisboa que fazem as grandes vendas de jogadores formados na casa e não o FC Porto. Porque antes disso, já o FC Porto os vendeu ou emprestou, não chegando a aproveitá-los para a equipa principal: João Félix é um bom exemplo. Os grandes negócios do FC Porto são feitos, não com jogadores formados na casa, mas com jogadores comprados fora e valorizados em casa - Éder Militão é o último exemplo. Por isso, quando Pinto da Costa declara, entusiasmado, que ali, na actual equipa de sub-19, está o futuro do futebol portista, eu não sei se estará o futuro da equipa principal ou o futuro da tesouraria ou das equipas que irão beneficiar dos empréstimos de alguns daqueles jogadores. Que, uma vez emprestados, raramente progridem o que poderiam progredir ficando no Dragão e raramente regressam a casa. Temos o exemplo de Mikel Agu, que está no Vitória de Setúbal e que era, há dois, três anos, e ainda é, um dos mais promissores jogadores do FC Porto nos escalões jovens e na posição 6. Em minha modesta opinião, terminada a formação, estava em perfeitas condições para dar o salto e integrar o plantel sénior, mas, em lugar disso, começou o ciclo descendente dos empréstimos sucessivos, em equipas que apenas lutam pela sobrevivência, com treinadores que não estão ali para o prepararem para os desafios de um grande clube, e, necessariamente, a perder motivação. Quando Danilo se lesionou, no defeso, pensei que finalmente os responsáveis portistas o fossem buscar como alternativa, mas não: preferiram dar 7 milhões por um jogador que o Braga tinha emprestado (de tal maneira o achava útil…). Peço desculpa, mas nem sequer me lembro do nome dele, pois a verdade é que fazia tanta falta que o treinador ainda nem o convocou uma única vez…
E dando dinheiro a ganhar ao nosso inimigo principal, que é o presidente do Braga, por um jogador que nem sequer serve para as convocatórias, em lugar de aproveitar o que temos, é assim que todos os anos, em vários negócios destes, gastamos o dinheiro dos grandes negócios como os de uma venda como a de um Éder Militão. Não que eu acredite que o FC Porto chegue a receber próximo sequer de 50 milhões pelo Éder Militão - entre as habituais comissões, retenções e despesas, se receber 30 será o normal. Mas mesmo 30 não era nada mau, se a seguir não fossemos gastá-los em três ou quarto negócios disparatados, que ainda por cima vêm roubar o lugar aos jogadores que andámos a formar durante anos. Mas a verdade é que eu também ando a escrever isto há anos e nem uma falência serviu para aprendermos…
5 - Há anos também que sabia que o deputado socialista Manuel dos Santos era uma nulidade absoluta. Em tantos anos de vida política, jamais lhe conheci uma iniciativa legislativa, um discurso, uma tomada de posição, que o arrancasse de uma apagada e vil serventia partidária e pudesse recordar o mais pequeno que fosse serviço à causa pública. De tal maneira era a sua inexistência que nem sequer sabia que tinha sido promovido a eurodeputado. Só descobri agora quando enfim deu sinal de vida, revelando-se benfiquista fanático e grosseiramente mal-educado. Surpreendido ele próprio com a sua súbita notoriedade, resolveu então apagar o seu insultuoso tweet contra o treinador portista. Que inteligente! E que corajoso! Espero bem que o episódio assinale o fim da sua triste vida politica, da forma que ela merece.