Rui Costa de olho nos rivais
Há uma vaga de fundo que pretende dar ânimo aos que ficaram para trás e prenunciar dificuldades imensas para quem segue na frente...
COM o país entretido a ver os jogos do Mundial do Catar fica-se com a ideia de o futebol nativo ter encerrado temporariamente para férias, o que não é verdade. A Taça da Liga vai fazendo o seu percurso e cada emblema, à medida das suas possibilidades e ambições, prepara-se para fazer correções nos plantéis durante o mercado de inverno. O costume.
Nesta altura, joga-se mais fora de campo, com todos a desconfiarem de todos, como se temporada desportiva como esta, nunca antes vista, e sem possibilidade de comparações, possa dividir-se em duas partes, desvalorizando-se a primeira já disputada, e encarando a segunda como se nada de significativo tivesse acontecido até agora. Percebe-se, por isso, a vaga de fundo que pretende dar ânimo aos que ficaram para trás e, em simultâneo, prenunciar dificuldades imensas, tempestades medonhas ou obstáculos inultrapassáveis para quem segue na frente...
O campeonato está parado e a grande questão que domina as conversas e divide opiniões tem a ver com a resposta que o Benfica dará após o recomeço da competição regular, persistindo a dúvida se a tendência vitoriosa será para manter ou se, por qualquer razão que não se enxerga, haverá o risco de uma quebra competitiva que abale a sua liderança na Liga, sustentada por apreciável vantagem pontual.
Ambos os cenários são admissíveis, como é natural, mas, pelos zunzuns que os meu ouvidos vão captando, parece haver quem, daqui em diante, adivinhe dificuldades infindas para águia, em contraposição aos rivais, que se sentirão abençoados pelos astros e destinados a fazerem bem o que até aqui fizeram mal.
ESTÁ tudo pensado. No recomeço, a 28 de dezembro, o Benfica vai a Braga e portistas e sportinguistas serão todos braguistas nesse dia. Duas semanas mais tarde, o Benfica recebe o Sporting e braguistas e portistas serão também todos sportinguistas. Se tudo correr de feição à falange antibenfiquista até pode acontecer que em meados de janeiro do próximo ano o campeonato dê uma volta e fique de pernas para o ar, ainda assim insuficiente para expulsar a águia do primeiro lugar.
Este cenário é possível, tal com o seu contrário, o Benfica ter sucesso na viagem a Braga e vencer no dérbi, da 16.ª jornada. Nesse caso, tudo continuará como está, embora como mais jornadas realizadas. Tanto poderemos chegar ao final da primeira volta com o Benfica pressionado por forte perseguição ou protegido por substancial margem pontual que lhe permitirá encarar a segunda volta do campeonato de forma responsável, sim, mas também com invejável serenidade.
Muito atento a estas correntes de ar, e preocupado com as suas consequências, Rui Costa, demonstrando que todas as oportunidades são boas para se falar de coisas importantes, aproveitou o torneio de sueca das Casas do Benfica para lançar um alerta vermelho, mais um, na presença de associados de vários pontos do país e que «vivem o Benfica de uma forma diferente» por não poderem visitar a Luz com a frequência dos que residem na área da Grande Lisboa.
«O nosso trabalho é fazer com que a família benfiquista esteja cada vez mais unida e tenha cada vez mais prazer no seu clube», afirmou, realçando que está a ser um ano positivo, é verdade, mas sem deslumbramentos porque, como sublinhou, nenhuma conquista foi alcançada.
O caminho é este e «as pessoas estão felizes com o que está ser feito», salientou Rui Costa, percebendo a necessidade de manter o universo benfiquista aglutinado e informado para compreender e relativizar as campanhas vindas de fora, inevitáveis, e que visam , tão-só, provocar ruídos no trabalho do treinador Roger Schmidt e dos seus jogadores. No essencial, foi essa a intenção da mensagem de Rui Costa, alertar e manter os níveis de confiança elevados, porque não é só o triunfo no campeonato que aparece inscrito na lista de objetivos desportivos para esta época. A recuperação do estatuto de grande clube europeu é talvez o mais importante de todos e também esse está bem encaminhado.
JOGADORES TEMOS
PORTUGAL tem hoje um jogo decisivo no Mundial do Catar, frente à Suíça. Acredito que a nossa seleção pode seguir em frente porque é formada por jogadores de enorme qualidade, não todos, evidentemente, mas quase todos. O problema é que, como muito bem escreveu Vítor Serpa (A BOLA deste domingo,) temos grandes jogadores, mas ainda falta uma grande seleção. Temos a seleção do selecionador, escolhida por ele, treinada por ele e com o pensamento dele.
Estamos-lhe gratos pelo título europeu de 2016, mas desde então marcamos passo apesar de dispormos de mais e melhores praticantes. Espero, todos esperamos, que sejamos capazes de vencer a Suíça e pular para os quartos de final. Temos jogadores para isso, e muito mais. Quanto ao resto, aguardo pelos esclarecimentos da FPF.