Semana 11 - Desconfinar

OPINIÃO24.05.202004:00

1 Onze semanas de confinamento, de resguardo, de resistência, de paciência. Onze semanas de muitas cautelas, de novas rotinas, de um novo normal que é, de verdade, uma normalidade nova. Onze semanas inundadas de números, de análises, umas doutas, outras interessantes e muitas, mas muitas, que nos levavam, de imediato, ou a mudar de canal  ou a desligar a televisão. Onze semanas a rever grandes jogos, momentos singulares, conquistas extraordinárias. Onze semanas em que a solidão se conjugou com a união, a resignação com a contemplação, a escrita com o destino, a generosidade com a solidariedade, a novidade com a vontade. Agora é o atípico regresso a ruas menos vazias, a restaurantes quase desertos, as esplanadas sem alma e as lojas desejando milagres. Agora tem de  ser a moral a superar o medo, a generosidade a vencer o desespero, o coração a ultrapassar a razão. Agora as verdades que nos transmitiram, com tanta insistência, levam a que a nossa retoma combine a timidez com a sensatez. E esta combinação é similar àquela que tem de articular pandemia com economia. E estas combinações vão chegar, apesar das clivagens que  se escutam, ao futebol que subsiste, ao futebol da nossa principal competição de futebol profissional. Entre nós - como em outros Estados e, logo, com outras ligas -, o futebol vai regressar logo no arranque de junho. O calendário foi fixado tendo em conta os operadores televisivos e, igualmente, a SportTV, onde eles, os  operadores, possuem uma participação dominante. O futebol pago começa logo a 3 de junho. Logo no princípio do mês. Argumentos relevantes para as operadoras e, também, argumentos determinantes para as SAD´s. Para todas elas, qualquer que seja a operadora titular dos respetivos direitos! Todos e todas com direitos e deveres, expectativas e necessidades. Bem urgentes. E a exigir este desconfinar! Para o regresso do pago e o fim do gratuito!

2 Ficámos a saber, assim, e após uma negociação que se antecipa como dura, o calendário dos jogos da nossa Liga. Parece que regressámos ao arranque da competição. E de 3 de junho a finais de julho teremos jogos quase todos os dias . Só não teremos jogos em nove dias e, aqui, em dois sábados e dois domingos. E só em dois dias teremos quatro jogos : a 4 de julho e a 14 de julho, dias em que respetivamente o Benfica recebe o Boavista e o Vitória de Guimarães. E também só em quatro dias é que Benfica e Futebol Clube do Porto coincidem: a 10 , 23 e 29 de  junho e a 9 de julho. E neste dia o Porto vai a Tondela e o Benfica a Barcelos defrontar o Famalicão. E, neste âmbito, importa registar que a grande maioria dos Estádios passou nos testes das autoridades de saúde. A Cidade do Futebol é a casa de Santa Clara e Belenenses SAD, Guimarães acolhe o Moreirense e, como referi, Barcelos o Famalicão. Para já daqui a dez dias volta o futebol em direto. Só em direto. Tudo o mais será similar ao que vamos vendo na liga alemã e, decerto, passaremos a ver ao longo dos próximos dias em outras ligas da Europa. Com a consciência que no calendário divulgado  só na trigésima jornada o Benfica joga num sábado (4 de julho) e o Futebol Clube do Porto no domingo imediato. Percebemos que os grandes vão jogar ao longo da semana e que os jogos das outras ligas - italiana, inglesa, espanhola e alemã, por excelência - se vão concentrar , ao que se crê, nos fins de semana. E, assim, a atratividade televisiva cresce e, acredito, e mesmo com o devido distanciamento, os restaurantes e as esplanadas vão ter razões para sorrir. Ou, pelo menos, para atenuar as dores agudas que estão a sofrer. É que a pandemia afeta, e muito, a economia. E não é o mero grito de  desconfinar que nos leva para a rua, para o restaurante, para o necessário consumo. Sendo inequívoco que este Verão regressará, e em força, um velho e profundo slogan: «Saia para fora, cá dentro!»  Diria, até, que o nosso lindo e acolhedor interior - de Marialva a Trancoso , de Sabrosa a Vidago , de Vila Nova de Foz Coa a Viseu, de Penalva do Castelo a Almeida, da Meda a Arouca , de Mangualde a Évora, do Redondo a Estremoz, entre tantos outros lugares de excelência - vai receber novos descobridores! E vão descobrir esses lugares e , acredito, vão regressar. No meio desta tormenta há esperanças que brotam!

3 Se na política doméstica há uma relativa convergência institucional, no futebol interno há uma clara divergência estratégica. Se na política há conformação entre os poderes principais, no futebol  há  ruturas entre as determinantes  influências. Se na politica doméstica em Ovar, como ontem vimos, os principais atores políticos se uniram com inteligência, no futebol interno só em São Bento, e numa sugestiva reunião com António Costa, houve maturidade para uma então urgente vontade comum. Parece que o regresso anunciado da competição principal não exige um compromisso efetivo para a sua conclusão.  Parece que há personalidades que já conhecem  o futuro próximo e que sabem, antes de outros grandes sábios do mundo, o que querem e para onde vão!  O que sei, o que tenho a certeza, é que não tenho certeza alguma. Mas sei que o futebol português  precisa da alma da competição e não necessita da busca de uma qualquer superioridade institucional. Na politica há responsabilidade clara da oposição, diria que  das oposições. No futebol parece haver necessidades de afirmação, de certas afirmações.   Quando o essencial é, mesmo que alguns ditos sábios o minimizem,  a conclusão desta  competição  que resta. A que resta, aliás, em termos de decisão política dos poderes  do Estado de Direito democrático. Acredito que nos próximos quinze dias na política doméstica se vai discutir, sem unanimismo, o necessário Orçamento suplementar. E que no futebol interno, em clara tensão estratégica, se vão contar as espingardas para a anunciada assembleia  geral extraordinária da Liga. Que ocorre logo a seguir ao processo eleitoral no Futebol Clube do Porto. E há, aqui, uma nova legitimidade e, pelo que escutamos, novos protagonistas, como Vítor Baía. Permitam, aqui, uma nota final, que é uma clara advertência para muitos e muitas. Uma carta para a Presidência da República não se perde. Pode ser obviamente ignorada,  direi  mesmo que  desprezada. Sem temores ou tremores. Clara e frontalmente. No mais sabemos bem que «não há maior vingança que o esquecimento»! E nada como voltar a estes temas. Em capítulos, diria que em fascículos. Já que não estamos amarrados a nenhum colete, nem a quaisquer coletes de forças! O comentário é um espaço de liberdade. Como nos ensinaram os Mestres, os grandes Mestres que já descobrimos, conhecemos, admiramos e respeitamos há largas décadas! E aqueles temas exigem mesmo que desconfinemos mais!  Mesmo mais!