Ver Messi (e mais)

UM destes sábados, ao ver em A BOLA, a forma poeticamente sublime como Jorge Valdano desmontou o que Messi é (para além daquilo que, por vezes, se não vê nos seus prodígios) não deixei de ver por lá também o Bruno Fernandes. Por exemplo, quando o Valdano o disse:

- No futebol chamamos génio àquele que não se ajusta a um padrão e transforma em normais coisas que parecem mágicas. É o Messi.

Sim - e isso é o que o Bruno Fernandes vai fazendo também (cada vez mais e melhor) - conseguindo com que, através de um toque ou de um drible, de um enleio ou de um remate, se solte em harmonia o que noutros talvez fosse só destrambelhos. Fá-lo, como o Messi, a jogar com o rigor de um matemático ou com a astúcia de malandro - com a bola, deliciada, a lamber-lhe as botas, submissa e obediente, sem protesto ou descabelo. Fá-lo, como o Messi, como se tivesse nos pés o serrote a dar-lhe o golo com que esfrangalha o adversário - ou a tela limpa  com que, no seu jogo, foge à extravagância inútil do artista em rococó.

É,é isso que Messi faz (esqueçam lá Liverpool...) - e é isso que faz com que o Bruno Fernandes se tenha tornado no que se tornou (levando o Sporting onde talvez se não imaginasse) - como se, a cada semana que passa, se lhe saltasse das chuteiras em deleite um novo milagre, sem que ele deixasse de mostrar que não há jogador melhor do que aquele que coloca o seu génio ao serviço dos outros (e da sua equipa).

OK, se Messi pode não vir a ser mais do que já é - Bruno Fernandes será, decerto, ainda mais do que já é. Claro: o que dele disse, poderia dizê-lo também do Bernardo Silva. E acrescento-o: só vejo uma forma de Ronaldo acabar esta época em maior fulgor que eles os dois: é Ronaldo voltar a jogar, na Liga das Nações, um futebol como se não fosse deste mundo (o que o levou para além do Messi tirando-lhe das mãos a Bola de Ouro) - e Portugal ganhá-la (a seus pés, mais do que aos pés de qualquer outro).