Vaga ‘antibenfica’ chega mais cedo

OPINIÃO07.01.202001:10

É incontrolável  a  mania de presidentes de clubes se  aproveitarem  da projeção noticiosa  que os jogos com os grandes suscita para dizerem inutilidades e mostrarem-se ao país
No essencial ,  foi  o que fez o presidente do Vitória SC, sem se dar conta do que seu treinador  afirmara minutos antes - e se  tivesse esse cuidado talvez a intervenção que resolveu fazer fosse no sentido de valorizar o desempenho  da sua equipa e enaltecer a competência de quem a preparou e orientou, Ivo Vieira.  
Preferiu enveredar por um discurso inócuo,  tradutor  de quem se deixou motivar por alguém  ou alguma coisa  para mostrar uma mão vazia de ideias. Acontece, sobretudo a quem chegou à presidência há pouco tempo e ainda se deslumbra  com os recados que hábeis  máquinas de propaganda colocam no mercado para consumidores  distraídos. Recados como aquele que foi debitado na semana que antecedeu o clássico de Alvalade e assinado por  figura de  infinda experiência, que  faz isto de olhos fechados.  A intenção, porém,  é a mesma de sempre:  confundir,   baralhar e voltar a dar de cada vez que a posição dos astros  é sinónimo de notícias que não se desejam.
No último campeonato a epidemia só atingiu o pico a partir da  28.ª jornada, com a ridícula congeminação antibenfiquista  relativamente ao jogo da Feira, mas no atual deve começar mais cedo. Creio até que já começou  e o único motivo  que se enxerga para tanta pressa   terá a ver com a diferença no ordenamento classificativo de uma época para outra: se há um ano, por esta altura, o dragão estava sete pontos à frente da águia, agora está quatro atrás, com a particularidade de ter vencido nos dois clássicos que disputou  na capital.  

Esta jornada 15 foi interessante e prenunciadora  de tempos muito difíceis para o Benfica,  no campo, muito naturalmente,  e fora dele, no jogo falado, em que o ilimitado exercício da palavra tudo consente, incluindo a intriga rasca e o insulto.
A inusitada  atitude do presidente vimaranense provocou igualmente estranheza  por trazer  à colação o Sporting de Braga,  esgrimindo o argumento  de a equipa da arbitragem  ter sido a mesma nos jogos dos dois clubes  minhotos com o Benfica.
Em relação a este ponto, duas observações:
Sobre o trabalho do árbitro, a lamúria do costume,   basta ler  as opiniões da generalidade dos especialistas na matéria para verificar que lhe falta razão nos reparos que aventou.
Sobre a comparação ao SC Braga convinha que fosse esclarecedor e  nada deixasse por dizer de maneira a poder entender-se o objetivo da mensagem. Dizer que o árbitro e o VAR foram os mesmos, sim, e depois? Clarifique!
Tentar arregimentar o SC Braga para cruzada vitoriana até nem foi despiciendo, não pela questão esfarrapada da arbitragem , mas numa perspetiva de futuro, de maior abrangência, porque  o  caminho que  Pinto Lisboa tem de trilhar, mesmo sem assumi-lo publicamente, devido às  rivalidades pacóvias, será idêntico  ao do seu vizinho António Salvador que também  chegou à presidência do clube bracarense em cenário de enorme complexidade,  mas foi célere a aprender que, se quisesse vingar, teria de ser duro, pensar pela sua cabeça e defender intransigentemente os interesses do seu clube sem se preocupar  nem com comentários, nem com reações de outros atores, independentemente do peso e da influência que pudessem  exercer.

Salvador depressa passou a ser conhecido como presidente de clube em afirmação  que, no mesmo dia, tomava o pequeno almoço em Lisboa com o presidente do Sporting, almoçava com o do Benfica e no regresso a casa jantava com o do FC Porto.
Por isso, fez o SC Braga sair do anonimato e adquirir dimensão europeia. Chegou ao patamar mais elevado, a  Liga dos Campeões,  e  foi  finalista da Liga Europa, tendo na presente temporada vencido seu grupo, um dos  objetivos desportivos.
Por isso, o SC Braga promove a marca do clube, associada à cidade e à região, à semelhança do Liverpool, por exemplo, enquanto, sabe-se  lá  por que mistério assim procedem, adeptos do Vitória parecem mostrar-se relutantes em casar com Guimarães por se considerarem honrada e unicamente vitorianos, do Sport Clube, o que, em rigor, não diz nada a ninguém.
É um aliciante desafio que Pinto Lisboa deveria abraçar porque «o   mundo pula e avança, como bola colorida». Isto é, ou o Vitória (de Guimarães) alarga os  horizontes,  sai das    muralhas do castelo e enfrenta o mundo sem receio dos desafios que se lhe depararem , ou  enfrenta o risco de ficar eternamente limitado às discussões  futeboleiras de café e resignado  a testemunhar o crescimento do rival  SC Braga,  pelo menos enquanto António Salvador for  o seu presidente.