Uma semana pedagógica

OPINIÃO24.09.201904:00

1 Na semana passada, houve um comunicado da SL Benfica - Futebol, SAD, com  informação económica e financeira consolidada relativa ao exercício findo a 30 de Junho, realizou-se o primeiro jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões e, por fim, o desafio em Moreira de Cónegos.
Quanto ao primeiro ponto, importa assinalar um conjunto de dados económicos, financeiros e patrimoniais que evidenciam a melhoria sustentada da SAD. Entre os elementos divulgados pelo seu C. Administração, transcrevo um ponto estruturante da actual fase de consolidação: «os rendimentos operacionais (excluindo transacções de direitos de atletas) atingem os 165,7 milhões de euros, o que corresponde ao valor mais elevado de sempre alcançado pela Benfica SAD e representa um crescimento de 36,3% face ao período homólogo; esta evolução nos rendimentos operacionais é principalmente justificada pela entrada em vigor do novo critério de distribuição de prémios nas competições europeias da UEFA, para o ciclo 2018/21, o que implicou um aumento generalizado dos valores a distribuir (…)”.
No que a este assunto do comunicado diz respeito, começou mal o Benfica, desportiva e financeiramente (-2,7 milhões), na partida contra os líderes da Bundesliga, o Leipzig. Depois de duas finais na Liga Europa e de uma boa participação na Champions (quartos-de-final, em 2015/16), nos últimos 13 jogos, entre 2017 e 2019, foram 10 derrotas, 2 vitórias - contra o AEK - e 1 empate.  Se, realisticamente, não pode haver a ilusão de um Benfica europeu de alto nível (nesta principal competição), também não pode acontecer este decepcionante desempenho.
Concordo com Bruno Lage quando afirmou que o jogo europeu até nem foi mau e não envergonhou os adeptos. Reconheço que o Leipzig tem maturidade colectiva, precisão de passe, simplicidade de processos e arcaboiço físico diferenciadores. Acho que, ao contrário de anteriores épocas, em que a equipa jogava em inferioridade psíquica e tremideira, tal não foi evidente neste jogo. Houve até ocasiões suficientes para, pelo menos, empatar o jogo. A diferença esteve sobretudo na eficácia. A equipa germânica teve três oportunidades e converteu duas. O Benfica teve quatro ou cinco hipóteses para acabar por fazer um só golo.
O futebol é rico em contingências que mudam a feição ou o resultado de um jogo e, inevitavelmente, a sua avaliação. Foi o caso. Se Cervi ou Pizzi tivessem convertido dois golos cantados, Bruno Lage tinha sido genial a escalar o onze inicial. Assim, logo surgiram, de supetão, as críticas e um artificioso ‘estado de pré-crise’, tão do agrado de certas audiências. Como ele bem recordou, em Fevereiro, contra o Galatasaray em Istambul, a rotação e a aposta em ‘jovens do Seixal’ foi de mestre para a opinião publicada. Agora tal rotação foi considerada excessiva, deslocada e trocada. Cá para mim, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. André Almeida - de fora, por razões compreensíveis - foi bem compensado pelo estreante Tomás Tavares, que não tremeu. Do meio-campo para a frente, as lesões em série têm certamente dificultado a gestão do plantel (Gabriel, Florentino, Gedson, Chiquinho, Vinícius). Visto de fora, apenas a não entrada inicial de Rafa foi surpreendente, ainda que Cervi tenha cumprido, e se tivesse marcado o golo que teve nos pés, outro galo cantaria.
Já aqui o escrevi e volto ao assunto. Sejamos realistas.  O plantel é inferior ao da época passada. Jonas não tem manifestamente substituto à altura, reconhecendo que se trata de uma missão impossível ter um seu clone à disposição imediata. Quanto a João Félix, também não enxergo uma alternativa à mesma altura, o que não é de estranhar. E quem entrou no plantel? De Raul de Tomas e Vinícius ainda não há evidências de desempenho que justifiquem os 37 milhões que custaram. Chiquinho foi uma boa aquisição, mas metade da época foi ao ar. É certo que o meio-campo tem mais e melhores soluções, pois conta esta época com um recuperado Taarabt, bem como Florentino a confirmar a sua relevância. Acrescem os três Tavares, cada qual com o seu perfil, mas creio com boas perspectivas já nesta primeira época na equipa principal. Na frente, Jota é um jovem que é capaz do bom e do medíocre em minutos seguidos, que precisa de ter mais consistência, ainda que as oscilações se devam também, em meu entender, a diferentes papéis que tem vindo a desempenhar. Caio Lucas não faz esquecer Salvio. Por fim, Samaris parece não contar, ele que foi precioso na conquista do último campeonato.

2 E chegámos ao sábado à noite. Transcrevo, aqui, o título de um dos jornais de domingo (Jornal de Notícias) que define, com humor e clareza, a vitória do Benfica: «Águia benta. Na terra dos cónegos, o milagre da reviravolta aconteceu ao cair do pano».  Foi um jogo reconhecidamente insuficiente. Valeram a fezada de alguns jogadores, um inconformado Rafa, uma boa batata frita de Seferovic descascada por um Jota acabadinho de entrar.
Custa a compreender a maneira como a equipa jogou, sobretudo na primeira parte: lenta, lentíssima, parada. Nada o justificava, nem o cansaço, nem o tempo, nem o relvado, nem nada. A segunda parte começa com dois lances de perda infantil da bola, perto da área. O primeiro deu em canto. O segundo deu em golo do Moreirense. Em ambos, se viu uma maneira de estar em jogo que não entendo - expliquem-me! - qual seja a de se passarem estéreis minutos em passes e passinhos entre o guarda-redes e os defesas, ora vai para o lado, ora vai para trás, o que, não raro, dá mau resultado, ou termina com Vlachodimos aflito a mandar a bola para as alturas. Aliás, esta ‘mania’ não é exclusiva do Benfica. Vê-se isso constantemente nas equipas portuguesas, sejam as mais poderosas, sejam as de menor valor.
Acontece que o que bem acaba é o que faz história e um campeão também se faz com vitórias bem suadas e felizes. A bom propósito, trata-se da 13.ª vitória consecutiva de Bruno Lage em jogos fora de casa (se não é recorde, anda lá perto). Os minutos finais são sempre o clímax do futebol. Desta vez correu bem ao Benfica, nos escassos 3 minutos de ‘desconto’, diante dos adeptos que jamais deixaram de apoiar a equipa, como era bem audível na transmissão televisiva. Na semana anterior, correu bem ao Porto nos abundantes minutos de descontos sobre descontos. Ambos de cabeça, no caso do Benfica com cabeça, no caso do Porto na cabeça do Nakajima.

3Na rota europeia, excelente resultado do Sporting de Braga na Inglaterra, no jogo europeu das equipas portuguesas antecipadamente mais complicado. Os outros resultados eram, mais ou menos, o que se esperava. A nossa posição no ‘ranking’ está agora a aproximar-se do tão almejado lugar ora ocupado pela Rússia, que dá dois lugares directos na Champions e um hipotético terceiro. Para tal, também muito tem contribuído o desempenho das equipas russas, umas já eliminadas, outras com resultados bastante negativos. Realce para o Krasnodar que, depois de ter eliminado o FCP da Champions , levou 6-1 do Olympiakos no conjunto dos dois jogos do play-off e se estreia com uma derrota copiosa (0-5) contra uma equipa helvética. Por associação, tenho presente a declaração de Sérgio Conceição na conferência de imprensa que antecedeu o jogo contra uma equipa também helvética: «é melhor estar a competir para ganhar a Liga Europa, do que ser eliminado na fase de grupos da Liga dos Campeões». Nem nestes momentos, o homem se liberta da sombra do Benfica, credo! Pelo menos implicitamente, já prognosticou, ao fim de uma jornada, o destino dos encarnados (certamente, não se estava a referir a uma eliminação do seu próprio clube numa qualquer fase de grupos…). Só se enganou num ponto que talvez tivesse dado jeito (pelo menos, financeiramente) ao FCP: ir à fase de grupos da Liga dos Campeões, ficar em terceiro lugar, e, depois, competir para ganhar a Liga Europa…