Sentir verde e branco!
Tenho escrito ultimamente alguns artigos sob o título Pensar a verde e branco e outros do mesmo cariz que alguns espíritos débeis reputam de artigos de oposição ao Sporting Clube de Portugal. Tão débeis que se calhar não sabem sequer que a palavra oposição tem vários sinónimos - pelo menos uns quarenta - em vários sentidos, como sejam, por exemplo, apresentação de posições contra, diferenças entre coisas comparáveis ou incompatibilidades de ideias!
Tal debilidade mental traduz-se, para certas pessoas que, aliás, se deveriam assumir como mais responsáveis, em catalogar, qualificar ou meter no mesmo saco pessoas com ideias divergentes. São da oposição, dizem. São incapazes de dizer qualquer coisa mais, não por falta de preparação ou analfabetismo, mas por pura má-fé! Fazem como fazia o antigo regime, mas eu direi que nem assim o antigo regime fazia.
Na verdade, no sentido político, oposição refere-se aos partidos políticos contrários ao Governo. Ora, como na outra senhora não havia mais partidos para além do partido do Governo, primeiro a União Nacional de Salazar, depois Acção Nacional Popular de Marcelo Caetano, quem não tinha as ideias do Governo eram comunistas, o que aliás com o decorrer dos anos se veio a demonstrar não ser verdade. E não havia redes sociais...
As pessoas não se distribuíam por partidos em concreto, mas em pessoas que estavam a favor do Governo, designadas por pessoas da situação, e pessoas do contra, por não estarem com o Governo nem com as suas ideias e pensamentos. Não fazia sentido sequer falar em oposição, palavra que só vinha à baila por conveniência governativa em dar alguma aparência de que não eram eleições viciadas.
Não havia, nem há, nem nunca haverá oposição a Portugal. Só quando Portugal joga, como hoje contra a França. Portugal hoje opõe-se à França, mas na Liga das Nações.
Também não há oposição ao Sporting Clube de Portugal. Os opositores do Sporting são os seus adversários, Benfica, Porto, Braga, outros clubes que disputam as competições connosco, e, às vezes, até os árbitros que, se não são, disfarçam mal!
Falar em oposição ao Sporting por parte de sócios, de adeptos ou simpatizantes é um profundo disparate. Podemos discordar das formas como se faz oposição, mas a oposição não é contra Sporting, mas contra alguns membros dos seus órgãos sociais. E esta é legitima desde que seja exercida de forma legitima!...
Os estatutos integram na Família Leonina, chefiada pelo Sporting Clube de Portugal, as Filiais, as Delegações, os Núcleos e organizações como as claques, a Fundação Sporting, os Leões de Portugal, os Cinquentenários e o Grupo Stromp. É pois uma grande família, onde é natural que haja divergências de opiniões e ideias, mas ninguém deseja o mal do Pai.
É por isso que eu não consigo ouvir aos sportinguistas que algumas pessoas da oposição ficam felizes quando o Sporting perde e agora andam infelizes que o Sporting vai ganhando, vivendo um bom momento. Sobretudo porque desta forma se aliam aos nossos adversários que estão verdadeiramente perturbados procurando desta forma dividir-nos através da comunicação social.
Quem assim pensa que não seja cobarde e ponha nomes aos que desejam que o Sporting perca.
Não sou, e assumo, que tenho muitas divergências, com muitos membros - não todos - dos órgãos sociais no domínio das acções e das ideias. Penso verde e branco de forma diferente e tenho divergências nas ideias sobre o rumo do Sporting. Mas de forma alguma traio os princípios e valores de esforço, dedicação e devoção, desejando que o Sporting Clube de Portugal não atinja a glória.
Podemos pensar verde e branco, de forma diferente, no campo das ideias. Mas temos todos de sentir a verde e branco, porque no campo do sentimento não cabe a traição ao nosso ideal. A nossa equipa de futebol profissional e o seu treinador merecem o nosso sentir unido.
Gonçalo Ribeiro Telles
Este jornal em que, com orgulho, colaboro, não está virado apenas para o desporto, e muito menos para o futebol, mas para a sociedade em que vivemos. Por isso, não quero deixar de prestar a minha singela homenagem a um homem cuja morte determinou um dia de luto nacional da maior justiça - Gonçalo Ribeiro Telles!
Uma referência da arquitectura paisagista, um professor, um politico, um cidadão que se empenhou na defesa do ambiente e do mundo rural. Na minha apreciação da sua figura politica pouco me importou a questão de regime - monarquia ou república! Foi um democrata e a sua nobreza era de carácter.
Desde novo e durante muitos anos foi meu vizinho: o seu atelier era de fronte da minha casa e perto do meu escritório. Não tive convívio com ele, limitando-me, quando com ele me cruzava, a baixar a minha cabeça, em sinal de respeito, por uma pessoa que me habituei a estimar pela sua simplicidade e humildade, e a considerar pela sua inteligência. Sempre agarrado a uma pasta. E sempre me lembro dele e vou lembrar nas minhas caminhadas pelo Corredor Verde de Monsanto e os jardins da Gulbenkian!
E a propósito de verde, direi que afinal há, em Gonçalo Ribeiro Telles, uma ligação, para mim muito forte, ao futebol! Foi no Sporting, que conheci um dos seus filhos - Miguel Ribeiro Telles, com a mesma simplicidade, humildade e inteligência de seu Pai. Um grande dirigente de futebol, designadamente, na ligação ao trabalho da Formação. Tenho pena que se tenha afastado deste mundo do futebol, de que não precisa, e por isso serviu o Sporting apenas com esforço, devoção e dedicação. Perdeu-se um grande dirigente, que eu apoiaria, sem hesitação, para Presidente do Sporting Clube de Portugal. Meu caro Miguel: deposito em si os meus sentidos pêsames. Que o seu Pai descanse em paz, e creia-me com amizade, estima e consideração.