Semana 5 - José Eugénio
1 Hoje é Domingo de Páscoa. Há precisamente sessenta e quatro anos o Domingo de Páscoa celebrou-se no primeiro dia de abril. Sabemos que na festa da Ressurreição os «discípulos regressaram a casa». Agora não é túmulo que está vazio, são as ruas e as calçadas. E sabemos, com reforçada fé e muita solidariedade, que vamos regressar, em festa contida, aos nossos espaços comuns, aos nossos lugares de partilha, às nossas catedrais de paixão, aos nossos necessários afetos. Sabemos também, neste dia, e nesta semana 5, qualquer que seja o dia no calendário, e na linha de palavras em outro momento escritas por D. Manuel Clemente, - agora Patriarca de Lisboa e, então, Bispo Auxiliar de Lisboa - que «a morte foi vencida e como é que se vence a morte». E muitas mortes foram vencidas nas últimas semanas graças ao empenho de muitos milhares, à dedicação, competência e excelência de outros e outras milhares. Hoje as ruas e as calçadas, os estreitos e os impasses estão vazios. Mas a alma coletiva não desertou. Comungou e partilhou, deu um imenso e intenso abraço virtual e, num toque profundo, aproximou filhos e netos, pais e avós, amigos e vizinhos, colegas e camaradas. Sejam a Salete da Guarda ou o Igor em Moscovo. O Paulo no Rio de Janeiro ou o Luís em Sierre, ali nos Alpes Suíços. O Joaquim em Viseu, na Meia Laranja, ou o Alexandre Maria em Lisboa. E, ainda, A Maria, a Julieta e o André na Codiceira. E, neste Domingo, cada parede das nossas casas é um púlpito de encontros e um sinal de partilhas. Com o cabrito ao forno - com as suas batatas - e o folar na mesa. Sem o compasso mas com a certeza de que estes nossos passos de isolamento e confinamento são passos corretos. E sentimos que há, de verdade, ventos de mudança nesta pandemia que nunca nos pode fazer perder a esperança. E recordamos, com fé e convicção, as palavras de Nicolas Berdiaev: «A vitória das forças da graça sobre as forças mortíferas da natureza descaída»! Bom Domingo de Páscoa!
2 A Federação Portuguesa de Futebol deliberou, e bem, cancelar o conjunto das competições por si organizadas. E, ao mesmo tempo, afetou quase seis milhões de euros para apoio ao futebol não profissional e nas suas diferentes especialidades. Ou seja segurou o futebol dito amador depois de ter ajudado - com a sua influência - a acudir o dito futebol profissional. Na sua lógica integradora a Federação mostra que é uma estrutura empresarialmente equilibrada e, nestes tempos dramáticos e traumáticos, e como era necessário, ajuda, de uma forma extraordinária, os clubes não profissionais, sejam eles realidades associativas sejam, desde já, sociedades desportivas. E tais medidas, neste tempo bem extraordinário, mostram-nos que sem uma Federação saudável o futebol português teria uma acrescida dificuldade em sobreviver! Sabendo todos que haverá clubes a não resistir e outros a terem de se adaptar aos novos tempos. Vivemos um tempo único e, repito, bem extraordinário. Com muitos momentos de angústia. E o fundamental é, sobrevivendo, resistir. Ter consciência de que os sacrifícios que nos são pedidos não se resumem a um efetivo confinamento. Implicam renúncias a expectativas e, acima de tudo, a limitação de egoísmos ou de perturbantes individualismos! Terá de haver consciência que os tempos são singulares. Se não deve haver passagens administrativas nas escolas também não pode haver subidas administrativas no desporto e nas suas diferentes competições. Se, porventura tal ocorresse, o desporto não dava um sinal positivo à juventude e à educação. Mas podem e devem haver soluções para não prejudicar, tal como ocorre no sistema de ensino, aqueles que querem entrar na universidade! Já houve notas (pontos) e já houve alguma avaliação. Agora é o tempo de ser justamente criativo, moldando inovadoras plataformas! Na Federação e, depois, nas Associações Distritais e Regionais e sem que haja, aqui, porta vozes indiscutíveis! E é este desafio que importa assumir nos próximos dias. Com dores, é certo. Mas sem dramas a não ser alguns pessoais. Os tempos que vivemos são, sim, de disponibilidade e de solidariedade, de efetiva responsabilidade e de um sentimento de pertença a uma comunidade. E, aqui, e como se pressente das divulgadas decisões, na nossa Federação há um sentido profundo de representação da comunidade total do futebol português! De toda ela! E vão surgir, decerto, soluções minimamente agregadoras!
3 Este vírus, em coroa, vai provocar uma crise económica imensa e uma perturbante crise social. Não nos iludamos acerca do que aí vem. A resistência e a paciência vão dar lugar a crescentes angústias e múltipla ansiedade, que, aliá, já se sente. Aliás que, já se pressente no ar, agora, de verdade, neste âmbito, menos poluído. E sem esquecermos a alteração das medidas de coação ao Rui Pinto que importa, em outro momento, analisar! E importa, assim, valorizar sinais de ética da solidariedade ou de inequívoco apoio social. No primeiro caso a decisão do Presidente da Liga de Portugal de renunciar ao seu salário é um gesto nobre e que merece público registo. Como o conjunto de apoios que o Benfica e a Fundação Benfica têm concretizado e que resultam de uma relação de proximidade com alguns relevantes setores da sociedade chinesa. Aqui vale, sem dúvida, e tal como na origem histórica do Benfica, e ressalta da sua essência, a expressão de muitos, um. Todas as ajudas que minimizem a dor, que restrinjam o contágio, que sejam um suplemento de alma para todos e todas que, de forma extraordinária, dia e noite, tudo fazem para salvar vidas são atos de fraternidade. Que devem ser registados. Sem sobressaltos e sem excessos publicitários. Que os há!
4 Neste Domingo de Páscoa uma palavra para um Amigo atingido pelo vírus, que em coroa, nos abala. Mas que está a ultrapassar, com força e em força, este Covid -19! Um Amigo e um ilustre companheiro, entre tantas cumplicidades, de muitas noites de quinta feira, seja no Lisboa à noite - um abraço Vítor e outro ao Miguel e com saudades da garoupa à Toni e do fantástico bolo de bolacha - seja, por excelência na Quinta da Bola de A BOLA TV: o Doutor José Eugénio Dias Ferreira. Somos de cores diferentes. Todos o sabem. Com paixão assumimos o verde e o vermelho. Por vezes, poucas, nos excedemos. Mas, no final e afinal, somos, sempre, permitam-me, e para cada um, o José Eugénio e o Fernando. O futebol não nos separa. Nem nos afasta do azul Joaquim ou do também verde Eduardo. Mas, hoje, o que aqui lhe trago, em breve registo, é a saudade do abraço, a vontade de brindar com um copo de vinho (branco), a alegria de o ver comer uma maçã assada e o prazer de um jantar em que brotam histórias e saltam as suas incríveis e reais estórias. E, no meio, aquele sorriso, por vezes, maroto que tanto nos faz bem. E não se esqueça que temos de realizar a adiada assembleia geral do movimento olímpico bem especial que o meu caro Amigo lidera com um entusiasmo que emociona e com uma dedicação que perturba. Como bem testemunhou, homenageando, o nosso Presidente da República. Temos jantar marcado, José Eugénio. Só falta acertar o dia. Mas temos de dizer a este vírus, em coroa, que somos mais fortes que ele, que sabemos resistir aos seus ataques e que, como pacientes e sofredores, sabemos que a vida vivida vale a pena. Um brinde meu caro! E um abraço virtualmente apertado deste seu Amigo. E, também, do meu Filho Alexandre. Que, como o José Eugénio, sabendo o que é a esperança, a vossa cor, nunca desiste! E não esqueça que o jantar está … quase na mesa. E como nos diz, num texto delicioso, Vinícius de Moraes «a gente não faz amigos, reconhece-os»! Bom regresso a casa!!! Santa Páscoa!