Um Arsenal difícil de desviar

OPINIÃO24.10.201804:00

O ARSENAL está a jogar como há muito não se via: soma dez vitórias seguidas (não acontecia há onze anos) e o alemão Mesut Ozil encontra-se de novo em grande forma, longe da abulia e passividade que levaram o antigo internacional alemão Mario Basler (no final do Mundial) a equiparar «a linguagem corporal de Ozil à de um sapo morto». O terceiro golo do Arsenal neste último jogo com o Leicester deve ter arrepiado José Peseiro: só uma equipa com movimentos muito bem trabalhados servida por jogadores de grande sofisticação técnica consegue produzir um slalom daquele tipo - a fazer lembrar o Barcelona de Guardiola ou o Ajax de Cruyff e Neeskens. A visita do rejuvenescido Arsenal a Alvalade acontece numa altura complicada (mais uma) para o Sporting. A equipa vive dias de cinzentismo (está a jogar muito pouco) e, mais perturbante, mostrou pouca fome e determinação perante adversários claramente inferiores  em todos os aspetos (Vorskla Poltava, Portimonense e Loures); é certo que a longa ausência de Bas Dost (dois meses) não ajuda nada, assim como as recentes baixas de Raphinha e Mathieu. Mas os adeptos esperam mais da equipa e, orquestrados ou não, os assobios são um sinal de insatisfação que não pode ser ignorado. Também a nível institucional aconteceram coisas perturbantes após a breve acalmia que se seguiu à eleição de Frederico Varandas. A velha e irreprimível tendência autofágica sportinguista levou um mês a manifestar-se, com o candidato vencido José Maria Ricciardi a assumir-se como oposição a Varandas por não acreditar que este tenha capacidade para resolver os problemas do clube (que, segundo ele, está em pré-falência técnica). O último tiro no pé chegou surpreendentemente de Sousa Cintra e deve ter desanimado José Peseiro. Em entrevista ao Record, Cintra, naquele seu jeito franco, desassombrado… e desbocado!, referiu-se desta maneira ao treinador que ele próprio escolheu para substituir Sinisa Mihajlovic depois de frisar que a primeira escolha era (o regresso de) Jorge Jesus: «na escolha dos jogadores houve muita indecisão (…) ele fazia a leitura dos jogadores, mas perdia muito tempo com a análise (…) via, via, servia, não servia (…) sim, depois não, depois sim, não, talvez (…) podíamos ter outro plantel, apesar de este ser bom».
Conheço suficientemente José Sousa Cintra para saber que não disse isto por mal ou para atrapalhar a vida do treinador escolhido por ele mesmo, ainda que possa estar a sentir-se dececionado (e está) com o desempenho da equipa. Cintra igualzinho ao que era há 25 anos: diz o que lhe vai na alma sem artifícios nem eufemismos. Mas não é preciso ser-se um génio para perceber que a posição de Peseiro junto do adeptos ficou muito mais fragilizada depois de uma entrevista em que, pontualmente, é caracterizado como um homem indeciso e inseguro. Tudo o que o Sporting não precisava em vésperas da visita de um Arsenal muitíssimo mais forte e ameaçador do que as equipas que defrontou até aqui. E que jogará em Alvalade com canhões de calibre Champions: Lacazette, Aubameyang, Ozil, Ramsey, Mkhitaryan, Bellerín e outros. Para evitar um descalabro pior que o de Portimão e assobios muito mais estridentes que os de Loures, Peseiro tem elevar o nível do jogo, claro, mas também de exigir dos jogadores outro grau de empenho e compromisso. Que isto não vai lá com falinhas mansas.