Um sobressalto, um salto (do banco) e alegria de novo
Há horas felizes, diziam os cauteleiros. Para Amorim e Jovane foram apenas necessários 10 minutos felizes, com génio e muita vontade à mistura. Uma coisa de chorar por mais…
D EPOPIS da derrota com o Marítimo, que afastou o Sporting da Taça de Portugal, esperava-se uma reação de força contra o Rio Ave, para mais em Alvalade, ainda que sem público, jogar fora ou em casa seja relativamente semelhante. Essa reação pareceu existir na primeira parte, sobretudo quando o inevitável Pote fez o 1-0 e levou a equipa para o intervalo a vencer. O pior veio depois, quando Gelson Dala empatou, numa jogada construída, delineada e treinada provavelmente ainda em Alcochete, na Academia do Sporting, onde ele, Geraldes e Mané aprenderam a jogar. Ao Sporting, a que já faltavam jogadores devido ao maldito Covid, faltou imaginação e força para mais, e o jogo por ali ficou, empatado a um até ao fim.
A pena pela perda dos dois pontos era tanto maior quanto meia hora depois entravam em campo FC Porto e Benfica, podendo um deles, o que ganhasse o desafio, encurtar a distância de quatro para dois pontos. Aos 17 minutos Grimaldo fez as coisas penderem para a Luz, mas, oito minutos mais tarde, Taremi (que acabaria expulso a um quarto de hora do fim do jogo) empatou as coisas. Descontando uns erros de arbitragem (Pizzi devia ter sido expulso muito antes de Taremi, é a opinião unânime, penso, dos comentadores), o FC Porto aguentou um Benfica que não deu muito, e as coisas acabaram no Dragão como em Alvalade. Os dois rivais seguem quatro pontos atrás do Sporting.
Para que a jornada não ficasse inteiramente empatada, e sem mexidas nos da frente, o Paços de Ferreira, que curiosamente na semana passada aqui elogiei, chamando a atenção para a sua carreira interessante na I Liga, encarregou-se de receber o SC Braga e de lhe ganhar 2-0. Os minhotos que podiam ficar a dois pontos de Benfica e FC Porto, e a seis do Sporting, quedaram-se mais longe (a cinco e a nove, respetivamente), e com a possibilidade de o V. Guimarães, que tem dois jogos a menos, se colar, estando o próprio Paços apenas a dois pontos. Na verdade, a jornada correu mal a todos os da frente, exceto ao SC Braga, a quem correu de modo péssimo.
Um jogo do meu coração
M UITA gente, e com razão, viu nos dois resultados do Sporting (derrota com o Marítimo e empate com o Rio Ave, em casa) um sinal de decadência. Entre os sportinguistas já havia críticas ao treinador por isto e aquilo e, claro, à Direção, que tendo por onde ser criticada, não será seguramente pelos resultados do futebol.
Naturalmente, para quem estava habituado a não perder (desde o jogo com o LASK, a 1 de outubro passado) e a marcar em todos os jogos, levar dois do Marítimo sem conseguir um único golo é preocupante. Mais preocupante se torna quando não se consegue reagir com eficácia ao golo do Rio Ave. Estaria alguma coisa a falhar no Sporting? O que estaria diferente?
No jogo com o FC Porto, além de alguma sorte com que contámos (nomeadamente numa recarga de Marega à trave, no final da primeira parte), vimos o golo que sofremos. Golo estranho, aos soluços, enganador, que leva Adán a fazer menção de se atirar para o lado errado e que acaba por entrar aos pulinhos e devagar nas nossas redes. Juro que é preciso muita fé para acreditar que ainda íamos empatar; eu tive-a.
Num parêntesis com uma nota pessoal, devo dizer que vi o jogo com um monitor Holter no peito. Este monitor verifica continuamente a atividade do coração durante 24 horas, como se fizéssemos um eletrocardiograma que durasse um dia. Pois bem, um médico amigo, muito sportinguista, disse-me: «Se depois deste jogo a análise do Holter for normal, és homem para viver até aos 100.» Na verdade, ainda não sei o resultado (o aparelho foi-me retirado ontem à tarde); mas mandaram-me escrever num papel o que se passava comigo, que atividades estava a fazer e a que horas, para compararem com a atividade cardíaca. E eu escrevi: 21:20 golo do FC Porto, tristeza; 21:27 golo do Sporting, alegria; 21:35 outro golo do Sporting, euforia. Posso, assim, estabelecer se viverei até aos 100 ou não, e de que modo os golos dos adversários me afetam, bem como os golos do Sporting, pelo menos em jogos com adversários poderosos.
Mas voltando ao jogo e à fé que tive, há que realçar que a notícia da queda do Sporting era manifestamente exagerada. É certo que Nuno Santos e Pedro Gonçalves não estão num pico máximo de forma, embora os dois golos fossem com assistência de cada um deles; é certo que outros jogadores estarão a render menos do que já renderam; mas é igualmente verdade que Matheus Nunes mostra estar num bom momento, e que dizer de Jovane? Já contra o Nacional, no passado dia 8, nos dera o merecido descanso dos 2-0, em cima do minuto 90. E agora, contra o FC Porto, deu-nos o merecido empate e a merecida vitória em oito minutos, dos apenas 16 que esteve em jogo, entrando aos 78’ para substituir um esforçado Tiago Tomás, que apesar de ter muitas pilhas, teve em Pepe um inimigo terrível.
E Jovane, além de ser o herói, chorou - de alegria, penso - por demonstrar cabalmente que faz muita falta a qualquer equipa que o tenha. E que vale, a partir de terça à noite, muito mais do que valia antes daquele primeiro golo de antologia, e do segundo que arrancou uma vitória quando já quase ninguém, salvo aquela linha Coates, Pote e Jovane, numa enorme velocidade e precisão, foram empurrando a bola até ao luso-caboverdiano a colocar na baliza.
O Sporting voltava a mostrar que tem treinador, que tem garra, que tem vontade. Que entra em qualquer jogo para ganhar; que sabe sofrer, que sabe perder sem se deixar abalar. É o Sporting de que os adeptos só podem gostar.
O jogo do Covid
O encontro entre Sporting e FC Porto ficou também marcado pelo facto de a equipa leonina ter jogado sob protesto, e pelas peripécias que envolveram responsáveis dos dois clubes. Desde logo, o dramatismo do FC Porto, ao colocar a hipótese de não jogar porque o Sporting ia cometer um crime contra a saúde pública. Tudo isto porque o Sporting pretendia que Sporar e Nuno Mendes fossem incluídos na convocatória, depois de vários testes negativos.
Naturalmente, não sendo médico, nem tendo investigado o caso, acredito naquilo que Frederico Varandas, ele sim, médico (e com deveres deontológicos daí decorrentes) disse, no fim do jogo. E fiquei preocupado. Mais ainda quando, tentando ver o que era e de quem é o dito laboratório onde se mandam fazer as análises dos jogadores, verifiquei que o site que existe, está em baixo (e mais tarde surgiu o anúncio de que estão «a preparar algo novo»). Procura a mais? Algo novo como? Será a tentativa de esconder o que por aí circula, indicando que o laboratório tem na sua direção diversas pessoas ligadas ao FC Porto e à própria Federação? Seria algo que não teria mal nenhum se não existissem outros casos estranhos, nomeadamente com o V. Guimarães e o Famalicão.
Não sou adepto de teorias da conspiração, pelo que acho muito bem que Varandas apresente queixa à Ordem dos Médicos e a quem mais se determinar, de modo a esclarecer esta situação. O que o presidente do Sporting disse ontem é demasiado grave para ficar naquelas águas de bacalhau em que os casos do futebol são pródigos. Depois da fruta, das toupeiras, dos árbitros em Canal Caveira e de todas essas trapalhadas, descobrir-se que a própria saúde serve para distorcer o fair play, levar-nos-ia ao fundo do poço em que anda este desporto metido há tempo de mais. Exige-se uma clarificação, a verdade e a punição seja de quem for. Se acaso tiver sido o Sporting a caluniar a Unilabs, que se castigue o Sporting. Mas com base em provas firmes, não apenas por que se colocou em causa a forma de fazer testes daquela empresa. Na verdade, seria melhor para todos e para a transparência se não houvesse um fornecedor único… mas já se sabe que isso seria pedir de mais.
SC Braga
Não se percebe inteiramente porquê, o SC Braga veio meter-se na polémica dos testes. O objetivo explícito é atacar o Sporting. Admito que tenham razões de queixa, mas mesmo o mais distraído repara que fazem tudo para criar um conflito… Num comunicado sublinham que cumprem tudo o que está estipulado. Mas, pergunto: têm conhecimento de algum clube que não tenha cumprido? O Sporting, por exemplo? Ou dispararam primeiro e perguntaram depois?
Benfica
Em matéria de saúde não se brinca e por isso desejo as melhoras ao presidente do Benfica e a todos os benfiquistas infetados. Mais: espero que no jogo de ontem (que não vi, tenho de reservar o coração para o Sporting) tenham vencido o SC Braga. É sempre melhor enfrentar o original do que a fotocópia…