Ser melhor e ser o melhor
ROBERT LEWANDOWSKI venceu o The Best, prémio da FIFA que premiou o melhor jogador do mundo em 2020. O avançado polaco do Bayern Munique tornou-se apenas no segundo jogador (o outro foi Modric, em 2018) a conseguir furar o já longo domínio dos dois grandes reis do futebol nos últimos 15 anos: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Tratando-se de uma escolha subjetiva, dependente de votos de vários quadrantes, é natural que a atribuição de um prémio deste género suscite, sempre, discussão. E se há quem se atreva a dirimir argumentos quando o vencedor se chama Cristiano Ronaldo ou Messi - que continuam a ser, goste-se ou não dos dois ou goste-se mais de um do que do outro, os dois melhores jogadores do mundo -, imagine-se o que é quando a decisão pende a favor de Lewandowski (mesmo quando marcou 55 golos em 2019/2020 e mesmo que lhe junte mais 20 em 2020/2021...), um enorme avançado mas sem o carisma dos craques português e argentino.
É, convenhamos, normal que o nome de Robert Lewandowski não seja consensual entre os adeptos do futebol - como não foi a escolha de Modric em 2018. A discussão admite-se, tendo em conta, essencialmente, dois fatores: o primeiro é que pouca gente compreende que o melhor jogador numa época não tem, necessariamente, de ser o melhor jogador do mundo; o segundo tem que ver com a falta de uniformidade nos critérios utilizados por quem vota e que vai variando consoante o vento que sopra nesse ano.
Quanto ao primeiro ponto, é fácil perceber que, tratando-se de um prémio anual, o The Best (como aqueles que, antes dele, distinguiam o jogador do ano) deve escolher o jogador que mais brilhou no ano em questão. Como escolhê-lo? Esta pergunta entronca na segunda questão. Já houve, em especial durante este longo reinado Cristiano Ronaldo/Messi, prémios atribuídos a quem mais golos marcou e prémios atribuídos a quem mais troféus coletivos venceu - isto quando ambos os fatores de ponderação não caíam para o mesmo lado, detalhe que devia ser suficiente para matar pela raiz uma discussão que, ainda assim, teimava em manter-se entre os fãs do poder goleador do português e o fino recorte técnico do argentino. É, portanto, natural que alguns tenham torcido o nariz quando viram Lewandowski levantar o troféu. Mas sejamos justos. O polaco foi, sem dúvida, a grande figura de um Bayern Munique que venceu, nada mais nada menos, do que cinco provas em 2019/2020: Liga dos Campeões, Supertaça Europeia, Bundesliga, Taça da Alemanha e Supertaça da Alemanha. É incrível. E Lewandowski teve, de facto, um ano incrível. Por isso, olhando para a coisa pelo prisma que se quisesse olhar, o melhor jogador de 2020 só podia mesmo ser Robert Lewandowski. Simples. O que não equivale a dizer que Lewandowski é, só por isso, o melhor jogador do mundo. Esse é trono a quem, por agora, apenas concorrem dois extraterrestres: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Que dentro de uns anos serão, de certeza, lembrados como dois dos melhores jogadores da história do futebol mundial, lista onde não constará o polaco. Mas este ano o The Best, assumamos, assenta-lhe muito bem.
PELA mesma ordem de razões o prémio de melhor treinador de 2020 deveria ter sido, como de forma irónica disse José Mourinho, Hansi Flick, treinador do Bayern, e não Jurgen Klopp, independentemente de ser incondicional fã no alemão que fez voltar o grande Liverpool. Citando o Special One, pobre do treinador que ganha tudo o que tinha para ganhar e, ainda assim, não consegue ser The Best. É, no fundo, por estas e por outras que, depois, as escolhas de quem vota acabam por nunca ser consensuais. Mas é, afinal, normal. Porque se pensarmos bem, quase nada no futebol o é. Porque haveria este prémio de sê-lo?