Vinte anos de excelência
O futebol português, representado pela Seleção, estará eternamente grato a Alcochete e aos futebolistas que ali têm sido produzidos
O projeto pioneiro de Alcochete completou 20 anos e o mínimo que se pode dizer é que o futebol português, representado pela Seleção Nacional, estará eternamente grato àquela academia e aos futebolistas que ali têm sido produzidos. O período de ouro da Seleção Nacional está umbilicalmente ligado à formação leonina e a Alcochete, com Cristiano Ronaldo naturalmente à cabeça, e aos homens que tiveram a ideia de construir aquele espaço e torná-lo um laboratório de excelência, nomeadamente o presidente José Roquette, que idealizou o projeto, vendo mais longe antes dos outros (cumpre recordar que a primeira final conseguida pela Seleção Nacional, a do nosso Europeu de 2004, foi construída e vivenciada em Alcochete, à data o quartel-general da equipa nacional); e mestre Aurélio Pereira, o virtuoso e sempre discreto olheiro que moldou alguns dos melhores futebolistas portugueses de sempre.
Falar de Alcochete é falar do futebolista que lhe dá fama e nome (no sentido literal do termo): Cristiano Ronaldo, o maior atleta português de todos os tempos, um dos seres humanos mais conhecidos e seguidos do planeta e uma das marcas mais valiosas da indústria do desporto. Mas também dos dez Aurélios que ajudaram, de forma decisiva, à conquista do título mais importante da história do futebol português, o Campeonato Europeu de 2016. Lembre-se que essa inesquecível epopeia, conduzida por Fernando Santos, contou com a forte participação de jogadores formados na academia leonina, todos ainda em atividade: Cristiano Ronaldo, Rui Patrício, Nani, Ricardo Quaresma, João Moutinho, William Carvalho, Adrien Silva, João Mário, José Fonte e Cédric Soares. Safras com essa qualidade acontecem uma vez na vida e é muito difícil que a academia leonina, ou qualquer outra, venham a produzir jogadores como Cristiano ou como Luís Figo, só para citar os dois que ganharam Bolas de Ouro do France Football e da FIFA.
Alcochete, academia com um peso único na era dourada do futebol português, é, muito legitimamente, um enorme motivo de orgulho para os sportinguistas. Mas nem tudo têm sido rosas no historial deste espaço. Ao contrário do que seria lógico e expectável, dada a qualidade da matéria ali produzida (de Ronaldo, Quaresma, Nani, Patrício e Moutinho a Nuno Mendes, Rafael Leão e Gonçalo Inácio), a fábrica de Alcochete não surge ligada a um fluxo ininterrupto de transferências espaventosas, como sucede com a igualmente excelente academia benfiquista, que tem sido uma espécie de pulmão económico do clube; nem sequer a um período particularmente profícuo do futebol sénior sportinguista (já no futebol juvenil, os leões lideram folgadamente o ranking de títulos (23) à frente do Benfica (16) e do FC Porto (12). Por muito estranho que pareça, desde a data da inauguração de Alcochete (21 de junho 2002), o Sporting só foi campeão nacional de seniores numa ocasião - no ano passado, curiosamente com forte componente de Alcochete no plantel de Rúben Amorim. E viveu um período particularmente sombrio no decurso do mandato de Bruno de Carvalho: a somar ao forte desinvestimento na formação, foi nas instalações da academia que ocorreu um dos episódios mais velhacos da história do desporto nacional.
Ontem, no esplêndido dossier que A BOLA publicou sobre os 20 anos de Alcochete, assinado pelo camarada Miguel Mendes, retive a seguinte frase de Tomaz Morais, diretor da formação leonina: «(…) Se estudarmos o Sporting, aquilo que os adeptos gostam é de formação. Os adeptos vivem a formação. Esperam pacientemente e apoiam um jogador que chega à equipa A. Sentimos o suporte dos adeptos e isso é o ADN do Sporting.» Tem toda a razão. Eu ainda vi Paulo Futre e Luís Filipe Platini Litos (agora querido companheiro de estúdio na BOLA TV), nos tempos em que os miúdos do Sporting treinavam no pelado junto ao Estádio José Alvalade. E lembro-me bem o que é que eles significavam para os adeptos. Orgulho. Esperança. Tudo.
Fernando Gomes, presidente da FPF, parabeniza Frederico Varandas, homólogo do Sporting
COISAS DE RICOS
I MPRESSIONANTE a presença do PSG no mercado depois de impedir a saída da estrela Kylian Mbappé para Madrid a troco de um prémio de «continuidade» e um pacote de amenidades com contornos pornográficos. Alavancado pelo inexaurível músculo financeiro [do fundo soberano] catari que lhe sustenta folhas de pagamentos, devaneios e sonhos, e cobre prejuízos gulliverianos e objetivos europeus fracassados, o clube parisiense parece ter levado a mal não ter conseguido convencer o médio francês Tchouaméni a trocar o Bernabéu pelo Parc, como fez Mbappé.
Vai daí o PSG (com Luís Campos a indicar o caminho) faz cara de mau e decide mostrar quem tem o quê, enquanto prepara os €15 milhões da indemnização ao despedido treinador Pochettino e mais €10 milhões para pagar ao Nice a cláusula de rescisão do treinador Christophe Galtier. Como é fácil a vida quando podemos gastar sem limite e não temos de prestar contas a ninguém! Segundo a imprensa francesa, o clube vai fechar o exercício económico com perdas entre os 250 e 300 milhões de euros (há um ano as perdas foram de €225 milhões), mas isso não tira o sono nem ao diretor financeiro do PSG… nem aos reguladores da Ligue e da UEFA. A fazer fé nos relatos dos jornais e sites franceses, italianos e espanhóis dos últimos dias, ali estão eles prontos a entrarem na corrida por Lewandowski; prontos a baterem a cláusula de rescisão de Vitinha; prontos a desviarem Renato Sanches de Milão para Paris. Enfim: prontos para tudo e mais alguma coisa que não tenha a ver com a realidade dos clubes normais, isto é, aqueles que são obrigados a fazer contas e a viverem de acordo com as regras normais da economia e da contabilidade empresarial.
Desejo a melhor sorte ao notável contingente português do PSG (Luís Campos, Nuno Mendes, Danilo e, possivelmente, Vitinha) na concretização dos objetivos que estão ao alcance do clube - a conquista de competições francesas - e lembro, socorrendo-me de um interessante trabalho publicado há dias pela italiana Gazzetta dello Sport, os milhões que os Al Thani, família reinante do Catar e proprietários do clube, pagam anualmente para ter este brinquedo, perdão, esta equipa à disposição: Keylor Navas (internacional costa-riquenho); Colin Dagba, Thilo Keher (int. alemão), Abdou Diallo (int. senegalês) e Layvin Kurzawa (int. francês); Ander Herrera (int. espanhol), Leandro Paredes (int. argentino), Idrissa Gueye (int. senegalês) e Georginio Wijnaldum (int. neerlandês); Mauro Icardi (int. argentino) e Julian Draxler (int. alemão).
Trata-se do onze dos suplentes do PSG. Ah, Pablo Sarabia, titular da seleção espanhola, pode regressar brevemente a esta banda.