Portugal e um Brasil europeu
Paradigma de um modelo mais europeu está a ser criado por Abel Ferreira
NOS próximos anos, podemos assistir a uma transformação profunda do futebol brasileiro, muito marcado, a partir de metade do século passado, pela figura do mulato malandro, o irreverente inventor do futebol-arte que desafiou as amarras da disciplina e da tática, conquistou adeptos por todo o mundo e, não menos importante, ergueu cinco taças de campeão do mundo. O malandro da ginga e da finta de corpo, da criatividade e da fantasia, geradas pela obrigação de ultrapassar mil e uma adversidades dentro e para lá das quatro linhas, há muito que não faz a diferença, sobretudo em contextos mais exigentes. Sem ganhar um Mundial desde 2002 e com eliminações sucessivas em fases finais aos pés dos europeus França (2006), Países Baixos (2010), Alemanha (2014) e Bélgica (2018), fechado durante muitos anos ao estrangeiro - tal como aconteceu década após década com a mãe do futebol Inglaterra - e também menos alimentado pelas ruas, o produto brasileiro estagnou.
Agora, finalmente, a curva promete voltar, em breve, a ser ascendente. O que parecia impossível, é hoje realidade. Há, pelo menos, uma equipa brasileira a jogar à europeia, com a constante procura do encurtamento do espaço em situações sem bola, pressão de altíssima intensidade perto da baliza contrária e constante verticalização do jogo, a fim de torná-lo mais objetivo e contundente. Não surpreendo ninguém quando vos digo que essa equipa é o Palmeiras, é treinada por Abel Ferreira e mostra-se forte candidato ao título nacional após duas Libertadores no bolso. O novo paradigma está criado, o sucesso trará naturalmente imitadores e rivais a elevar o nível de intensidade mental (o único que interessa) para anulá-lo e, acredita-se, poderá dar a força necessária para que o Brasil, sempre candidato, se aproxime mais do hexa. Com continuidade.