São homens e não máquinas
Everton (Benfica), Paulinho (Sporting), Corona (FC Porto). São a tristeza a jogar nos seus labirintos. Precisam de encontrar a saída
NÃO são raras as referências a jogadores de futebol como sendo ativos do clube. É a narrativa financeira moderna. Tal como, hoje, se joga a segunda bola, se recua ou se adianta o bloco, se resolvem jogos nas entrelinhas. O futebol evolui e, com ele, a sua linguagem própria. Não é por aí que o jogo perde paixão.
O povo não quer muito saber disso. Não o preocupa. É como no tempo da missa em latim, podia não entender o que dizia o padre, mas o que lhe interessava era o fervor religioso e a devoção da sua santa ou santo de preferência.
O futebol também tem a sua religião própria. Tal como tem os seus santos e os seus diabos (por norma, os santos de outros). O problema é quando o Diabo veste Prada e joga no seu clube. Acontece, quase sempre, com os treinadores que não vencem e acontece, mais raramente, com jogadores que não atingem os níveis exibicionais mais esperados. Trazemos, aqui, três exemplos, de cada um dos chamados grandes clubes.
EVERTON, mais conhecido por Cebolinha, alcunha que ganhou, ainda no Brasil, pela sua parecença com o boneco de banda desenhada da Turma da Mónica. À chegada ao Benfica, em Agosto de 2020, parecia ser um investimento seguro. Jogador da seleção do Brasil, era considerado o melhor atacante do Grêmio.
Custou qualquer coisa como 20 milhões de euros, um valor que o obrigaria a chegar, ver e vencer. Não aconteceu. Everton tenta adaptar-se ao futebol europeu e esbanja talento na proporção direta em que perde liberdade. Difícil encontrar o novo foco. Saber defender com a disciplina de um cavalheiro de cidade e saber atacar com a insubordinação e o espírito de livre de um índio da Amazónia. Jesus bem tenta e as almas caridosas até experimentaram fazer esquecer o lado Cebolinha do jogador. Não se notam grandes resultados, além de uns momentos em que descobre o melhor de si.
Everton, 25 anos, custou €20 milhões
PPAULINHO. Um jogador que tinha golo da cabeça aos pés, quando jogava no SC Braga. Rúben lutou muito para o ter. Não apenas por marcar muitos golos, mas por jogar e fazer jogar e por ser, ainda, um verdadeiro treinador em campo. E isso tem sido. Ninguém vê o jogo melhor do que ele. No entanto, por ter custado 16 milhões de euros (apenas 70 por cento do passe), ou seja, uma fortuna para a bolsa do Sporting, naturalmente, que se exigem golos, o produto mais caro do futebol. No Campeonato, até agora, apenas um. Bonito, sim, mas solitário.
Aos 28 anos, Paulinho é um jovem triste. Nem ele percebe bem o que está a acontecer. Falta de confiança em si próprio, pois, mas que mais? Saudades do Minho?
CCORONA. De seu primeiro nome, Jesús. Do paraíso do título do melhor jogador do campeonato, que lhe dava um estatuto de ídolo no Dragão, a uma inesperada queda, que não passa despercebida ao seu exigente treinador, nem aos seus (antes) admiradores. Que se passa com o mexicano? Há quem explique a tristeza com o facto de se terem gorado as hipóteses de uma transferência milionária no final da época passada. Será essa a razão?
RÊS exemplos tão diferentes e tão iguais. Todos eles com um dado em comum: jogam, hoje, com uma indisfarçável tristeza. Como se explica? São homens e não máquinas. Têm sentimentos, frustrações, alma. São eles e os seus labirintos. É função do treinador ajudá-los a encontrar a saída.
E LEO MESSI CONTINUA TRISTE
Messi é o caso internacional, aqui escolhido, para completar o tema do lado. Dúvidas sobre se, de repente, deixou de ter as qualidades que fizeram dele um dos melhores do mundo? Nenhumas. Messi apenas estranha. A cidade mais cosmopolita do que a sua Barcelona, onde chegou na infância, as gentes, os modos, as relações dos adeptos com o clube e com os seus ídolos, menos intensas e, sobretudo, muito menos nacionalistas. O L’Équipe pergunta o que se passa com Messi. Apesar de génio, também ele é homem e não máquina.
PLANO DA ÉTICA PLANO DA VIDA
Sessão especialmente agradável na escola José Gomes Ferreira, com a entrega dos prémios do Concurso literário A Ética na vida e no desporto, que conta, há nove edições, com o apoio de A BOLA e de um conjunto de bons parceiros. Parabéns aos premiados, jovens que tiveram intervenções lúcidas e sensíveis. Parabéns, também, aos professores, especialmente os de Educação Física e de Português, que por todo o país têm mobilizado os seus alunos. Parabéns ao incansável José Lima, coordenador do Plano Nacional da Ética.