Varandas sobre... Cintra!..

OPINIÃO27.10.201804:00

Ao contrário do que possam pensar, não alterei a minha opção de escrever as minhas crónicas na ortografia antiga. Na antiga ou na moderna ortografia, escrever o nome da bela vila do distrito de Lisboa com cê seria sempre um erro ortográfico monumental.
Sintra é, e será sempre, uma paixão da minha infância e adolescência, o local das minhas férias de que me recordo muitas vezes com grande saudade. Meus Pais tinham aí uma pequena casa, hoje desaparecida, tendo dado lugar a um empreendimento imobiliário denominado ‘Varandas de São Carlos’. São Carlos é um lugar da freguesia de Mem-Martins, e, nesta freguesia, existe um clube que me diz bastante: o Mem Martins Sport Clube, de que já fui Presidente da Direcção e Presidente da Assembleia Geral!
Das varandas dessa casa desfrutava-se uma paisagem que sempre adorei: a serra de Sintra, com os seus castelos dos Mouros e da Pena. Infelizmente também conservo na memória, aliás recentemente avivada, a imagem dantesca do «grande fogo da Serra de Sintra», ocorrido entre 6 e 12 de Setembro de 1966! Sobretudo, à noite, quando estava preparando o meu exame de Teoria Geral do Direito Civil, aprazado para a época de Outubro, com o meu estimado e admirado Professor Paulo Cunha, a quem fiquei a dever muito do pouco que hoje sou! Estudava ainda por esse monumento jurídico que era o  Código de 1867 do Visconde de Seabra, substituído a 1 de Junho de 1967 pelo actualmente em vigor!
Não é, porém, dessa linda vila que quero falar, nem as varandas são verdadeiramente aquelas plataformas salientes das fachadas dos prédios, com janelas altas rodeadas de grades, mas antes pontos de observação de pessoas e coisas, factos e acontecimentos. E, esta semana, um dos acontecimentos sob a minha observação não podia deixar de ser a entrevista do ex-presidente da SAD (e do clube) à concorrência. Assomando-se à varanda da fama, em dia de homenagem, por acaso, no concelho de Sintra, veio revelar, com genuinidade, é certo, mas sem qualquer sentido de oportunidade, que José Peseiro, foi a sua terceira escolha para treinador do Sporting! Entre outras, como a indecisão do mesmo, a análise dos 300 jogadores, as informações do amigo, para não falar da gordura do Viviano e a afirmação de que não houve quem o quisesse, numa clara valorização deste activo!
Mas a melhor de todas as revelações é a de que nem todos os elementos da Comissão de Gestão concordaram com a sua aposta em Peseiro, ao contrário de todos os candidatos às eleições, que, se por qualquer motivo, não concordavam, pelo menos respeitaram, a decisão. Mesmo Madeira Rodrigues, que queria Ranieri, respeitou Peseiro nas considerações que fez sobre ele. Não me parece, salvo melhor opinião, que quem deu agora esta entrevista, tenha respeitado a sua própria escolha e decisão!...
Tiro no pé ou retirada do tapete? Pelo contrário, a passadeira foi estendida e o tiro teve outra direção!
De outras histórias reveladas, como o encontro com Le Guen ou o passaporte do Jesus nem falo. Revejo-me, no entanto, no apelo para todos os sportinguistas estarem ao lado do presidente, «unidos, a puxar todos para o mesmo lado»!  Atrevo-me, no entanto, a uma chamada de atenção ao presidente Varandas, seguindo o raciocínio popular de que quem tem amigos destes não precisa de adversários: quem tem um assobio destes na varanda presidencial, não precisa das assobiadelas da claque!...

A sina de António Simões

Que falta faz, e cada vez mais, esse grande escritor da língua portuguesa, conhecido por Eça de Queiroz, um criador de figuras da sociedade de então, mas que permanecem no dia a dia deste século XXI, onde a tecnologia avança e evolui de uma forma absolutamente fantástica, mas a mentalidade parece regredir, para não falar dos princípios e valores que vão sendo abandalhados. É provável que ele dedicasse mais a sua escrita aos Teodoros da política, e não ligasse nenhuma aos Teodoros do futebol, que também os há, e em grande quantidade. Teodoro foi uma figura criada por Eça, no seu livro ‘O Mandarim’, que se apresenta como um «amanuense do Ministério do Reino», e, a certa altura se descreve: «Infelizmente corcovo -  do muito que verguei o espinhaço, na Universidade, recuando como uma pega assustada diante dos senhores lentes; na repartição, dobrando a fronte ao pó perante os meus diretores-gerais. Esta atitude de resto convém ao bacharel; ela mantém a disciplina num Estado bem organizado; e a mim garantia-me a tranquilidade dos domingos, o uso de alguma roupa branca, e vinte mil réis mensais». Os Teodoros da bola andam pelas televisões, jornais, tribunas e outros recantos do futebol indígena, com a única diferença que a roupa branca foi trocada por umas camisolinhas e uns almoços, e os vinte mil não são, seguramente, apenas réis.
Simões, esse grande jogador da geração de 60, chama-se António e não Teodoro, nome que aliás assentaria bem a alguns dos seus críticos de momento. Mas Simões tem que ter paciência, porque há muita gente que não sabe, nem lhe interessa saber, o que é isso da liberdade de expressão e opinião; há gente que não admite que a espinha só curve quando a lei implacável da vida o determinar; há gente que não aceita que «há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não», como escreve Manuel Alegre. E, sobretudo, há gente que é apenas ... gentinha ou, simplesmente, gentalha!...
É a sina do meu bom amigo António Simões, que muito admiro: em jovem, alguém do Sporting não o quis em Alvalade por não ser um homem grande; agora, alguém o quer afastar do Benfica por ser um grande Homem!...

Agradecimento

Não quero deixar de agradecer as muitas mensagens de solidariedade recebidas por causa da desfeita da Sporting TV. E aproveito para esclarecer que não fiquei magoado com ninguém. Só o Sporting e os sportinguistas me poderiam magoar e isso não aconteceu. Quem tomou a decisão não tem dimensão moral ou mental para me magoar e apenas merece uma resposta com os pés. Com os pés que eu não volto a pôr!...