Que andarão eles a beber?...

OPINIÃO11.05.201904:00

Jurgen Klopp, do alto da sua renovada autoridade, depois de ter embasbacado o mundo com aqueles quatro a zero ao Barcelona e a respetiva qualificação para a final da Champions, ataca a decisão dos «homens» da UEFA que marcaram a final four da Taça das Nações, onde jogará Portugal, a Suíça, a Holanda e a Inglaterra, para poucos dias após a final da Liga dos Campeões. Klopp não foi meigo: «Que será que andam a tomar estes tipos, para tomarem decisões destas?» - perguntava, com toda a ironia do mundo, o mediático treinador alemão.
Se Klopp vivesse e trabalhasse em Portugal, coisa que apenas se pode conceber no domínio da mais arrojada ficção, diria o mesmo dos homens que decidiram marcar os jogos destas últimas jornadas do campeonato, desemparelhando o calendário das equipas que dependem uma das outras, dando óbvias vantagens a algumas e evidentes desvantagens a outras.


Há, de resto, no futebol português e no futebol internacional, um problema sério de gestão desportiva. Há quem pense tão exaustivamente no valor absoluto do dinheiro, que se esquece do valor superior do futebol e dos seus principais protagonistas: jogadores e treinadores.
De facto, marcar um campeonato do mundo para o Catar e só depois discutir em que mês do inverno europeu se poderá jogar; marcar uma prova oficial das nações europeias para cinco dias depois da final da mais importante competição europeia de clubes; ou transgredir na equidade de condições das jornadas decisivas de um campeonato, são decisões que ninguém pode sustentar numa base de seriedade e competência.
Há, realmente, um problema complexo do dirigismo desportivo no mundo e não será exclusivo, sequer, do futebol. Daí que, do meu ponto de vista, a única solução viável para estancar a subversão de valores e princípios de natureza desportiva seja o se incluir, a título permanente e com qualidade de veto, comissões técnicas eleitas por treinadores e por atletas profissionais.


Não vejo melhor solução, mesmo num quadro, obviamente desejável, de uma modernização e requalificação dos sistemas reconhecidamente viciosos e viciados, onde continua a assentar a eleição das presidências e de todas a equipas de gestão e administração dos organismos de liderança do desporto de cariz associativa.


Não esqueço que entidades como a  FIFA e a UEFA, a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga têm nos seus quadros antigos futebolistas e treinadores. Mas a questão relevante é a de considerar a verdadeira importância do conhecimento e da experiência de quem está no terreno e não tem vínculo contratual, ou outro, com a entidade que lidera, que gere e que decide.  


É óbvio que Klopp tem toda a razão na crítica que faz à UEFA. Talvez não se suspeitasse que, este ano, duas equipas inglesas estivessem na final da Champions e que outras duas equipas inglesas estivessem na final da Liga Europa. Mas aconteceu e, agora, teremos, necessariamente, pela frente, um problema que não tem solução. A seleção de Inglaterra, que vai contar com uma parte muito significativa de jogadores finalistas das provas europeias, não tem tempo, nem espaço para preparar a equipa para uma prova rápida, mas exigente.


Penso, sinceramente, que o futebol, em particular, e o desporto, em geral, teriam muito a ganhar se nas diversas federações e associações atletas e treinadores tivessem assento em comissões com voto deliberativo nas questões de natureza técnica, quer seja referentes ao jogo e à sua evolução, quer seja no que respeita aos modelos e regulamentos de competição.