Prémios e castigos de toda a espécie
1 - Entre os muitos galardões planetários (ou quase) para os melhores do futebol - tantos que, confesso, preciso de uma cábula para os distinguir entre o ‘melhor do Mundo’, o ‘Bola de Ouro’, ou outros similares, afins e correlativos - tivemos, agora, o que creio ser o último prémio do ano. Sem surpresa, ganhou o médio croata Luka Modric, em consonância com troféus recebidos nos cerimoniais anteriores.
Deixando de lado o portuguesismo de trazer por casa, gostei da atribuição deste ano. Em primeiro lugar, porque estancou a hemorragia de discussões patrioteiras ou interesseiras do duo Ronaldo/Messi, já difícil de suportar depois de mais de uma década (aliás, justificada) de ora ganhas tu, ora ganho eu, eu ganhei mais do que tu, tu ganhaste menos do que eu… Em segundo lugar, porque este ano o critério não se limitou a avançados, como estava a ser a regra intransponível. É que todos os outros lugares numa equipa têm sido menorizados no restrito pódio dos eleitos e dos ungidos, dando a ideia de que o ‘football association’ que ainda sendo futebol ou ludopédio, até parece que já deixou de ser associativo em que todos têm o seu contributo, marcando, defendendo, construindo, destruindo. Há muito tempo um atleta, que não propriamente um goleador, não vencia. Jogadores houve nos últimos tempos que foram injustamente eclipsados pelo duo luso-argentino, só porque não jogam à frente. De repente, lembro-me dos geniais Xavi Hernández e Andrés Iniesta, ou dos icónicos guarda-redes Gianlugi Buffon e Manuel Neuer. Em terceiro lugar, porque, no caso de Modric, era a última oportunidade para este jogador de 33 anos alcançar o merecido tributo, pelo seu talento, inteligência e capacidade, seguindo o seu caminho sem alardes de vedeta, sem estilo metrossexual, com exemplaridade, trabalho e humildade incompatíveis com os egos e tiques de vedetismo. Um rapaz simples, casado e pai de 3 crianças, refugiado com os pais aquando da tenebrosa guerra dos Balcãs, e que soube chegar ao topo sem deslumbramentos tontos.
Messi teve uma época longe do seu apogeu, seja em termos individuais, seja em termos colectivos (Barcelona e Argentina), ainda que tenha ganho a ‘Bota de Ouro’ para o melhor marcador das ligas europeias. Ronaldo acompanhou Modric na conquista europeia e mundial do Real Madrid, mas foi superado por ele no Mundial onde a Croácia, pequeno e fustigado país, alcançou o título de vice-campeão. Ora, se se tem dito que um critério fundamental para se ganhar o ceptro é o das conquistas dos clubes ou selecções onde os candidatos se inserem - lógica que, contudo, eu não acompanho - temos de convir que o croata foi melhor.
Por último, dois aspectos pouco simpáticos relacionam-se com Ronaldo e seu séquito. De novo, o nosso compatriota não foi à cerimónia de atribuição dos galardões. Foi pena, porque daria um bom exemplo de como um grande e crónico ganhador também sabe estar ao lado de um colega de profissão que alcança o tão almejado prémio. Acresce que, neste caso, até foram companheiros no mesmo Real Madrid, durante a temporada que esteve na base da escolha. Entretanto, o por vezes tonitruante clã Aveiro vociferou nas redes sociais, não disfarçando o tique exclusivista do prémio e destilando, entre impropérios indignos de quem se quer dar ao respeito, sentimentos de ressentimento e inveja. Ainda que noutros termos um pouco mais urbanos, o seu empresário Jorge Mendes também achou por bem bater nos votantes, considerando a decisão ‘pura e simplesmente ridícula’. Os mesmos, ou quase os mesmos votantes que atribuíram (e bem) vitórias a Ronaldo são agora acusados de impreparação ou de manipulação. Tudo isto acicatado por uma mediatização exponencial como se estivéssemos a tratar de uma questão de soberania nacional…Valha-nos Santa Engrácia!
2 - Se dúvidas houvesse, estão a desvanecer-se à medida que o campeonato prossegue. Os casos que têm envolvido o Benfica estão a frutificar abundantemente no julgamento dos árbitros dos jogos dos principais rivais. Num ponto, Porto e Sporting estão irmanados na convergência dos benefícios arbitrais sobre penáltis ‘au moment’ ou ‘à la carte’. De um lado, o FCP que, jogando bem ou jogando mal, parece seguro de que assinalar-lhe um castigo máximo é coisa que não passa pela cabeça dos árbitros e, muito menos, pelos indigentes VAR. De outro lado, o SCP beneficiando da gentileza de penalidades a seu favor, tão discutíveis quanto invisíveis, em momentos-chave dos encontros e, que por isso, se têm revelado fundamentais para o seu desfecho. Ou seja, a uns perdoam-se faltas, a outros faltas se imaginam.
Vejamos alguns exemplos: contra o Boavista (que, em boa verdade, também deveria ter sido disciplinarmente mais castigado), um penálti que todos os especialistas de todas as tendências clubísticas entenderam ter sido subtraído aos homens do Bessa a menos de um quarto de hora do fim e com o jogo empatado. Na última jornada, a situação ainda foi mais escabrosa. Manuel Mota, que ainda tem na cabeça as ameaças e pichagens no seu talho ou no restaurante de um familiar, não viu, ali mesmo em frente dos olhos, uma falta clamorosa de Felipe (sempre ele) sobre Nakajima (nem quis ir vê-la no ecrã!), enquanto o VAR deve ter tido 0,000000001% de dúvida pelo que, segundo o famigerado protocolo, se inibiu de ter 100% de certeza do penálti. É bom lembrar que, ainda que com muito tempo de jogo, o Portimonense poderia ter chegado aos 2-0 a seu favor. Folha, portista e treinador deslocado no Algarve, nada achou de estranho. Tudo boa gente, abraços e beijos no fim. Imagine-se na Luz cena idêntica com o dragão Folha. E, como de costume, o dedicado relator da Sport TV e o grande Lobo passaram pelo caso exemplarmente, como se nada houvesse a comentar…
Quanto ao SCP, como atrás disse, trata-se de árbitros inventarem penáltis. Assim, teve mais dois pontos no expirar do tempo contra o Chaves em Alvalade por causa de uma penalidade que fica para a história desta competição. É que, além da bola já estar nas mãos do guarda-redes flaviense, Bas Dost - o putativo jogador carregado - e os seus colegas nada protestaram, nada viram, nada sonharam, nem sequer esboçaram uns bracinhos no ar. Veio do céu tal dádiva! Na jornada anterior um lance, um pouco mais duvidoso é certo, originou outro penálti forçado quando, a meia hora do fim, o Santa Clara vencia por 1-0. E estatisticamente, as coisas, pouco a pouco, vão tendo algum significado: o SCP já é a equipa com mais penáltis a seu favor (6) e a única sem nenhum contra.
Em suma, eis a regra dos 100% de certeza (ou incerteza) em todo o seu esplendor arbitral e VAReiro, quem sabe se originado por poderes ocultos (e sem e-mails)?
3 - O Benfica venceu num campo tradicionalmente difícil, o do Vitória Futebol Clube. Jonas encarregou-se de assegurar a vitória, mas o jogo foi de um grau de beligerância dispensável. Faltas, faltonas e faltinhas a todo o momento, árbitro às aranhas sem um critério disciplinar que se compreendesse, um golo genial de Zivkovic anulado por indigência do fiscal de linha, um Benfica que continua a soluçar num pára-arranca que é difícil entender. Seguem-se agora dois jogos que poderão ser muito importantes para os 2/3 do campeonato por realizar (embora lendo certos textos, até parece que já estamos quase no fim, com consagrações bem prematuras). Refiro-me a um novo jogo fora de casa, com o Marítimo de Petit e, nas vésperas do Natal, na Luz, o confronto com o Sp. de Braga. Esta quarta-feira, uma partida europeia que não é apenas para cumprir calendário europeu: Benfica-AEK, onde estão em jogo 2,7 milhões de euros e uma limitação de danos no ranking.