Ronaldo sem zona de conforto
Possíveis interessados não devem estar agradados com o que Ronaldo tem mostrado
RONALDO já saiu do Manchester United, mas o Manchester United ainda não saiu de Ronaldo. Já tinha dito que receava que um Cristiano sem clube em pleno Mundial poderia levar o craque a pensar mais em si próprio do que no sucesso de uma equipa com legítimas ambições a ser feliz, e é o que transparece. O recente caso de indisciplina, vendam-no como quiserem, é reflexo do que se passa em campo, com a agravante dos efeitos causados pelo avançar da idade, pela inexistência de pré-época e pelos jogos perdidos em Old Trafford, que poderiam tê-lo colocado num outro ponto de partida para o Catar.
Ronaldo rescindiu e pensou que a Seleção iria dar-lhe a zona de conforto de que precisava neste hiato entre clubes. O peso histórico que tem e a cumplicidade com o selecionador que melhor o aproveitou fizeram com que encarasse o Campeonato do Mundo como rampa de lançamento para a última etapa da carreira. Ronaldo, que conhece o próprio corpo melhor do que todos nós conhecemos o nosso, foi traído precisamente pelo que desconhecia: nunca tinha passado por uma situação como esta, que o coloca, num momento crucial, sem argumentos para se aproximar do que já foi e ainda acha que pode ser.
Apesar das dificuldades, Ronaldo tem de mostrar-se paciente. Tem de mostrar ao mundo que está de bem consigo próprio. Tem de fechar com um sorriso nos lábios o capítulo United, de onde, reflita-se, não saiu bem na fotografia. Para já, os possíveis interessados na sua contratação não devem estar agradados com o que veem em campo, e como interage com colegas e treinador. E se já tem clube e apenas o desconhecemos, o futuro técnico deve já estar a pensar no que se vai meter.
Ronaldo é e será uma lenda, ponto. No entanto, até pelo legado que deixará, deveria ter mais respeito por si próprio.