Slimani como mensagem
Decisão de Amorim em relação ao avançado argelino é recado para dentro de Alvalade. E não tem como destino apenas o balneário
Oregresso de Slimani ao Sporting era, em janeiro, quase consensual em Alvalade. O avançado argelino queria voltar, a grande maioria dos adeptos leoninos queriam-no de volta e Frederico Varandas - tenha sido por motivos eleitorais, por ser, também ele, fã do jogador ou por ambos os motivos - também. O único que nunca pareceu verdadeiramente entusiasmado foi Rúben Amorim, que embora tenha dito, em mais do que uma ocasião, que desta vez aprovou a contratação (depois de a ter rejeitado anteriormente) de Slimani nunca foi verdadeiramente efusivo ao falar do atacante - pelo menos tão efusivo como quando abordou a chegada de outros reforços ao plantel. A verdade é que, menos de três meses depois, Slimani se tornou num problema. Não para Rúben Amorim, que ainda ontem afirmou estar, por ele, esse tema encerrado, mas para o presidente do Sporting, que fica agora com um problema para resolver, como ontem o treinador deixou isso bem claro ao afirmar que, tendo dado o OK ao regresso do argelino, como deu, segundo ele, a todas as contratações desde que está em Alvalade, nada tinha a ver com a duração dos contratos assinados com os jogadores. Para bom entendedor meia palavra basta: com Rúben Amorim o tempo de Slimani no Sporting acabou e, tendo contrato até 2023, será a Direção a ter de resolver a questão.
Só Rúben Amorim e Slimani (e eventualmente aqueles que têm de ser informados sobre isso) sabem o que de tão grave aconteceu para que as coisas tenham chegado a este ponto sem retorno em tão curto espaço de tempo. O que parece evidente é que não se tratará, apenas, de uma teimosia de Rúben Amorim, que foi especialmente duro com o jogador no final do encontro com o FC Porto, deixando logo aí antever que não haveria marcha-atrás no divórcio com Slimani. Algo que ficou ainda mais evidente ontem.
Não é, convenhamos, para todos os treinadores. Porque Slimani não é um jogador qualquer para os sportinguistas e porque esta decisão surge na altura em que Amorim mais frágil estará em Alvalade, depois de uma derrota no dérbi, que afastou o Sporting em definitivo da corrida pelo título, e no Dragão, que tirou aos leões a possibilidade de chegarem à final da Taça de Portugal. Se fosse noutra altura, poucos se atreveriam a discutir a opção do treinador, fosse qual fosse o jogador em causa. Neste momento, e Amorim sabe-o bem, fica mais exposto às críticas dos adeptos leoninos, ainda mais tratando-se de um futebolista tão amado por tantos.
Partindo, reafirmo, do princípio de que Amorim nunca colocaria, como o próprio assumiu, campeonatos, eliminatórias ou o próprio emprego em risco por causa de uma birra, teremos de assumir que Slimani esticou, de facto, a corda, não deixando a Rúben Amorim outra solução que não fosse afastá-lo. É uma atitude corajosa do ainda jovem treinador leonino, a mostrar, mais para dentro do que para fora, que não admitirá que ninguém, seja quem for, se intrometa naqueles que são os seus princípios. Uma mensagem, e das fortes, para dentro do balneário mas, é inegável, também para os gabinetes de Alvalade. E quem não quiser - ou não o quiser...
Oempate do Benfica com o Famalicão voltou a mostrar a verdadeira razão por que o Benfica acabará a época tão longe do FC Porto. A campanha na Liga dos Campeões e a vitória em Alvalade ajudaram a acalmar os adeptos, mas o regresso aos jogos normais expôs a verdade nua e crua: falta, a este plantel, qualidade para assumir os jogos, restando-lhe, mesmo que Veríssimo não quisesse, a possibilidade de brilhar quando pode jogar fechado lá atrás e a explorar o contra-ataque. Dá para jogos especiais, mas não para mais do que isso. E na maioria das partidas em Portugal o Benfica precisa de pegar no jogo. Pois.