Quem marcar, ganha
João Neves e António Silva, respetivamente médio e central do Benfica (IMAGO / HMB-Media)

OPINIÃO Quem marcar, ganha

OPINIÃO24.02.202401:26

O beijo de António Silva em João Neves podia ter sido o beijo de todos os que gostam de futebol. E de pessoas

João Neves decidiu ir a jogo na quinta-feira, em Toulouse, para a Liga Europa, depois de ter dito adeus à mãe, que morrera na madrugada de segunda-feira. O médio do Benfica enfrentou com coragem o adversário francês e só no final do desafio soltou as lágrimas, enquanto agradecia o apoio dos adeptos nas bancadas.

Tem apenas 19 anos, mas em Toulouse, num jogo que certamente foi muito duro para ele, terminou 0-0 e foi até de profunda desinspiração para a equipa (que seguiu em frente na competição, graças ao 2-1 que levava do Estádio da Luz), João Neves voltou a mostrar que é uma das maiores referências desta equipa, do Benfica atual e para todos os que gostam de futebol. Porque não é apenas um jogador de futebol. Ele lembra-nos porque é que nos apaixonámos por este desporto e ajuda-nos a acreditar que há esperança além do produto em que foi transformado para alimentar uma máquina que tritura emoções e pessoas.

A alegria de João Neves a jogar transporta-nos para a rua onde crescemos e fizemos tantos jogos com tantos amigos e agora, quando lá voltamos, parece impossível como couberam ali. João Neves parece um menino feliz com a bola nos pés como nós fomos e é fácil sentir nele o que sentíamos quando as horas passavam ao ritmo dos remates, das fintas, dos cortes, até ser quase de noite e só haver tempo para um último lance e um conclusivo ‘quem marcar, ganha’, porque a janta estava na mesa.

João Neves é João Benfica e é João Futebol. E neste jogo em França comoveu-me. Não pelo drama dele, mas por me fazer sentir lá e principalmente por me fazer lembrar que há coisas na vida mais importantes do que o futebol mas que o futebol foi, é e sempre será das mais importantes da minha.

Há um futuro promissor à espera de João Neves e ele mostra ter as competências para o agarrar, mas desejo que consiga continuar a jogar com a mesma paixão.

O beijo que o companheiro de equipa e amigo António Silva deu em João Neves no final do jogo de Toulouse é o beijo que ele merece de quem gosta de futebol. E de pessoas.