Três finais
1 - Lemos, nas Máximas de Cristina da Suécia que «um homem que teme a morte é incapaz de coisas grandiosas». E sabemos, igualmente, e desde há muitos séculos, e com Séneca - no seu A tranquilidade da Alma - «que de uma vez por todas morramos do nosso medo de morrer». Nesta semana em que a morte esteve no centro, se bem que assistida, da nossa agenda política - a par do racismo e, aqui, exigindo uma séria e sistémica reflexão - temos consciência que o Benfica tem, no espaço de uma semana, três finais. A primeira será, amanhã, em Barcelos e frente a um Gil Vicente bem liderado por um dos grandes senhores - e senadores! - do futebol português, Vítor Oliveira. A segunda, na próxima quinta-feira, na Luz, e na legítima e ambicionada conquista dos oitavos de final da Liga Europa, face ao Shakhtar sob a sábia orientação de Luís Castro e trazendo da Ucrânia um resultado bem mais estimulante do que a exibição que todos vimos. E a terceira no próximo domingo frente ao Moreirense, uma equipa que esta época tem uma vitória e cinco empates fora da sua casa. Três finais e com a nota, especial e singular, de os dois encontros para a Liga NOS, se disputarem após terem terminados os jogos do Futebol Clube do Porto. Ou seja o Benfica já sabe seja amanhã em Barcelos seja na próxima jornada, no seu Estádio, os resultados da equipa de Sérgio Conceição. E sabendo, à partida, que todos os seus jogos motivam a conquista dos necessários três pontos, terá a consciência, logo no arranque de cada partida, do que terá que fazer, pelo menos, para manter a liderança da Liga portuguesa. Agora é ganhar ou ganhar. Com a certeza que os últimos jogos da equipa de Bruno Lage não foram nem consistentes nem motivantes. E, aqui, importa assumir que o discurso não pode colidir com a realidade nem com o jogo jogado que todos vimos. É que o jogo falado e o jogo jogado devem ser coincidentes! Por vezes dizer a verdade custa. Dói. E está para além de vozes que julgam que, nestes concretos tempos, se pode iludir o que se sente e o que se pressente. E ter idade e memória é terrível. Por isso sabemos bem que temos pela frente três finais. Com a consciência, e a certeza, que o Porto de Sérgio Conceição já jogou quando o escolhido onze de Bruno Lage entrar em Barcelos e na Luz. Desde logo, amanhã, na terra em que justiça popular imortalizou, e bem, o Galo de Barcelos!
2 - Só o Sporting ajudou Portugal, na passada quinta feira, no ranking da UEFA. Mas esperamos que na próxima quinta os outros três clubes portugueses somem vitórias e nos façam aproximar da França, a quinta classificada num ranking que nos permitirá, no final da próxima época desportiva, ter dois clubes com acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões. Os números são claros. Já nos distanciámos claramente da Rússia e estamos mais próximos da França. E esta aproximação pode acentuar-se se os nossos quatro representantes chegarem aos oitavos de final da Liga Europa. Seria um feito singular de um futebol português que tem de fazer muito nos relvados para minimizar os efeitos negativos que ecoam das bancadas e que chegaram ao mundo inteiro!
3 - A Federação Portuguesa de Futebol, na pessoa do seu Presidente Fernando Gomes, acaba de fazer uma grande contratação: Madjer! Para coordenador do futebol de praia! Cinco vezes melhor jogador do mundo, tricampeão do mundo e mais de mil golos com a camisola de todos nós são números que impressionam. E que mostram e evidenciam a qualidade de um jogador e de um homem que será, estou certo, uma outra mais valia para a Federação e para todo o futebol federativo. Os melhores devem estar ao serviço ativo do futebol e da sua expressão organizacional de cúpula.
4 - Na última semana muito tenho lido e escutado acerca de racismo, em particular no desporto. Recordei-me de um livro que me foi oferecido, com uma simpática e envolvente dedicatória, há cerca de vinte e três anos, pelo extraordinário Professor José Esteves com o sugestivo título: Racismo e Desporto. Acredito que a sua leitura seria bem interessante para muitos - e muitas - que opinam, sabiamente, acerca da matéria. Professor José Esteves que escreveu, e bem, neste jornal. Como sugiro a leitura de um outro, bem mais recente, de um sociólogo brasileiro, Maurício Murad, - A violência no Futebol - em que um dos capítulos é bem expressivo: Violências e violentos no futebol. Levando a uma distinção, urgente e necessária, entre violência no futebol e violência do futebol!
5 - Este jornal, sei-o bem, é um jornal desportivo. Mas é, também, um jornal de causas. Este domingo Viseu, a minha cidade de berço, irá dizer adeus a D. Ilídio Pinto Leandro, seu Bispo Emérito. Foi nomeado Bispo pelo Papa Bento XVI e assumiu a diocese em Julho de 2006, sucedendo a outro Grande Senhor da Igreja portuguesa, D. António Marto. Em 2017 o Papa Francisco aceitou o seu pedido de resignação por razões de saúde. Mas D. Ilídio, mesmo abalado, manifestou um desejo inédito, que não concretizado: queria voltar a ser nomeado pároco em duas pequenas paróquias! Conheci e privei com D. Ilídio. Um homem bom. Um cidadão exemplar. Um exemplo de entrega ao outro e de plena dedicação à sua Igreja. Um homem de causas, por excelência as sociais, como a sua defesa dos antigos mineiros da Urgeiriça ou defesa do uso do preservativo para combater a SIDA. Não esqueço nunca as suas amigas palavras nos momentos em que o seu, o nosso Deus, chamou os saudosos Senhores meu Pai e minha Mãe para junto d’Ele. Como não esqueço as suas advertências acerca do desporto, do clubismo exagerado, do Académico de Viseu e do Lusitano de Vildemoinhos - ele que fora pároco de São Salvador, de Torredeita e de Farminhão, entre outras paróquias - e, até, da sua lúcida opinião acerca dos então meus comentários desportivos. A virtude do amor, do seu Amor aos outros, fica como exemplo marcante da sua vida. E com a sua morte vai um pouco de um tempo do meu Viseu. Da minha terra e das minhas raízes. De um mundo em que D. Ilídio, com a sua imensa missão, foi e será um testemunho de vida. E é esta simples e humilde homenagem que sinto que aqui, neste jornal também de nobres causas, lhe devo fazer. Bem haja D. Ilídio. O Senhor, na sua infinita bondade, estará à sua espera para o abraçar e para lhe agradecer tudo o que fez, por terras de Viriato, por Ele. Sabemos bem os dois que Ele sabe agradecer e sabe reconhecer. Como bem me lembrou no momento da partida do saudoso Senhor meu Pai. Que o Senhor sempre, e com as palavras de Séneca, o acompanhe, D. Ilídio.