Refletir para evoluir

OPINIÃO09.10.201804:00

O futebol moderno está diferente. O acerto das decisões já não depende apenas daquilo que três ou quatro homens conseguem ver, no meio de suor, braços e pernas, de vinte e dois jogadores.

Hoje, a justiça do jogo assenta, também, naquilo que um outro, tecnicamente qualificado e teoricamente preparado, consegue aferir, através dos meios que tem à disposição.

Por isso, o paradigma mudou. A introdução da videotecnologia fez disparar as expectativas e diminuir, drasticamente, o grau de tolerância. E isso, de facto, faz todo o sentido. O que agora se espera é que, em determinados lances, a decisão seja sempre boa.

Passada a fase de testes e em pleno funcionamento, é justo afirmar duas verdades distintas: que a tecnologia, em si, é fundamental e inevitável, porque ajuda a trazer mais justiça e verdade ao jogo; que o seu sucesso depende, direta e inequivocamente, de quem a utiliza em sala (VAR) e de quem a aplica no terreno (árbitro).

Nesta medida, algumas conclusões tornam-se então evidentes:

- Os meios tecnológicos, per si, raramente falham (duas quebras pontuais até à data, em centenas de jogos, correspondentes a milhares de minutos);

- Quem opera o sistema e quem é responsável por decidir em campo nem sempre toma as melhores decisões. Pelo menos, aquelas que (nalguns momentos) todos esperam e desejam. Todos sentem e intuem. Importa perceber porquê.

Estamos no interregno do campeonato e este é o momento oportuno para parar e refletir. Afinal de contas (e sem prejuízo de várias boas decisões verificadas até à data), porque motivo certos lances, que o mundo espera que tenha apenas uma só decisão, têm outra, diametralmente oposta?

Será que é apenas uma questão de sensibilidade para a função (ou, nesses casos, falta dela)? Será que a letra do protocolo é de aplicação prática difícil, complexa? Será que os videoárbitros estarão agora a passar por aquilo que passam os jovens árbitros, que é aplicarem a letra restrita da lei, sem terem em conta a sua essência e espírito, no fundo, o bom senso, a sua dimensão mais importante? Será que há fatores de ordem humana/psicológica (assertividade, coragem, independência), que dificultam todo o processo? Será apenas uma questão de competência? Será que esta função só melhorará com o tempo, com o aumento da experiência prática?

Qualquer que seja a resposta, a solução só pode ser uma: continuar a preparar, continuar a trabalhar, continuar a aperfeiçoar. Trabalho, trabalho, trabalho.

Os VAR têm de ter treino especializado, porque essa é uma função especializada. Devem continuar a preparar-se teoricamente (lendo e relendo continuadamente as leis de jogo e o protocolo), devem ver o maior número de lances e discuti-los entre si (para treinar exaustivamente a tarefa), devem simular situações através da observação de jogos ao vivo. Devem ainda trabalhar as suas competências pessoais, de forma a tomarem a decisão certa, no momento certo e da forma certa. Devem continuar a sua aprendizagem de analisar lances via TV, porque as imagens que os ecrãs transmitem são diferentes das que veem em campo. São diferentes na perspetiva, intensidade, dinâmica.

É um trabalho contínuo, ininterrupto, de pura sistematização, rumo ao aperfeiçoamento total, à excelência.

Como um dia disse Gary Player: «The more I train, the luckier I get.» Não é à toa.

A repetição é maior amiga do sucesso.

Não há outra maneira, não há outro caminho.