Sem triunfalismos… mas com ligeiro e merecido gozo

OPINIÃO29.08.201904:00

UMA nota prévia, que está bem patente no título: o facto de o Sporting ir em primeiro à terceira jornada não significa absolutamente nada. Não dá nem tira razão a ninguém, salvo aos que se precipitaram a condenar este clube a nunca mais vencer o que quer que fosse, após a autêntica humilhação que foi a derrota por 5-0 no Algarve, na Supertaça, e a deficiente entrada no campeonato, com um empate frouxo com o Marítimo, na Madeira. Era o tempo de dizer que ainda não morremos e muito menos estamos enterrados. Agora é o tempo de dizer que os erros e as dificuldades não desapareceram. Um dia besta, noutro bestial, já se sabe que o futebol é assim; contudo, seja como for, espera-se um pouco mais de racionalidade na análise.


Com a novela Bas Dost encerrada (e reafirmo que, quanto a mim, mal gerida), com a novela Bruno Fernandes a poder sofrer evoluções a qualquer momento (e saúdo o poder mental do nosso n.º 8 para aguentar esta indefinição sem dar mostras de abalo), mais do que conseguirmos os mesmos pontos do que o Famalicão, à frente do Porto e do Benfica, ou seja o 1.º lugar da Liga, mais do que termos feito um bom jogo em Portimão, é justo dizer que ganhámos um jogador: Luciano Vietto.
Há bons e maus momentos para quem é profissional do futebol, como para qualquer ser humano, pelo que lamentavelmente já se apregoava que o jogador de 25 anos não valia o preço, ou não valia nada. Pois bem, em Portimão não só demonstrou o seu valor, como deu garantias que, a continuar assim, podemos ter ali um ídolo das bancadas de Alvalade. Um verdadeiro 10.
Ora isto, a somar à excelente exibição de Raphinha e à costumeira brilhante prestação de Bruno Fernandes (sairá, não sairá?), mesmo sem triunfalismo e sabendo que a qualquer momento (já no sábado, mas longe vá o agouro), podemos cair do pedestal, permite aos sportinguistas ter um ligeiro e merecido gozo por irmos à frente.

A janela
de mercado

José Manuel Delgado escreveu no editorial de ontem algo que é tão óbvio que não se entende como as autoridades do futebol não o implementam: o tempo das transferências devia fechar quando começa o campeonato, ou os jogos oficiais na Europa. Aliás, ele dá, e bem, o exemplo de Inglaterra, onde a possibilidade de comprar e vender jogadores terminou no dia 8 de agosto, o que contrasta com países como Espanha ou o nosso, onde à 4.ª jornada, com clubes que já têm quatro jogos internacionais (caso do Guimarães) ainda podem ser obrigados a comprar e/ou vender. A estabilidade das equipas ressente-se claramente desta balbúrdia. Voltemos ao caso de Bruno Fernandes, agora com o Real Madrid como hipótese… já ninguém aguenta! Mas também às promessas de um extremo e de um avançado com características diferentes das de Bas Dost… Meu Deus! Estamos a falar de três dias para concretizar (ou não) estas possibilidades e no meio de um mercado agressivo, onde tubarões, a qualquer momento, podem rapinar um jogador de outra equipa, desestruturando o trabalho que pacientemente se vem construindo.


Este mercado de transferências só tem paralelo com o poema do brasileiro Carlos Drummond de Andrade (por acaso intitulado ‘Quadrilha’): «João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.»
Se pensarmos nas implicações que têm as vendas de Pogba e de Neymar, em cascata, por aí abaixo, temos uma situação semelhante à do poema, incluindo ficar algum jogador numa equipa que nem sequer entra na história. Há um Waldschimdt para o Benfica, um Diaby para vender, um Paulinho para comprar, um Valência a querer Marega para substituir um Rodrigo… enfim, isto é uma mistura do velho mercado da Ribeira e do Bolhão, sem sequer uma ASAE ou Autoridade da Concorrência para controlar um pouco que seja o comércio.
Ou, então, como já estamos habituados, virão dizer que a culpa é dos jornais…

O senhor Bruno Lage

NO domínio do pouco compreensível está igualmente a forma como o Benfica jogou contra o Porto (ou a forma como o Porto obrigou o Benfica a jogar). Todos são unânimes na lição tática que Sérgio Conceição (que há 15 dias era quase um inútil) deu a Bruno Lage (que era um génio).


No entanto, manda a verdade dizer que o treinador do Benfica é, em qualquer circunstância, um cavalheiro da bola. Não perde a cabeça, não arranja desculpas, não se coíbe de dar os parabéns ao adversário. Já há, até, quem no clube da Luz o considere mole de mais. Se ser duro é fazer as figuras que alguns comentadores fazem (tanto do Benfica, como do Porto e até alguns, menos, do Sporting) prefiro mil vezes a serenidade de Lage, ou a de Keizer (que por ser estrangeiro e não dominar o português não tem as mesmas armas à sua disposição).
Depois de uma derrota mostra-se a verdadeira índole dos seres humanos. Não gostei do que vi em Sérgio Conceição, e espero que ele melhore essa sua faceta. Gostei, e muito, do que vi em Bruno Lage e espero que faça escola. No futebol há ganhar e perder. O que era estranho era Bruno Lage nunca ter perdido na Liga.


Em jeito de conclusão temos um campeonato a ameaçar ser renhido, sem esquecer o Braga, o Boavista, o Famalicão e o Guimarães (que tem um jogo a menos) e, ainda, quem sabe se outras surpresas, tudo está no início e não com mais de três pontos de diferença, claro. O grande teste este fim de semana é às 9 da noite em Braga, quando a equipa da casa (na altura já sabendo se passou à fase de grupos da Liga Europa) receber o Benfica. Mas antes, o Porto-Guimarães também não é um jogo fácil. E, já agora, o Sporting-Rio Ave, no sábado, e a deslocação do Famalicão ao Aves (que no outro jogo que já fez em casa despachou o Marítimo por 3-1) não podem ser tidos como favas contadas.
O que se deseja é que as arbitragens sejam mais claras. Por exemplo, em Portimão, aquela falta assinalada no meio campo a Thierry Correia que anulou o penálti cometido depois sobre Luiz Phellype é um processo muito duvidoso. Vi que os próprios comentadores-árbitros se dividiram. Porém, mais do que a doutrina invocada, que o princípio seja igual para todos, pois fica a sensação de que coisas destas só acontecem a alguns clubes.