Recomendações para a nova época

OPINIÃO02.08.202206:30

Embora não pareça, às vezes a punição é mesmo a prevenção que melhor funciona no futebol

TAL como sempre acontece por esta altura, os árbitros de topo receberam, durante o seu curso de início de época — que teve lugar há pouco mais de uma semana, na Cidade do Futebol —, um conjunto de diretrizes relativas à forma como devem lidar com determinadas situações de jogo.

Regra geral, essas instruções resultam da análise de falhas detetadas em anos anteriores ou da leitura de lances que, segundo quem tutela, merecem especial atenção e correção.

A ideia, no fundo, é uniformizar critérios e aplicar a regra de forma clara e firme, ajuizando da forma que o futebol espera.

Para esta temporada, o Conselho de Arbitragem da FPF privilegiou um conjunto de recomendações que devem merecer especial atenção não só de todos os que estão diretamente envolvidos no jogo — os clubes já terão recebido essas indicações da própria estrutura —, como também da imprensa desportiva, que pode assumir papel importante na passagem destas informações aos seus ouvintes, leitores e telespetadores.

Por aquilo que foi dado a perceber (e isso após contacto direto com vários árbitros no ativo), uma das situações que mereceram particular atenção estará na forma como os árbitros devem lidar com comportamentos considerados excessivos e que sejam protagonizados por elementos dos bancos técnicos. A ideia é a de aplicar o princípio da tolerância zero. Bem, muito bem, na minha opinião. A exaltação pontual ou a crítica em tom de desabafo são perfeitamente aceitáveis e compreensíveis num contexto emocionalmente difícil de gerir; a má-educação constante, os levantamentos de rancho e a coação ostensiva, ao estilo de todos em pé e toca a pressionar, não! Vermelho direto para todos os que insistirem em comportar-se como garotos quando a obrigação, até pelo exemplo que representam, é exatamente a contrária.

Para além disso, foram também dadas instruções claras para as equipas de arbitragem continuarem a combater as perdas de tempo desnecessárias (nalguns casos, deliberadas), como as que geralmente ocorrem em algumas reposições de bola por parte dos guarda-redes, substituições e assistência a jogadores lesionados. Os árbitros devem compensar, sem medos e com sentido de justiça, o tempo que entenderam ser perdido de forma ostensiva.

Nota ainda para o cuidado que devem merecer as entradas que coloquem em risco a integridade física dos atletas. A lei é clara e refere que qualquer ação dessa natureza, que possa causar lesão grave a um adversário, tem que ser sancionada como falta grosseira (cartão vermelho), ainda que não exista malícia para lesionar. Aí, fatores como a velocidade, intensidade, força exercida e risco real de lesão serão igualmente equacionados.

Por último, foi também focada a questão de punir convenientemente as quedas interpretadas como simulações claras (porque configuram batota deliberada, ludibriando árbitro, jogadores e por vezes até adeptos) e a da necessidade de se atuar, com maior firmeza e rigor, nas situações de conflito entre jogadores, durante e após o final dos jogos.

Tudo bate certo com aquilo que se viu num passado recente e que se pretende que seja evitado. Embora não pareça, às vezes a punição é mesmo a prevenção que melhor funciona no futebol.