Sobre o alemão bem-disposto
O que faz o treinador quando o jogador não o cumprimenta? Ignora, pune? Não, nada disso
E NTRE estas já mais de seiscentas opiniões que escrevi em A BOLA, há algumas que são disparates - talvez várias, eu sei, mas gosto de pensar que apenas algumas.
Uma foi ter escrito mal de Jurgen Klopp, em 2015, quando ele deixara o Dortmund e toda a gente o queria. Opinei eu: «Gostamos assim tanto de Klopp porquê? Não ganhou sequer metade dos jogos que fez, entre Mainz e Dortmund, apenas 48 por cento.» Aborrecia-me, então, aquela aura de simpatia à pressão, que eu compreendia mal. Alemães simpáticos podem ser difíceis de entender.
Mudei de opinião - acontece-me, esta ideia de que estou a escrever isto mas saberia escrever o contrário, dependendo dos argumentos, ou dos dias. Já aceito Klopp e também me parece que sei porquê, acho que sei o que tem ele de diferente, afinal. Klopp é muito mais alemão do que uma primeira análise, preconceituosa como a minha, fazia crer.
Vejamos o que aconteceu no jogo de anteontem do Liverpool com o United. No final, Mané, que perdeu o lugar na equipa para Diogo Jota, não respondeu ao cumprimento do treinador.
No final, Klopp explicou: «No treino, eu mudei uma coisa à última hora, optei pelo Jota, e não tive, realmente, tempo para o explicar aos jogadores, como costumo fazer.»
Note-se como Klopp preservou tudo o que importa, tudo o que é correto: primeiro, resolveu o problema, cortando o potencial polémico da cena ao assumir-se como culpado; depois, fê-lo com boa disposição, a certeza de quem sabe o que está a fazer, de quem sabe quando acerta e quando erra.
É difícil não gostar de Jurgen Klopp e eu, quando escrevi o referido texto em 2015, devia andar muito chateado com alguma coisa.