Um jogo fácil para Veríssimo

OPINIÃO30.12.202105:55

No clássico de hoje toda a responsabilidade recai nos jogadores do Benfica. Mais que a tática, a mudaça será na atitude. Mas só isso não chega

RARAS são as ocasiões em que um treinador tem a oportunidade de comandar a mesma equipa, e muito menos um grande. Nélson Veríssimo conseguiu-o, assumindo o papel de bombeiro que Mário Wilson teve no passado, embora o contexto seja completamente diferente, pois que as estruturas atuais dos clubes convidam mais facilmente à flutuação de treinadores. Aos 44 anos, Veríssimo tem a grande oportunidade da sua carreira, provando-se por aqui que quem treine a equipa B de um grande clube estará tão ou mais perto de chegar a uma cadeira de sonho do que treinando um SC Braga ou um V. Guimarães, desde que sejam cumpridos dois requisitos: 1) possua reconhecida competência; 2) a equipa principal esteja a passar por uma crise ou uma mudança de ciclo - os exemplos de Guardiola e Luis Enrique (ambos lideraram os bês do Barcelona) ou Bruno Lage no Benfica estão aí para prová-lo.
O facto de ter um clássico, fora de casa, como primeira prova de fogo com apenas dois dias de trabalho tem um lado bom para Veríssimo: não é ele que terá de o vencer, essa responsabilidade será inteiramente dos jogadores, os mesmos que já não se sentiam confortáveis com Jorge Jesus. Com apenas dois treinos, manda o bom senso que Veríssimo pouco ou nada mude no plano tático. Alterar estruturas requer tempo e por isso ficaria muito surpreendido se, de um dia para o outro, o Benfica abandonasse o sistema de três centrais. Bem ou mal, estes eram os mecanismos a que estes jogadores estavam habituados e por isso a maior mudança que se deve esperar será ao nível da atitude e concentração - tudo o que faltou no clássico que marcou o adeus de Jesus. É isto suficiente para vencer o FC Porto em casa, mesmo que o rival esteja desfalcado do seu melhor jogador, Luis Díaz? Não, o dragão continua a ser o favorito. Por uma razão óbvia: é, neste momento, melhor equipa que o Benfica. E muito raramente os azuis e brancos desperdiçam esta vantagem na relação de forças quando defrontam o grande rival.

Asaída de Jorge Jesus do Benfica foi menos turbulenta do que se adivinharia, mas não se pode dizer que foi pacífica. E ou muito me engano ou ainda muito ruído será produzido nos próximos tempos, principalmente se os bons resultados não surgirem para os lados da Luz. Mas independentemente do que venha a suceder, há no entanto um dado que importa reter: mais uma vez o nome de Pizzi vem à baila sempre que há problemas com um treinador no Benfica. Foi assim com Rui Vitória, com Bruno Lage e agora com Jesus. Até pode ser tremendamente injusta, mas da fama não parece livrar-se o internacional português. Pizzi foi visto como herói por muitos adeptos, mas apenas porque havia uma taxa de rejeição gigantesca em relação ao treinador. Só que nenhum jogador ganha com este rótulo a médio prazo e o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Devia o Benfica, pois, quando a poeira assentar, fazer algo para corrigir isto: proteger o jogador se as acusações não forem verdadeiras ou então quem manda tem de fazer perceber que nenhuma organização resiste a médio prazo se as hierarquias não forem claras e respeitadas.  

MUDARAM os clubes, e muito bem, o Regulamento de Competições, nomeadamente o artigo 46.º-A sobre o adiamento de jogos por surtos de Covid, passando para o referencial mínimo de 13 jogadores disponíveis (dos quais, pelo menos, um  guarda-redes), mas nada se fez em relação à incapacidade dos treinadores. Vamos imaginar que todos os elementos de uma equipa técnica estão infetados. Quem assume? Quem nunca costuma trabalhar com a equipa? Como se processa a comunicação com o treinador em isolamento, com o delay de quem vê o jogo pela televisão? No vergonhoso Belenenses SAD-Benfica o centro das atenções esteve sempre na ausência de jogadores mas poucos se recordam que ninguém da equipa técnica estava no Jamor. Por absurdo, se tivessem sido autorizados 13 jogadores a ir a jogo e alguma alteração técnica ou tática tivesse de ser feita in loco, o mister teria sido... Rui Pedro Soares.