Possessos e mais

OPINIÃO21.06.202004:00

EU sei que o futebol é mesmo assim - e por ser mesmo assim é que Pepe Sásia, estrela do Peñarol que ganhou a Taça Intercontinental ao Benfica de Guttmann, o confessava:


- Atirar terra aos olhos do guarda-redes adversário? Oh! Os nossos dirigentes não gostam que a gente faça isso… quando a gente faz isso às claras.
Pior é que o futebol se foi tornando pior ainda, mostrando, em si, o pior de Os Possessos do Dostoiévski, romance onde demónios entram pelas gretas de almas em dissolução - e descobrem:  
- O fogo não está nos telhados da festa a arder, está na cabeça das pessoas.
Lá, no romance, há o rapaz que se inclina, reverente, ao seu governador e  lhe arranca, sorrateiro, metade da orelha - e ao sabê-lo, fica o povo a matutar em justificações, sem que a ninguém ocorra que, afinal, a dentada fora apenas loucura! E ainda há falsos profetas nos seus embustes, crápulas e psicopatas - e alguém a admiti-lo, no seu despudor:


- Todos os meios são justificáveis para se atingirem os fins da revolução…


Por isso é que, vendo o que sucedeu a Nuno Santos após a expulsão com o Benfica, foi em Os Possessos que eu pensei, não foi no Umberto Eco a revelar:
- As redes sociais deram direito à fala a legiões de imbecis que, antes disso, se ouviam pelas tabernas depois de taças de vinho, sem causarem danos à comunidade. Mandavam-nos calar, calavam-se - e agora não, sente-se no mesmo direito à fala que um Prémio Nobel. É o drama da Internet: promoveu o idiota da aldeia a portador de verdade…


E foi em Os Possessos que eu pensei porque, no que vi nas redes sociais não vi só idiotas e imbecis - e ainda lá vi, também, Fábio Martins num grande golo:
- A maior doença em Portugal não é a Covid-19, chama-se clubite aguda e o pior é que esta, não tem, nem nunca terá cura.
(Já agora: sem a vacina para a clubite, o paracetamol podia ser fazer-se  aos departamentos de comunicação que incendeiam o futebol o que, no Umberto Eco, se fazia aos bêbados nas tabernas...)