VAR e burrices

NOTA prévia: esta conversa com Nelson Rodrigues (que está para a crónica no futebol como mistura do melhor que há no Pelé, no Maradona, no Messi e no Cristiano Ronaldo) não é uma conversa (porque é simulacro) e a razão de a fazer assim adiante se verá...  
- Continua a acreditar que no futebol o pior cego é o que só vê a bola?
- Pois sim! E a deliciar-me com o Sobrenatural de Almeida,  o Cretino Fundamental, o Idiota da Objetividade, a Aldeia Espanhola do Quase…
 - Essa sua Aldeia do Quase em que as mulheres são quase bonitas, os homens quase honestos, as esposas quase fiéis, os ladrões quase ladrões é das mais enleantes metáforas que o futebol tem, mas quando afirma que não se faz boa literatura ou bom futebol com bons sentimentos eu logo me lembro de...
- ... de eu dizer que a arbitragem normal e honesta confere às partidas um tédio profundo, que só o juiz gatuno dá ao futebol uma dimensão nova e shakespeariana, que espetáculo deixa de se resolver em termos especificamente técnicos ou táticos?
- Sim. Isso que, no fundo, acaba por dar ao futebol grandeza terrível…
- É! Porque o juiz larápio revolve, no time prejudicado, esse fundo de crueldade, de insânia, de ódio, que existe, adormecido, no mais íntegro dos seres.
- Só que agora já não lhes bebem o sangue nos estádios, bebem-lho na VAR...  
- VAR?! Não entendi, não!
- Lembra-se daquele penálti contra o Flu que você jurava que era e não era?
- Isso jamais esquecerei: me mostraram a imagem da televisão e afirmei: se o videoteipe diz que é penálti, pior para o videoteipe, o videoteipe é burro...
PS: Se em alguns lances (cá ou não) o VAR se parece com o Nelson Rodrigues a falar da «burrice do videoteipe», a culpa não é do VAR. E sendo o VAR a melhor forma de se dar ao futebol mais verdade - para que não o matem, atilado seria a FIFA acabar de vez com a burrice (aí sim) de se anularem golos justificados por off-sides de três centímetros.