‘Sir’ Rúben Amorim!...

Pode ter um coração e outra cor, mas tem um cérebro dirigido para um objectivo que serve os superiores interesses do clube

FEZ ontem um ano que, surpreendentemente e na sequencia de uma a transferência milionária - dez milhões de euros pela cláusula de rescisão -, Rúben Amorim deixou de ser o treinador do Sporting de Braga para ser do Sporting de Portugal: um salto enorme e particularmente corajoso na sua ainda curta carreira de treinador!
Não estive obviamente de acordo com tão arriscada contratação, mas também não fui muito rígido nos meus comentários, porque, nesta coisa de treinadores, os resultados contam muito e o objectivo de poder alcançar o terceiro lugar e aceder à Champions podia valer o investimento. Não havia pandemia e por razões que não interessam agora trazer à colação já tinha muita simpatia por Rúben Amorim, embora não o conheça pessoalmente! Finalmente, embora o dinheiro seja do Sporting, o maior risco estava do lado de Frederico Varandas.
Ainda na época passada comecei a gostar do discurso de Amorim e a acreditar que ele realmente tinha um projecto e que merecia indiscutivelmente, pelo menos, o benefício da dúvida. Por isso mesmo não fiquei aborrecido com o quarto lugar, mas apenas preocupado!
Com o começo da época comecei a pouco e pouco a ficar rendido a Rúben Amorim, o que fui confessando às pessoas que me estão mais próximas. Mas em 31/10/2020 já escrevia: «É muito cedo para se exigir o que quer que seja desta equipa, antes a devemos deixar  crescer em paz e sossego, porque, ou me engano muito, ou estes jovens, com o seu jovem treinador, vão dar muito que falar. Tenho vindo a preocupar-me com o fosso que se tem vindo a cavar entre nós e os nossos rivais, mas agora, ao menos, dá-me um gozo enorme ver estes meninos a jogar futebol!» E, na semana seguinte, sob o título Façam o favor de ser felizes, escrevi a determinada altura: «Não faço esse convite ao Rúben Amorim, porque é exactamente ele que, em cada declaração, em cada entrevista e em cada conferência de imprensa, nos faz o convite para sermos felizes, e não cairmos na tentação da euforia e da arrogância, antes nos convida à humildade, porque ainda não ganhámos nada, antes vamos, passo a passo, construindo o futuro e o futuro será para já o próximo jogo! Para já, pouca importância tem para mim o seu nível de treinador, porque pode não ter a formação teórica necessária, mas tem elevado nível de leader, de comunicador, de inteligência, de humildade e simpatia, ao contrário de muitos que podem ter um elevado nível de treinador mas são arrogantes, antipáticos, trombudos e sobretudo, conseguem ver um jogo que mais ninguém vê, sobretudo, quando perdem. Voltando ao preço de Rúben Amorim, não sei quanto é, nem me interessa, mas é seguramente mais que justificado, pois a sua aposta na prata da casa é mais que compensadora em termos de massa salarial global. Muitos treinadores são muito mais caros e não dão a cara, nem oportunidades, aos jogadores mais jovens e da formação, antes exigem jogadores mais caros ou caríssimos, e por vezes, sem resultados. Por outro lado, Rúben Amorim teve a coragem de fazer uma limpeza de balneário, em todos os sentidos, e não apenas no disciplinar, desde emprestados, comprados ou que não passam da cepa torta. Despachou muitos e comprou pouco, mas parece que acertou na mouche. Só aí, feitas as minhas contas, se calhar já se justificaram cinco dos dez milhões. Faltam outros cinco milhões, mas, se calhar (para mim seguramente), já se investiu mais na péssima comunicação que se tem feito e que muito tem contribuído para a desunião. Rúben Amorim está a ser o melhor Director de Comunicação dos últimos tempos. Como treinador e comunicador está a ser, a meu ver, e de muitos sportinguistas, um factor de união num clube desunido! E união para os sportinguistas é um valor raro e por isso caro! Se tudo continuar assim, belo investimento, porque a união não tem preço, e o Sporting bem precisa dela! Faltam os juros que o incumprimento implica. Também aí, algo me diz que os juros da mora serão compensados pelos frutos do investimento.»
E no final do mês de Novembro, comecei a aperceber-me que Rúben já estava a incomodar certos comentadores, designadamente, os de cartilha!  E comentei que algumas opiniões sobre ele mais não eram que uma tentativa de branquear a incompetência e os actos de novo riquismo que não tiveram o sucesso desejado e anunciado com alguma fanfarronice! E, a 5 de Dezembro, escrevi: «Eu sei que o treinador do meu clube não tem o nível teórico exigido, mas sei também que tem elevado nível de educação e inteligência. E sei também que tem uma capacidade de comunicação de nível acima da média, com a consequente capacidade para unir o que não andava unido. Tais qualidades causam receio e, simultaneamente, inveja, num ambiente nivelado pela mediocridade. A serenidade, a tranquilidade e o humor inteligente são marcas predominantes em todas e cada uma das suas intervenções e são próprias de quem acredita em si próprio e dispensa o espalhafato para se afirmar.» E, em 16 de Janeiro, escrevi: «Oiço todos os dias falar em projecto aos jogadores, aos treinadores e aos dirigentes, seja em entrevistas, em eleições ou em outras ocasiões. É uma palavra bonita, cativante e atractiva mas fico sempre a pensar que se perguntasse que projecto era esse, a maior parte deles ficaria engasgado e repetiria mais dez vezes a palavra sem explicar o que isso significava. Projecto é aquilo que alguém planeia e pretende fazer. Rúben Amorim explicou de uma forma tão simples qual é o seu projecto e a sua determinação em levá-lo a cabo. No Sporting é preciso coragem, outra das suas características de liderança. Ao ouvi-lo, eu que nunca joguei futebol, nem treinei futebol, apenas tendo uma pequena experiencia de balneário, enquanto dirigente, pediria ao Rúben que assinasse pelos próximos DEZ ANOS!»
Na semana seguinte, observei que, na conferência de imprensa de antevisão do jogo, fizeram um paralelo com o manager Alex Ferguson do Manchester United. E curioso porque aquele Sir do futebol inglês esteve não sei quantos anos ao serviço daquele clube inglês que é o que eu penso - e escrevi - sobre a relação entre Rúben Amorim e o Sporting! Independentemente de serem atribuídas preferências do Rúben por outro clube, designadamente o nosso rival - o que a mim pouco me interessa -, o que é importante é que ele pensa o presente e o futuro do Sporting a verde e branco. Ao contrário de outros que dizem ter o coração verde, mas agem e pensam de acordo com os seus interesses pessoais, Amorim pode ter um coração de outra cor, mas tem um cérebro dirigido para um objectivo que serve os superiores interesses do clube, competindo-nos a nós, sócios, adeptos e simpatizantes, fazer-lhe o transplante para um coração verde! Já está a ficar esverdeado!
De pé, aplaudo a renovação!
 

Rúben Amorim renovou com o Sporting até 2024 e ficou com cláusula de rescisão de 30 milhões de euros

Entrevista ou ... Revista? 

Podia estar enganado, e por isso, como agora faço muita vez, fui ao dicionário ver qual a definição de entrevista, quando ouvi Luís Filipe Vieira falar junto a Pedro Pinto. Não estava enganado: entrevista significa conversa com uma pessoa para a interrogar sobre os seus actos, ideias e projectos.
Assisti a uma rábula de Vieira, numa revista, com Pedro Pinto no papel de compère!
 

Maria José Valério 

E gritem todos comigo: VIVA O SPORTING! Ninguém o gritará como ela o gritou. Partiu, mas o seu grito ficará para além das nossas vidas!