Spectrum em Cantanhede
Na turbulência da Covid de Ronaldo - que se portou bem, com discrição, apelo à saúde pública, sem cair na idolatria barata da invencibilidade como fez Ibrahimovic, ao dizer que o vírus ousara desafiá-lo - e também na agitação da aplicação Covid no telemóvel - tantos que partilham a vida nas redes e oferecem dados a companhias internacionais e estados estrangeiros e, de repente, revestem-se de princípios no altar do telemóvel - gostaria de destacar algo talvez menos importante: o Museu do Spectrum de Cantanhede.
Abre hoje. Para quem é mais novo, eu enquadro: este vosso amigo Miguel que daqui vos escreve, de 40 anos, cresceu com o Spectrum. Foi, de certa forma, o primeiro computador que grande parte dos portugueses - e não só, claro - teve em casa, que na verdade não servia para nada mais do que para jogar. Nada mais interessava. Os jogos em cassete - miúdos, antigamente os sons e outras informações gravavam-se em fitas magnéticas - despertavam um ruído de entrada, um avanço, na ligação do Spectrum à televisão e ao gravador. Era um ruído estranhamente musical, melodioso. Durava minutos a começar, despertava uma capacidade para esperar pelas coisas, hoje em falta. Dava tempo para ir lanchar à cozinha. Depois começavam jogos: Emilio Butragueno, Gazza’s Super Soccer, Adidas Championship Football, Football Manager, Drazen Petrovic Basket, Magic Johnson’s Basketball, Formula 1 e outras opções não desportivas, como Renegade, Rick Dangerous e até o Chuckie Egg.
Sai daqui, à distância insuperável da saudade, um abraço ao responsável pelo museu, João Ramos, que não conheço, mas pelas referências da infância afinal conheço. Passarei por aí em breve. Prometo não chorar.