Processo de treino
Ao longo dos anos ouvimos sempre críticas, positivas ou negativas, sobre as alterações que vão surgindo no processo de treino das equipas. Quando iniciei o meu percurso, nos anos setenta/oitenta, o planeamento semanal era feito normalmente de domingo a domingo, dia de jogo. A excepção eram as equipas que participavam nas competições internacionais, mas com um número de jogos inferior ao que temos actualmente.
A norma era folgar à segunda-feira, recuperar à terça, dias mais intensos à quarta e quinta-feira, sendo que o treino de conjunto era realizado neste último dia, sexta para dar atenção às bolas paradas e outras questões estratégicas, e ao sábado a nossa grande peladinha. Nessa altura, poucos treinadores alteravam este microciclo. Repetir os exercícios não era bem aceite por muitos jogadores, a excepção era a finalização. O processo defensivo estava claramente descurado. Fomos evoluindo na abordagem ao jogo, melhorámos as nossas capacidades, e não só as físicas, atingimos níveis de rendimento superior, com os resultados que se conhecem.
Hoje, vivemos uma outra realidade, mais complexa na minha opinião. Os jogadores têm uma oferta exterior ao clube, desde a comunicação, ao treino das capacidades físicas, a avaliação de desempenho, agenciamento de carreiras, apoio emocional e psicológico, que, em muitos casos, entra em conflito com o que se pratica nos seus clubes. Claro que os clubes têm capacidades diferentes, e estes apoios, que começam como complementares acabam, por vezes, a serem o primeiro suporte do praticante, em virtude da falta de resposta da estrutura do clube.
Estas questões obrigam os treinadores, e todo o staff de apoio, a terem um relacionamento diferente com os seus próprios jogadores. Torna-se fundamental saber o que se trabalha dentro e fora do espaço da equipa, e como se trabalha. Os próprios jogadores têm que ser educados para conseguirem rentabilizar esta nova realidade.