Um grande senhor da história do SLB

OPINIÃO09.07.201804:00

Shéu-Han, nascido há quase 65 anos em Inhassoro, Moçambique, disse adeus ao futebol profissional do Benfica, depois de uma ligação consecutiva de 48 anos, em que foi jogador, treinador, secretário técnico e o que mais os encarnados lhe pediram que fosse.

Contactei pessoalmente com o Shéu em 1976, durante o Torneio de Toulon. Eu tinha sido, nessa época de 1975/76, em que representei o Sporting, guarda-redes da Seleção Nacional de juniores e, à última hora, acabei por ser integrado na equipa que foi a França para o mais importante certame de Esperanças a nível mundial. Entre as grandes estrelas do futuro presentes em Toulon (Hugo Sanchéz, Vercauteren, Zdravkov, Yontchev, Brandts...) Shéu-Han arrecadou o galardão para melhor técnica, prémio que assentou como uma luva àqueles pés de veludo. Nos anos seguintes defrontei Shéu muitas vezes, mas só tive oportunidade de conhecê-lo realmente e em profundidade a partir de 1982, quando ingressei no Benfica.

Vou deixar aqui uma declaração que tenho a certeza de que será compartilhada por muitos ex-companheiros: joguei, ao longo dos 17 anos de carreira, com fantásticos profissionais. Mas nenhum foi mais profissional, dentro e fora do campo, que Shéu. Alguns (que vou guardar para mim) foram do mesmo calibre, interessados, entregues, íntegros, absolutamente exemplares. Mas, mais do que Shéu, não sei se há ou se houve. Só que nunca vi...

Do que vivi com Shéu no Benfica, eu sei, ele sabe, e mais ninguém tem de saber. Mas a forma como Shéu-Han foi capaz de permanecer durante 30 anos nos bastidores do futebol encarnado, sem nunca cometer uma inconfidência, uma imprudência, uma imprecisão seria, por si só, notável. Mas Shéu foi mais do que isso, ganhou a confiança de sucessivas gestões e foi digno dela, ouviu muito e calou ainda mais, sempre com aquilo que era o seu entendimento do superior interesse do Benfica no pensamento.

O tempo não perdoa e Shéu-Han entendeu que este era o momento certo para o adeus. Sem ele, o Benfica não vai ficar mais forte. Mas, pelo menos, que o exemplo de dedicação de Shéu frutifique, nesta era de tecnocracia e pragmatismo, tão propício a mercenários.

PS - Também o Sindicato de Jogadores tem muitas razões para estar grato a Shéu-Han.