Senhor do seu destino

OPINIÃO13.07.201805:03

É muito curioso que Cristiano Ronaldo e LeBron James tenham muito mais em comum do que, à partida, poderia supor-se. Ambos com 33 anos, atualmente também as duas maiores figuras da Nike, provavelmente a maior marca de equipamentos desportivos do mundo (com a qual o astro português tem o contrato vitalício que até aqui apenas tinha Michael Jordan), Cristiano Ronaldo e LeBron James serão também -  creio não andar muito longe da verdade - os dois desportistas de maior impacto mundial neste século, e dois atletas de absoluta eleição, pelo que significam as evidentes misturas em cada um deles de talento, capacidade, determinação, profissionalismo, ambição e empenho.

Claro que leva Cristiano Ronaldo larga vantagem na escala global desse mesmo impacto porque o futebol é incomparavelmente mais global do que o megaprofissional basquetebol norte-americano. Impossível comparar, por exemplo, o número de seguidores de Cristiano nas redes sociais (onde é líder destacadíssimo) com o número dos que seguem LeBron - no 6.º lugar, segundo a Forbes, entre os desportistas mais seguidos no Instagram, por exemplo, onde o basquetebolista é seguido, imaginem, por quase menos 80 milhões de fãs do que Ronaldo!!!

São, porém, Cristiano e LeBron dois nomes incontornáveis da indústria desportiva atual, e qualquer deles, muito mais do que um Lionel Messi, por exemplo, tem tudo o que os consumidores desejam: grande talento, capacidade e sucesso, mais a figura, personalidade, atitude e discurso. E tudo o resto que os torna estrelas absolutamente únicas.

Diria, pois, que Messi, com todo o respeito pelo inigualável talento do argentino, quer-se para jogar à bola e pouco mais. Messi está longe de ter o carisma de Cristiano Ronaldo. Já Cristiano Ronaldo podemos querê-lo para muito mais do que para jogar brilhantemente futebol como ele joga há mais de dez anos, sobretudo desde que conseguiu em 2008 a primeira das suas cinco Bolas de Ouro.

Podemos querer Cristiano simplesmente para o mostrar como o exemplo de homem de família, ou de perfeito gestor da sua própria vida, ou de trabalhador incansável e pai verdadeiramente inspirado pelos quatro filhos que o iluminam; mas também podemos querê-lo para fantásticas sessões fotográficas, ou para protagonista de marcantes filmes promocionais, ou para dar palestras, porque já se percebeu como a maturidade de Cristiano lhe permite hoje chegar genuinamente ao coração dos outros, ou, quem sabe, até para fazer cinema ou ser ator num qualquer outro tipo de espetáculo, porque Cristiano é já muito mais do que um jogador de futebol.

Caso raro de aplicação à vida profissional, transformando talento numa capacidade atlética verdadeiramente notável e ambição numa invulgar eficácia goleadora, Cristiano Ronaldo é seguramente hoje a maior bomba do futebol mundial, no que isso já teve e tem de sucesso mas também de impacto mediático, carisma e imagem, nos universos masculino e feminino, gostem mais ou menos de futebol todos aqueles que o idolatram, seguem ou desejam. 

Voltemos a Cristiano e a LeBron James, que aos 33 anos de idade resolveram transferir-se no mesmo ano e no mesmo verão, em dois momentos sensacionais e de algum modo sempre surpreendentes, Cristiano a mudar-se do maior clube de Espanha (e talvez do mundo) para o maior clube de Itália para se desafiar como nunca e como ninguém antes o fizera numa fase tão adiantada da carreira, e LeBron a deixar a cidade natal e o clube que se confundiu com a própria casa para se lançar na inesperada e tremenda missão de devolver reinado aos míticos Los Angeles Lakers, assinando ambos um contrato por quatro anos, com valor líquido de qualquer coisa como 120 milhões de euros para CR7 e 132 milhões para king James.

Quero ver quem, aos 33 anos, voltará a estar num papel semelhante!...

Agora que parece longe ainda de terminar a carreira mas já é a lenda que é, Cristiano Ronaldo acaba, realmente, de tomar uma das mais inacreditáveis decisões que um futebolista na sua condição poderia tomar - não é para todos, trocar o confortável trono no Real Madrid pelo gigantesco desafio de levar a velha senhora a festejar de novo no maior dos palcos europeus. Uma decisão realmente só ao alcance de um jogador da dimensão da CR7 ou, como um dia inspirou o inesquecível e inigualável Nelson Mandela, de alguém que é autêntico mestre do seu destino e capitão da sua alma.

PS: O destituído presidente do Sporting e, portanto, agora, ex-presidente, resolveu apresentar-se de novo candidato à presidência do Sporting. Mesmo sem saber se poderá ou não realmente vir a concorrer, o destituído presidente leonino apresentou-se como se nada de grave se tivesse passado na sua presidência e como se não tivesse sido destituído. Em comum com o ex-presidente teve de novo o candidato o inqualificável prazer de ‘brincar’ com os jornalistas e deixar que estes fossem ameaçados pelos que o apoiam. O homem não tem mesmo vergonha nenhuma! Além da vergonha, também já não tem com ele os que se mantiveram até ao fim na extinta Comissão Diretiva. Só falta saber, na verdade, se Carlos Vieira, Quintela e companhia se afastaram por subtil estratégia, por claro desacordo ou apenas por... traição!