Um olhar crítico sobre o Benfica

OPINIÃO06.11.202105:55

É ao treinador que compete encontrar a solução. Acreditar e fazer acreditar. Mostrar que os que estão errados são os que já não acreditam

O futebol não obedece a argumentos meramente científicos. É importante termos essa noção quando nos dispomos a analisar uma equipa, quer ela esteja a atravessar um período que todos cobrem de ouro e pérolas, quer esteja a ser arrastada na lama por tudo o que é bicho careta. Daí que toda e qualquer análise, sobretudo de quem vê de fora e não experimenta o dia-a-dia do grupo profissional, tenha sempre uma carga de subjetividade e de alguma inevitável especulação.
Como já devem ter percebido, pretende-se falar do Benfica e da sua crise de exibições e resultados que estão a pôr os nervos em franja aos adeptos do clube e estão a colocar o treinador, Jorge Jesus, num patamar de insegurança e de dúvida que não deixará de o afetar, enquanto pessoa e enquanto líder.
Não importa muito saber se a catadupa de acusações que lhe têm sido dirigidas, no todo ou em parte, são justas e credíveis, mas em futebol, tal como acontece na vida social e política, o que parece é. Por isso, e agora que os sócios escolheram um presidente novo, Jorge Jesus é, obviamente, o alvo principal da insatisfação geral. Eis, pois, a particular razão pela qual veio agora a público (e não antes) que há jogadores zangados com os procedimentos do treinador e com a forma rude e intempestiva como os trata. A novidade não pode ser grande. Jesus tem uma longa carreira de treinador e nunca foi diferente. Nem em Portugal, nem no Brasil, nem nas Arábias. É o que é, genuíno, direto, agressivo, assentando o seu comportamento num temperamento agreste e numa cultura de bairro popular, onde nem sempre as palavras têm o mesmo peso que registam no Chiado.
Sempre se disse, de Jesus, que era, indiscutivelmente, um treinador de invulgar capacidade na leitura de um jogo de futebol, mas também sempre se disse que a sua maneira obcecada e, às vezes, brutal como aborda os jogadores cansa-os, por vezes, até à exaustão, o que torna a relação conflituosa.  
É evidente que esta realidade, que todos os que há muito palmilham os caminhos do complexo mundo da bola conhecem, se torna problemática quando a equipa não ganha e está longe de um modesto suficiente menos em nota artística. Tal como se torna pouco significante se a equipa devora todos os adversários que se atravessam no caminho e apresenta um futebol digno do Scala.
O momento atual do Benfica é de frustração dos seus adeptos e esse é um facto que não requer qualquer esforço especulativo. A pergunta de um milhão de dólares é simples: porquê?
Há quem argumente que haverá um erro estrutural no treino, que afeta a maioria dos jogadores e toda a equipa, o que se ficaria a dever a uma exagerada concentração de esforços para se atingir o objetivo principal: a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Daí que a equipa estivesse a pagar a fatura de uma forma precoce. Mas dizem os treinadores de nova geração que essa ideia de pronunciados ciclos de forma ou de falta dela há muito que se eclipsou pelo conhecimento científico do treino do atleta de alta competição e por se recorrer, cada vez com mais critério, à interdisciplinaridade dos especialistas que se ocupam das mais diversas áreas técnicas.
Seja como for, é indiscutível que a equipa do Benfica mergulhou numa crise grave e que cada homem em que assenta cada atleta é hoje um indivíduo diminuído, desconfiado do seu  valor, desencorajado, por vezes, desesperado. Como resolver? A primeira e decisiva solução está no treinador. É a ele que compete sacudir a poeira e dar a volta por cima, acreditar e fazer acreditar, demonstrar que errados estão os que já não acreditam. 


INTERESSANTE ESTUDO DO COP

Vale a pena assinalar e analisar os resultados obtidos pelo mais recente estudo da consultora Nielsen, a pedido do Comité Olímpico de Portugal.  A conclusão mais importante é que de  forma significativa e consistente o povo português vai-se interessando cada vez mais pelo desporto, além do futebol, sendo os Jogos Olímpicos o mais marcante exemplo. Do Rio a Tóquio, o interesse dos portugueses aumentou de 44 para 57 por cento e os principais atletas olímpicos aumentaram em níveis recordes os seus seguidores nas redes sociais.


COMO VESTEM AS CAMISOLAS...

É curioso ver de fora e de forma desprendida a incontrolada paixão com que muitos (não todos) dos nossos comentadores políticos vestem a camisola das suas preferências partidárias e até das suas opções no que respeita à luta pelas lideranças no PSD e no CDS. E eu não posso deixar de sorrir com toda a malícia, ao lembrar-me que alguns deles também alinharam nas críticas feitas a alguns analistas desportivos a quem acusavam de clubismo. Maior clubismo com que alguns analistas da política nacional se apresentam em público é impossível.