Uma potência do séc. XXI
No fundo, nenhuma surpresa: Portugal voltou a vencer o velho cliente holandês - com toda a justiça, como unanimemente reconheceu a Imprensa internacional - e somou o segundo título europeu em três anos com Fernando Santos ao leme. Para quem procura ver a floresta e não somente a árvore, o triunfo de Portugal confirma a excelente sequência da Seleção nas duas primeiras décadas do séc. XXI, indiscutivelmente a idade de ouro da equipa nacional. Dois títulos, três finais e sete presenças em meias finais nos 12 torneios disputados é um balanço admirável que coloca a nossa Seleção ao nível da elite (Espanha, França e Alemanha) e acima de potências históricas como a Itália, a Holanda e a Inglaterra. Somos a única seleção europeia que não falhou qualquer fase final no séc. XXI e a única que chegou pelos menos às meias finais das quatro competições existentes - Mundial, Europeu, Taça das Confederações e Liga das Nações. O quadro em anexo não mente: os números de Portugal inspiram respeito e são quase grotescamente superiores a tudo o que foi feito até 2000, com as exceções dos magriços em 1966 e dos patrícios em 1984. E aqui tem de se sublinhar a incrível competitividade do engenheiro Santos: o que lhe falta em sentido estético sobra-lhe em eficácia e pragmatismo: com ele ao leme Portugal sofreu duas derrotas em 41 jogos oficiais. E perdeu apenas uma vez ao longo de quatro fases finais (e um total de 18 jogos) - 1-2 com o Uruguai no Mundial de 2018 -, terminando invicto o Euro-2016, a Taças das Confederações de 2017 e a Liga das Nações de 2019. Portugal deve ser neste momento a seleção mundial mais difícil de vencer, ninguém tem um registo sequer semelhante ao de Fernando Santos. Podemos continuar a pensar que a Seleção podia jogar um futebol mais impositivo e atraente para os jogadores que tem, mas o eng. Santos responde com dois títulos em duas finais. É muito difícil argumentar contra isso.
Para se ter uma ideia de como Portugal tem sido competitivo no segundo milénio, basta dizer que é a seleção com mais vitórias (17 em 29 jogos) nas fases finais das competições exclusivamente continentais (Europeu e Liga das Nações), claramente à frente das poderosas Espanha (14 em 23), França (13 em 24), Alemanha (11 em 23) e Itália (11 em 24), e muito acima da Holanda (9 em 19) e Inglaterra (6 em 17). A única competição na qual a nossa Seleção tem estado claramente abaixo do nível das outras potências é o Mundial: apenas uma meia final em 5 participações e duas eliminações logo na fase de grupos (2002 e 2014). É aqui que temos de melhorar.
A terminar, parabéns ao público do Dragão, caloroso e ruidoso do primeiro ao último minuto. Após três finais perdidas em Lisboa (Benfica na Taça UEFA em 1983; Portugal no Europeu em 2004; e Sporting em 2005), o futebol português festejou finalmente o seu primeiro título em casa - na Invicta. Foi bonito. Estão todos de parabéns, equipa técnica, jogadores e a própria Federação: a máquina está bem montada e tem feito um trabalho híper profissional com as seleções. Termino com a elite das elites, ou seja, com o nome dos dez magníficos que estiveram nas vitórias do Euro 2016 e na Liga das Nações de 2019: Fernando Santos; Rui Patrício, José Fonte, Raphael Guerreiro, William Carvalho, Cristiano Ronaldo e João Moutinho (jogaram as duas finais), Pepe, Danilo e Rafa Silva (falharam uma das finais).